Triunfo crescente

Em dezembro de 2019, estampamos na capa da RAÇA Brasil o primeiro especial de Natal da TV brasileira, protagonizado por uma família negra. Aos 25 anos, Cleissa Regina Martins, autora do especial, é a primeira roteirista negra a ter um projeto autoral na TV Globo. Por “Juntos a Magia Acontece”, criado e roteirizado por ela, concedeu-lhe a indicação na categoria de Roteirista do Ano no 4º Prêmio ABRA (Associação Brasileira de Autores Roteiristas). Ela é a concorrente mais jovem em três edições da categoria.

“Saber que meu projeto foi relevante na visão dos meus colegas de profissão é bem importante, ainda mais sendo indicada ao lado de profissionais que eu admiro. Eu fui muito cuidadosa escrevendo e acho que essa indicação reconhece esse trabalho que, para além de representatividade, teve qualidade técnica”, ressalta Cleissa.

Como representante do GT de Equidade Racial da Associação Brasileira de Autores Roteiristas, ela é formada em Ciências Sociais pela UFRJ. Cleissa deu o pontapé no projeto que a levou à TV Globo em 2017, quando participou do Laboratório de Narrativas Negras da FLUP. Atualmente a escritora, está na emissora como autora-roteirista, colabora em “Malhação – Transformação” (Priscila Steinman e Márcia Prates, 2022) e numa série de ficção.

Criada em Magalhães Bastos, na Zona Oeste do Rio de Janeiro, Cleissa destaca a importância de sua vivência periférica. “Eu andei muito de trem e conheci bastante a cidade. Estudei no Colégio Pedro II e esse ensino público de qualidade construiu parte do meu capital cultural”, pondera ela que, na fase acadêmica, fez dois intercâmbios, incluindo uma temporada no Canadá para estudar cinema. Contudo, seu caminho na sétima arte começou a ser delineado em 2014, num curso de cinema no Centro Afro Carioca.

“Quando conheci a figura do Zózimo Bulbul revi minha relação com a ficção. Antes, achava que só o documentário era político e ficção era entretenimento. Ali comecei a pensar nessa questão de um audiovisual negro e vi que também era importantíssimo”, relembra.

Próxima parada: a moda

A paixão pela moda colaborou no desejo de desenvolver uma nova série para a TV Globo, sobre a inserção dos jovens negros nesse mercado.

“A moda é muito elitizada, uma área em que sinto falta de representatividade e sei que é bem difícil para as pessoas negras entrarem e se manterem. Então me interessa saber quem está conseguindo furar essa bolha e como estão fazendo isso. Acho que no audiovisual faltam coisas leves com personagens negros em posições dignas. Quero muito fazer uma comédia romântica, filmes de comédia pra família toda, para além dos dramas de temas mais pesados. Queroemocionar e contar boas histórias – com protagonistas negros

e de um ponto de vista negro – mas espero realmente ter a liberdade de colocar a arte em primeiro lugar, porque ach que isso é negado para a gente também”, finaliza.

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