Um passo além do antirracismo

Por: Théo Van Der Loo

[TEXTO EDIÇÃO 215]

Em uma das edições da REVISTA RAÇA, fiz uma reflexão sofre a frase histórica de Angela Davis: “No mundo racista não basta ser não-racista é preciso ser antirracista”. Com certeza, se no Brasil houvesse mais antirracistas militantes, não-negros, em posições de poder, teríamos avançado muito mais como sociedade nestes anos após a Lei Áurea. A meu ver um movimento antirracista permanente é essencial. Qual seria o próximo passo? Gosto do sufixo PRO que transmite uma conotação positiva. Devemos usar mais pro-inclusão e pro-diversidade, além de pro-redução da desigualdade. O sufixo PRO representa ação, seguir adiante, avanço, agir em favor de alguma causa.

Especialmente em meio a Covid-19, foi preciso sermos ainda mais proativos, pois existe o grande risco de perdermos o embalo em torno do tema Inclusão e Diversidade. Possivelmente as iniciativas a favor da igualdade
racial correm o perigo de serem “estacionadas”, colocado em “banho-maria”. Seria lamentável. Inclusão e diversidade têm um impacto positivo sobre o negócio, tanto no ponto de vista estratégico como motivacional para os empregados. As empresas que mantiverem e fortalecerem às iniciativas já em andamento, colherão melhores frutos. Faz-se necessário dar a este tema a mesma importância que damos ao “Compliance Corporativo”. Chamo de “Compliance Moral ou Social”. As empresas investem enormes recursos financeiros, de pessoas e em sistemas de controle, visando assegurar o “Compliance Corporativo”. Às vezes tenho a impressão de que não estão dispostos a investirem genuinamente na questão da Inclusão e Diversidade, colocando poucos ou nenhum recurso à disposição. Além disso, muitas vezes em momentos de corte de verba, estas iniciativas são as primeiras a sofrerem reduções. Um dos aspectos da pro-inclusão é a contratação de profissionais negros. Conversando com o CEO de uma multinacional de RH, sugeri que aos candidatos fosse permitido incluir no seu currículo e perfil eletrônico, como Linkedin, informações que facilitassem as atividades em torno da pro-diversidade. Indicar no seu perfl se é PCD, negro, LBGT, gênero, idade etc. Desta forma as empresas de recolocação, teriam maior facilidade em criar uma base de dados pro-diversidade.

A resposta padrão seria que, sob o ponto de vista jurídico, isto não seria permitido, pois poderia ser usado para discriminar contra, por exemplo, o “homem branco heterossexual não-PCD”? Como podemos ser proativos se o modelo padrão é deixar praticamente tudo como está? Se existe um sistema de cotas nas universidades, também deveria ser possível implementar outros métodos para facilitar a busca e contratação de candidatos afro-brasileiros.

Se o entrevistador final, o que decide a contratação do profissional, “discriminar”, consciente ou inconscientemente de qualquer jeito, não seria melhor fazê-lo no início do processo? Pouparia muitas frustrações, principalmente àqueles frequentemente descartados, muitas vezes sem motivos muito evidentes. Especificando no perfil do candidato, se ele ou ela é negro ou negra, as empresas teriam mais facilidade em encontrar
talentos que estão em busca de oportunidades e não de favores. Dificultar este tipo de proatividade, através de leis e justificativas jurídicas é, na prática, permitir e a perpetuação do modelo existente, sustentando a desigualdade. Muitas vezes usamos a razão para justificar algo que sabemos, bem no fundo, que não é justo!
Em janeiro deste ano, um grande banco de investimentos Norte Americano anunciou que, a partir de 2021, não apoiará mais IPO’s para empresas que não tenham mulheres no conselho. Acredito que muitos pensarão em mulheres brancas (modelo padrão). A probabilidade desta mulher, no conselho, ser negra é remota. Por que não tomar uma mesma atitude para incluir negros no conselho? Espero que muito em breve o uso da Inteligência Artificial possa ser aplicado para identificar profissionais negros, vasculhando o universo digital, programado
para a criação de um banco de dados de candidatos negros, oferecendo uma longa lista de nomes e per s para as empresas que desejarem ser proativas neste sentido.

THÉO VAN DER LOO é empresário, ex-CEO da Bayer. Destaca-se pela luta por maior igualdade nas empresas.

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