Revista Raça Brasil

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Um projeto de mídia negra em ascensão

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Rachel Quintiliano

Editora do Portal Raça. Jornalista e escritora com quase 30 anos de experiência, tanto na comunicação corporativa quanto da imprensa, especialmente imprensa negra. Autora do livro ‘Negra percepção: sobre mim e nós na pandemia’. É responsável por planejar os conteúdos do portal, assegurando a linha editorial e estratégia narrativa do grupo RAÇA.

28 anos da mais longeva publicação de imprensa negra e a única com distribuição nacional

Em 1996, surgiu nas bancas de jornais de quase todo o país uma nova publicação, a Revista Raça, com o rosto da modelo, hoje também atriz e cantora, Isabel Fillardis na capa. Nenhuma publicação direcionada para a população negra havia conseguido esse feito antes, ainda que a imprensa negra estivesse presente e persistente desde 1833, quando foi publicado o jornal O Homem de Cor.

Uma visão racista e preconceituosa impedia que o mercado editorial investisse nesse tipo de publicação. Transmitia-se a ideia de que não haveria público nem anunciantes. O setor foi surpreendido, e a primeira edição da Revista Raça vendeu quase 300 mil exemplares. Desde aquele momento até agora, foram 28 anos de atividade ininterrupta de uma publicação que, desde o início, teve como editores pessoas negras, embora no começo o título não fosse de uma pessoa ou empresa negra. A revista surgiu na editora Símbolo, e o idealizador da publicação, bem como editor-chefe, foi Aroldo Macedo, um homem negro.

É inegável que a revista, desde seu início, foi fundamental para a construção de uma narrativa e imagem positivas de pessoas negras brasileiras, assim como a Ebony e a Essence nos Estados Unidos. Nos primeiros anos, a Revista Raça era muito comparada a títulos direcionados ao público feminino, como Claudia. Era uma revista essencialmente dedicada à moda, maquiagem, bem-estar e entretenimento. Isso, sem dúvida, foi fundamental para, mais uma vez, derrubar a tese que mantinha o mercado e os anunciantes apáticos quanto ao potencial de aceitação e consumo da população negra.

No final da primeira década dos anos 2000, as coisas começaram a mudar, e é importante citar que naquele momento existia uma efervescência no movimento social negro, com as discussões sobre políticas de ações afirmativas, como cotas para negros nas universidades e uma série de políticas públicas de enfrentamento ao racismo e promoção da equidade que começavam a ganhar espaço no Poder Executivo. Em 2007, o título passou a ser publicado pela editora Escala, e Maurício Pestana assumiu como diretor-executivo da publicação. Entre outras coisas, Pestana começou a não só editar o título e mantê-lo como referência de identidade e autoestima para a população negra, mas também a inserir discussões mais políticas, inclusive com suas charges provocativas, estrategicamente colocadas nas últimas páginas da revista. Daquele momento em diante, inclusive com a chegada de colunistas como Zulu Araújo, não era mais possível comparar a Revista Raça com a Claudia, por exemplo. A Revista Raça entrou de fato em outra fase – a de consolidação de uma narrativa múltipla e afrocentrada. Todos os assuntos poderiam ser abordados, porque todos eles são de interesse da comunidade negra brasileira.

As mudanças estavam só começando, e, depois de uma passagem muito rápida de menos de um ano pela editora Minuano, em 2017, a Editora Pestana & Arte Publicações comprou o título, e Pestana assumiu novamente a revista. Também nessa época, Hamalli Alcântara passou a atuar, primeiro como diretora de marketing e, posteriormente, em 2020, como diretora-executiva e editora-chefe da Revista Raça, inaugurando um novo momento da publicação e ampliando o alcance por meio do site, da revista em versão digital, canal no YouTube e perfil ativo nas redes sociais. Com a família Pestana à frente dos negócios que envolvem a marca “Revista Raça”, um novo projeto de mídia negra está em ascensão. Parcerias estão sendo firmadas com agências de conteúdo e publicidade para aproximar ainda mais a publicação do mercado anunciante.

Do ponto de vista editorial, a publicação segue reforçando uma imagem positiva da comunidade negra e também se posicionando politicamente, inclusive pela necessidade constante de, apesar de a população negra ser a maioria da população brasileira, ainda sofrer com as iniquidades sociais e econômicas impostas pela operação sofisticada do racismo.

Essa diversidade de abordagens tem sido alcançada por meio de um conselho editorial diverso, com pessoas negras e não negras, com jornalistas, pesquisadores e personalidades públicas que estão constantemente lendo e refletindo sobre o país a partir de uma perspectiva de justiça social, racial e afrocentrada.

Rachel Quintiliano é jornalista, pós-graduada em Comunicação e Saúde, defensora dos direitos humanos e promotora da equidade de gênero e raça. Escreve sobre identidade, autoestima, livros, filmes e séries.

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