Um viva a Revista Raça.

Zulu Araújo

Em 6 de setembro de 1996, exatamente há 27 anos, chegava as bancas a primeira edição da Revista Raça. E já no seu primeiro número ela contrariou o mercado editorial brasileiro de forma pujante: a RAÇA teve 275 mil exemplares vendidos. Um recorde, até hoje não superado, por nenhuma outra revista, antes e depois de seu lançamento. Ou seja, a RAÇA é a revista que mais vendeu exemplares no seu primeiro número, até os dias atuais. E olha que a Raça nasceu sob o estigma e o preconceito existente no mercado, que afirmava que qualquer revista que tratasse da temática negra no Brasil, não teria futuro, pois rezava a lenda de que preto não gostava de ler, muito menos de comprar revista.

Passados tantos anos, a Revista RAÇA continua mais forte do que nunca e com muita história para contar. Uma delas, diz respeito a sua origem. A RAÇA foi fundada, por mais incrível que possa parecer, por uma descendente de chines, Joana Fun, proprietária da Símbolo Editora e que a publicou durante dez anos. Na sua segunda fase, a Raça foi adquirida pela Editora Escalla, que também a publicou por mais dez anos. Só que durante sete anos desse período, sob a direção do jornalista Mauricio Pestana, que hoje é o CEO da Revista, a publicação começa dar seus primeiros passos para o formato atual.

É nesse período que a Revista passa por transformações profundas e importantes. Pestana, introduziu a reflexão crítica sobre a sociedade brasileira nas páginas da Raça, promoveu o debate racial de forma clara, defendeu as ações afirmativas, em particular as cotas para negros no ensino superior, de forma determinada. E fez tudo isso de forma explicita, sem rodeios, deixando claro que a Revista tinha lado, tinha posição, visto que, até aquele momento a Raça, limitava-se a tematizar a estética, a beleza e a moda negra. Na verdade, o que Pestana fez, foi colocar a Revista Raça a serviço da comunidade negra brasileira e pelo visto, esse caminho deu certo.

Na sua terceira fase, que já dura sete anos, a Raça é adquirida pela Editora Pestana, Art e Publicações, ganha corpo e densidade e se consolida como a grande referência do jornalismo da comunidade negra na América Latina. Além de ter pela primeira vez, uma família negra na sua direção. Outra característica singular e ousada da Raça é que é hoje, ela é a única publicação da comunidade negra, editada de forma impressa, digital e em vídeo no Brasil.

Falo desses temas com muito prazer e orgulho, até porque essa minha fala também representa um testemunho, pois sou colaborador da Revista Raça há mais de 15 anos, tendo acompanhado de perto boa parte da sua evolução. Semana passada por exemplo, a Revista Raça, bateu mais um recorde: alcançou aproximadamente sete milhões e meio de contas alcançadas, apenas no Instagram. Isso não é pouca coisa. É na verdade, o reconhecimento dos nossos leitores sobre a seriedade do trabalho que é desenvolvido pela RAÇA e o nosso compromisso em apresentar um produto de qualidade.

Portanto, celebrar a longevidade da Revista RAÇA e sua capacidade de ao longo de tantos anos, manter-se firme na defesa na luta antirracista, na promoção da igualdade racial e sobretudo na defesa da democracia, é celebrar a liberdade de expressão. Isso porque, a presença de uma revista com essas características assegura não apenas um canal de expressão legítimo para aqueles e aquelas que representam a maioria da sociedade brasileira, mas sobretudo o respeito a diversidade que essa sociedade possui.

Enfim, a Revista RAÇA é, e tenho certeza que continuará sendo, motivo de orgulho não apenas para os seus colaboradores, conselho editorial, amigos, etc. mas sobretudo para os seus leitores.

Toca a zabumba que a terra é nossa!

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Mestre em Cultura e Sociedade pela Ufba. Ex-presidente da Fundação Palmares, atualmente é presidente da Fundação Pedro Calmon - Secretaria de Cultura do Estado da Bahia.

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