Uma reflexão sobre violências protagonizadas por crianças e adolescentes
A violência extrema externalizada por crianças e adolescentes é a expressão máxima de uma sociedade colapsada, incapaz de direcionar de forma adequada a agressividade de indivíduos vulneráveis que o sistema deveria cuidar e proteger. Sem intervenção profissional para a identificação e, sobretudo, orientação sobre como agir diante dos primeiros sinais comportamentais que indiquem o adoecimento psicológico, cada vez mais assistiremos ocorrências que nos deixarão em choque. Sim, eles têm mais acesso às telas e, apesar de não haver indícios científicos sobre a correlação entre jogos eletrônicos e a violência, filtrar o que pode ser consumido ou não, de acordo com cada faixa etária, é responsabilidade de todos nós: pais e tutores, produtores de conteúdo, meios e canais de comunicação, além da sociedade como um todo. No Brasil, além de conteúdos hiper sexualizados como, por exemplo, em músicas veiculadas em rádios e no youtube, temos a impressão de que há a promoção da violência quando realizamos torneios de jogos eletrônicos para adolescentes e jovens, com ambientes virtuais inadequados. E não paramos por aqui, podendo também fazer uma breve referência a educação racista, homofóbica, sexista, machista, capacitista, etarista que recebemos e, muitas vezes, repassamos de forma inconsciente às nossas crianças, que encontram formas atualizadas e elaboradas de manifestá-la. Ignorar, excluir, marginalizar (no sentido de manter à margem) ou simplesmente não acolher são formas camufladas de cometer violências que não podem ser mais normalizadas. Manobras que encontramos para mascarar a violência, ponto que deve ser cuidadosamente observado, principalmente quando praticado e sofrido por crianças. A agressividade e o bullying (criança que comete violência com outra criança) sempre existirão. Porém, a questão mais importante é sobre como encaminharemos esses instintos primitivos. A criança é um ser primitivo, com um cérebro em formação, diretamente impactada pelo meio que vive, lugar esse que proporciona suas primeiras experiências e emoções. Crianças são vulneráveis, sejam elas negras ou brancas, de todas as raças e etnias. Todas precisam de proteção e cuidados e, mais uma vez, vale reforçar, que todas devem ter suas demandas encaminhadas de forma adequada. Antes de uma criança cometer uma violência ou um crime, quase sempre há a negligência de seus responsáveis e de todo o ecossistema que a envolve. Precisamos de ajuda para aprender a compreender e distinguir os diferentes tipos de agressividade e endereçá-las de forma correta. Desde a agressividade que nos impulsiona através de manifestações como o ânimo, a garra, ambição e a energia explosiva que manifestamos nos esportes, à agressividade que em seu caminho mais fácil, leva à um lugar destrutivo: violência física, verbal e/ou psicológica. É a competência em traçar essa diferenciação, o cuidado com a falta e o excesso, a identificação da motivação que leva aos sintomas, que fará a diferença para reduzir a progressão de episódios envolvendo crianças, adolescentes e crimes. Que lugar social é esse que oferecemos às nossas crianças? Reflexão importante que deve ser feita frequentemente dentro de casa, nas escolas e, também, em outros ambientes. Quando precisamos desarmar crianças percebemos – damos conta real – que somos uma sociedade imatura e incompetente. Carla Sohler é Jornalista, Psicanalista, Doutoranda em Psicologia (Habilidades e Competências em um Futuro Digital), Mestre em Psicologia Psicossomática (Uso de Telas) e Master Business Administration em Marketing Digital.