Valéria Almeida recorda racismo e dificuldades financeiras antes de chegar à TV: ‘Fiz faxina para pagar um empréstimo’

Durante as férias de Patrícia Poeta, jornalista está à frente do ‘Encontro’ ao lado de Tati Machado; ela também comanda o quadro “bem-estar” na atração matinal

Hoje, Valéria Almeida pode usufruir de bem-estar na vida, curiosamente o nome do quadro que ela comanda no programa “Encontro’’ desde 2020, nas manhãs da Globo. Mas nem sempre foi assim para a jornalista que agora, durante as férias de Patrícia Poeta, está à frente da atração matinal ao lado de Tati Machado.

Cria de Areia Branca, bairro da periferia de Santos, litoral paulista, Valéria passou por provações até se destacar na TV. Filha de uma funcionária dos Correios, Cida, e de um trabalhador das docas (no porto), Valmir, ela perdeu a mãe aos 10 anos, mas carregou para sempre seus ensinamentos sobre a importância da educação.

— Lembro que eles compraram uma escrivaninha e a enciclopédia Barsa. Aquilo era sagrado pra mim. Quando minha mãe morreu, meu pai se desequilibrou completamente. Meu irmão, Valmir Jr., e eu fomos morar com meus avós, Elza e Paulo. Minha avó dizia que se eu quisesse ser livre de verdade, eu nunca deveria deixar de estudar — conta a profissional de 40 anos.

Trabalhando em uma papelaria para pagar a faculdade, ela não tinha dinheiro para quitar as parcelas.

— Pedi demissão acreditando que eu conseguiria algo maior. Foi então que entendi a combinação do meu endereço e da minha foto 3×4, sendo uma mulher negra da periferia. Passei quase nove meses desempregada e fazendo faculdade. Acumulei uma dívida enorme. Fiz faxina para pagar um empréstimo, mas minha dívida com a faculdade foi só embolando. Os professores pararam de dar aula pra mim por causa da minha inadimplência. Isso, na frente de todo mundo. Foi uma humilhação… Quem dera se todo mundo pudesse só se dar ao luxo de estudar, ter um prato de comida na mesa e a passagem garantida. Mas, enquanto isso não é um fato, vou compartilhando as minhas histórias para fortalece

O trabalho, hoje, traz novas perspectivas e grandes amizades. Ela conta que a parceira Tati é uma delas:

— A gente lê o pensamento uma da outra. Tem horas em que uma vai falar algo e a outra complementa. Ou falamos a mesma frase ao mesmo tempo. Recentemente, fomos gravar o “Caldeirão com Mion”, no Rio, e foi engraçado porque Tati tem medo de avião, eu não. Mas quando vimos que embarcaríamos numa aeronave pequena, de apenas nove lugares, ficamos apavoradas. Entrei numa crise de riso de nervoso e Tati também.

A estreia na TV aconteceu em 2011, com um convite de Caco Barcellos para o “Profissão repórter’’.

— Sempre quis ser apresentadora, mas nunca acreditei que fosse possível, já que, diante dessa sociedade, a gente não vê mulheres negras em grandes postos. Depois que me formei, me disseram em uma entrevista de emprego que eu levava jeito para a TV, mas que eu deveria deixar meu cabelo crescer e alisar. Entendia que aquela profissão não seria para mim — conta ela, casada com o produtor Peterson Gomes há 14 anos.

Com samba no pé

Feliz com os caminhos que tomou, Valéria não se distancia de suas raízes. Uma demonstração disso é sua relação com o samba, uma de suas grandes paixões. A apresentadora sempre arrisca alguns passinhos nos eventos sociais e até no palco do “Encontro”, quando algum artista se apresenta no palco.

— Uma das recordações mais bonitas que eu tenho com meus pais é a gente dançando samba. Amo! O ritmo, de uma certa forma, me conecta com eles. Na minha casa, danço com meu marido no meio do nada, é muito aleatório. Quando a gente vai para o samba com os amigos, me acabo até a batata da perna não aguentar, mas é sempre uma alegria. Adoro carnaval, meu coração é mangueirense, no Rio, e Vai-Vai, em São Paulo. Mas torço para que todas as escolas desfilem bem. Na verdade, meu coração é megaleviano (risos) — assume ela, que nunca desfilou no Sambódromo, mas sonha poder representar uma agremiação. Está dado o recado!

Vida além do trabalho

Amizade com Thelminha

Valéria caiu no samba no aniversário de Thelma Assis, médica e campeã do “BBB 20”, de quem ela se tornou amiga: “Temos essa relação da conexão de mulheres negras que se admiram e se apoiam. Na época do “Bem-estar”, a gente falava sobre saúde, o que nos aproximou ainda mais. Nossa relação foi se estendendo para a vida e para o samba.

Madrasta boa

Valéria não pensa em filhos no momento, mas considera o enteado, Lucas, de 17 anos, como tal: “Eu falo que ele é o amor da minha vida, tanto que o chamo de filho. A gente tem uma relação muito bonita. Lucas se formou recentemente e me chamou para ser sua madrinha. Imagina a canceriana aqui… Eu chorei pouco (risos)’’.

Aborto

Valéria já ficou grávida, mas sofreu um aborto por conta da endometriose: “Nunca mais engravidei. Os desejos da maternidade já vieram e já se foram. É só um sonho que ficou guardado. Vou me realizando com a possibilidade de ser mãe do meu enteado’’.

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