Vereador diz que Pitta era ‘negro de alma branca’ na Câmara

Frase do parlamentar do Progressistas foi considerada racista por integrantes da bancada do PSOL, que pretendem acionar Conselho de Ética da Câmara e o Ministério Público nesta terça-feira (13). Parlamentar se desculpou publicamente e disse que errou.

O vereador Arnaldo Faria de Sá (Progressistas) usou a expressão “negro de alma branca” ao se referir ao ex-prefeito Celso Pitta durante um discurso na Câmara Municipal de São Paulo nesta segunda-feira (12) e gerou indignação entre os parlamentares da casa.

A frase foi dita durante pronunciamento do vereador sobre o Projeto de Intervenção Urbana do Setor Central e a bancada de vereadores do PSOL na Câmara diz que vai denunciar o parlamentar no Conselho de Ética.

“Eu me preocupei com um negro, que era o Pitta, o prefeito da capital, que estava escorraçado, estava sendo atacado, vilipendiado. Derrotei o impeachment, ele levou seu mandato até o final. Eu tava preocupado com um negro de verdade, negro de alma branca como as pessoas costumam dizer, não podemos ter essa preocupação de não estar preocupado com todos”, afirmou o parlamentar (ouça gravação acima).

O uso do termo registrado apenas em áudio porque o parlamentar participava da sessão plenária remotamente, com a web câmera desligada.

Repercussão

O discurso gerou indignação entre diversos vereadores da capital, que acusam Faria de Sá de racismo. Durante a tarde, a vereadora Luana Alves, líder da bancada do PSOL na Câmara, protocolou uma representação na Corregedoria pedindo a cassação do vereador pela expressão.

“Mais uma vez quero pedir respeito aos vereadores, para que não utilizem falas racistas no plenário. Dizer que um negro para ser bom negro precisa ser um negro de alma branca é uma frase absolutamente racista e inaceitável neste plenário”, disse a vereadora Elaine do Quilombo Periférico (PSOL).

“Utilizar a expressão preto de alma branca para se referir a alguém como um negro de verdade é racista. Não vamos tolerar a utilização dessa expressão entre parlamentares, que deveriam representar o povo, povo majoritariamente negro. A bancada do PSOL vai representar o vereador na Comissão de Ética da Câmara”, afirmou a covereadora negra do mandato coletivo Bancada Feminista do PSOL, Paula Nunes.

A bancada do PSOL informou que vai entrar com uma denúncia na corregedoria da Câmara contra o vereador por quebra de decoro parlamentar e também fazer uma representação criminal no Grupo Especial de Combate aos Crimes Raciais e de Intolerância (GECRADI), do Ministério Público de São Paulo.

Pedido de desculpas

Depois da repercussão, Arnaldo Faria de Sá se desculpou publicamente sobre o episódio.

“Me desculpe, eu errei. Não quero discutir com ninguém. Eu quero só pedir desculpas humildemente”, afirmou o parlamentar, que fazia parte do governo Celso Pitta, entre os anos de 1997 e 2001.

Faria de Sá foi secretário de Governo do ex-prefeito, que morreu em 2009 em decorrência de um câncer, aos 63 anos. O vereador tem 75 anos e também já foi deputado federal por quase 30 anos, entre 1987 e 2015.

Presidência da casa

O presidente da Câmara Municipal, vereador Milton Leite (DEM), afirmou em nota nesta terça (13) que “não vai tolerar atos de racismo como o registrado na sessão desta segunda-feira (12) no plenário”.

“Como negro que sou, a fala racista do vereador Arnaldo Faria de Sá (PP) machuca, atinge nossa população e é inadmissível. Aos vereadores negros e vereadoras negras, solidariedade. Nesta luta contra o racismo estamos juntos, não há ideologia ou partido que nos separa”, declarou.

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