Nas últimas semanas, as redes sociais foram palco de duas notícias que movimentaram o universo das celebridades: Zé Felipe assumiu seu relacionamento com a cantora Ana Castela, e Virginia Fonseca, influenciadora de enorme alcance, foi vista ao lado do jogador Vinicius Jr. O contraste nas reações não poderia ser mais revelador. Enquanto o casal branco é descrito como “lindo”, “mágico” e “perfeito”, o casal interracial tem sido alvo de ofensas, julgamentos e questionamentos que escancaram o quanto a nossa sociedade ainda é profundamente marcada pelo racismo e pelo machismo.
No caso de Virginia e Vinicius Jr., os comentários nas redes sociais foram, em grande parte, atravessados pelo olhar racializado. O jogador, um dos maiores nomes do futebol mundial, não foi visto simplesmente como “um homem apaixonado”, mas como “o negro que conquistou uma mulher branca”. O relacionamento, que deveria ser assunto de foro íntimo, se transformou em um espetáculo de preconceitos. Surge, inevitavelmente, a pergunta: será que se Vinicius fosse branco, a relação seria recebida com a mesma naturalidade que a de Zé Felipe e Ana Castela?
As mulheres, por sua vez, seguem ocupando um lugar injusto e hostil nesse tabuleiro. Enquanto Ana Castela é celebrada como a “escolhida” e exaltada pela relação, Virginia é alvo de julgamentos constantes, seja por sua vida pessoal, seja por sua postura pública. O machismo não permite que a mulher viva plenamente sua autonomia afetiva ela precisa sempre prestar contas, ser avaliada e, muitas vezes, condenada.
Mas o debate não para aí. Existe também uma contradição que precisa ser discutida: grande parte dos jogadores negros que alcançam fama e fortuna optam por se relacionar com mulheres brancas. O fenômeno não é isolado, tampouco casual. Ele reflete a internalização de padrões de beleza e de status social impostos por uma sociedade que ainda hierarquiza corpos e afetos a partir da cor da pele. Se, por um lado, o racismo condena o casal interracial com ataques, por outro, alimenta a ideia de que estar ao lado de uma mulher branca é um símbolo de sucesso e ascensão.
Essa engrenagem é cruel porque aprisiona todos: os homens negros, que carregam sobre si estereótipos e expectativas; as mulheres negras, historicamente invisibilizadas e preteridas nos relacionamentos afetivos; e até as mulheres brancas, que são colocadas no pedestal de um ideal inalcançável, mas ao mesmo tempo julgadas quando escolhem seus parceiros.
No fim, o que as histórias de Zé Felipe e Ana Castela, e de Virginia e Vinicius Jr., revelam é que o Brasil segue reproduzindo a velha máxima de que “amor tem cor, sim” e que os julgamentos sobre quem pode amar quem ainda estão profundamente enraizados em estruturas de racismo e machismo. Enquanto não encararmos de frente essas contradições, continuaremos assistindo ao espetáculo das redes sociais transformar afeto em munição de preconceito.