Vinicius Júnior – “Episódio isolado número 19”.

Desculpem parecer repetitivo, mas é o episódio isolado número 19”, afirmou ironicamente o jogador de futebol brasileiro Vinicius Júnior ao ser vítima pela décima nona vez de atos racistas no futebol espanhol. Desta vez o crime ocorreu no Estádio Ramon Sanches, em Sevilla, quando da partida entre o Real Madrid e o time da casa, no qual um torcedor imitava ostensivamente um macaco, referindo-se ao jogador, durante a partida. 

Sua manifestação irônica deve-se ao fato de ter se transformado num ato de puro cinismo as manifestações das autoridades espanholas, em particular a Liga Espanhola de Futebol Profissional (La Liga), ao afirmar que casos de racismo no futebol espanhol são fatos isolados. A bem da verdade esse cinismo não é apenas espanhol, mas de todas as autoridades e instituições tanto daqui quanto da Espanha quando se deparam com a necessidade de enfrentar o racismo que tem se alastrado mundo afora. 

A ironia fina de Vinicius Júnior também reflete a indignação dele e de todos aqueles que combatem o racismo, visto que, não é possível que no século XXI, num espaço onde patrocinadores e empresários de todas as ordens (uniformes, bebidas, televisivas) faturam milhões de dólares graças ao talento e a criatividade de centenas de jogadores negros, sejam esses mesmos jogadores discriminados acintosamente sem que nenhuma providência seja adotada. Além do que, racismo é um crime de consequências nefastas tanto para os indivíduos quanto para a humanidade.

Embora a Espanha não seja o único lugar onde o racismo tem proliferado no futebol, é hoje, o país, onde a impunidade se manifesta de forma mais evidente no tocante a esse crime. E isso, tem uma razão histórica. A Espanha possui uma tradição racista que vem desde o século XVI, com os seus Estatutos da Pureza de Sangue, que esteve vigente até o século XIX, e que está em pleno processo de recrudescimento. Em verdade os espanhóis não conseguiram digerir até hoje o fato de terem sido colonizados durante mais de oitocentos anos pelos negros islamizados do norte da África, chamados pejorativamente de mouros. 

Já tentaram de tudo para se verem livre dessa “mancha”histórica.  Inventaram o herói El Cid, (Rodrigo Dias de Vivar” que nada mais era do que um “herói sem caráter” – mercenário que vendia seus serviços a quem pagasse mais, no século XI, como o lendário guerreiro cristão que derrotou os muçulmanos, mesmo após ter sido morto numa batalha. Mas, ainda assim, continuam sendo, assim como Portugal, os “patinhos feios” da Europa. Aliás, qualquer um que tenha visitado a Espanha como eu, sabe perfeitamente do ódio que os espanhóis manifestam quando são chamados de “mouros”. 

O racismo na Espanha é tão impregnado na população que não há qualquer legislação específica para a punição de crimes raciais. O que há é uma lei generalista que pune os chamados “crimes de ódio”, mas nada que trate por exemplo sobre essa onda racista que está ocorrendo nos tempos atuais no pais. Alguns estudiosos afirmam que esse retrocesso que está ocorrendo na Espanha deriva da sua necessidade política de afirmar sua “branquitude” diante dos demais países europeus, após a criação da União Europeia, visto que continuam sendo discriminados enquanto península ibérica. 

Portanto, mais uma vez, nossa solidariedade ao atleta Vinicius Júnior, sobretudo pela sua coragem em enfrentar esse crime de lesa humanidade de peito aberto e a consciência tranquila. Nesse sentido, tendo em vista o número gigantesco de atletas brasileiros que atuam no futebol europeu, já passou da hora, do Itamaraty cobrar nos foros internacionais uma legislação especifica que combata o racismo nos esportes, em particular no futebol. 

Toca a zabumba que a terra é nossa!

colunista: zulu araujo

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