Revista Raça Brasil

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Washington Black e a coragem de imaginar outro mundo sendo negro

O nome George Washington é carregado de história. Mas, nesta minissérie recém-chegada ao Disney+, ele ganha um novo significado: o de um menino negro que, mesmo nascido em meio à escravidão, escolhe sonhar. “Washington Black” conta a jornada de Wash — apelido carinhoso para George Washington Black — que foge das correntes do cativeiro e parte em busca de algo que muitos homens e mulheres negros jamais tiveram a chance de encontrar: liberdade para ser quem se é.

Baseada no livro de Esi Edugyan, a série nos leva de Barbados até a Nova Escócia, acompanhando a vida de Wash dos 11 anos até a idade adulta. A história começa em 1830, numa plantação de açúcar, onde ele é apenas mais um entre tantos que não tinham nem o direito ao próprio nome. Mas tudo muda quando ele conhece Titch, um homem branco abolicionista que enxerga no menino algo raro: talento e sensibilidade. Juntos, eles constroem um balão e fogem — literalmente — para o céu.

E é no céu, no mar, entre piratas, livros, desenhos e novas paisagens, que Wash começa a se entender como alguém que também pode sonhar. Ele aprende a ler, a nadar, a observar o mundo com olhos de quem nunca teve tempo para brincar. Momentos como o de um homem negro o ensinando a flutuar na água carregam um simbolismo forte: como se alguém dissesse, com gestos e não palavras, “você pode confiar, eu te seguro”.

Mas a liberdade, mesmo conquistada, não vem sem marcas. Ao crescer, Wash precisa esconder seu nome e sua origem para sobreviver. Ainda assim, mantém a alma de menino que acredita no amor e constrói aviões de papel — agora de verdade — com o desejo de voar alto, sem medo de cair. Ao conhecer Tanna, filha de um cientista, descobre que o amor pode ser também abrigo. Mas as feridas do passado ainda ecoam, e nem todos os céus são seguros.

A série alterna cenas de fantasia com o peso da realidade de forma ousada. Por vezes, parece contraditória, mas talvez essa seja exatamente a intenção: mostrar como é viver sendo negro em um mundo que constantemente tenta nos lembrar do nosso lugar — e como, mesmo assim, é possível sonhar com outros.

Wash é um símbolo do que pode nascer quando alguém é visto com dignidade. Sua história é sobre perdas, mas também sobre encontros. Sobre crescer com medo, mas não perder a doçura. Sobre sobreviver à escravidão, mas não deixar que ela defina quem se é.

Mais do que uma produção histórica ou uma aventura épica, “Washington Black” é um lembrete delicado: a liberdade nem sempre é um lugar. Às vezes, é um olhar, uma chance, um gesto de amor.

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