Wesley Barbosa estava numa mesa redonda com autores no festival literário Flipoços, em Minas Gerais, quando outra autora proferiu uma fala que associava o nome de seu coletivo, Neomarginal, a atividades criminosas e encarceramento.
Por Bruno Deusdará
O escritor Wesley Barbosa foi vítima de fala racista proferida pela também escritora Camila Panizzi Luz durante o Festival Literário Internacional de Poços de Caldas (Flipoços), em Minas Gerais. Os escritores participavam de um diálogo no estande do Coletivo Neomarginal, grupo do qual Barbosa faz parte e que reúne autores ligados à literatura periférica.
Durante a apresentação, Wesley falava sobre sua obra e trajetória quando foi interrompido por Camila, que perguntou: “Como faz para ser neomarginal?” Logo depois, em tom irônico, completou: “Eu quero ser uma neomarginal, gente, olha que tudo. Camila Luz, neomarginal, nunca fui presa.” A declaração, que associa a palavra “marginal” ao encarceramento, foi recebida com desconforto por parte da plateia, rapidamente se espalhou nas redes sociais e foi amplamente criticada por seu teor considerado preconceituoso e desrespeitoso com as vivências representadas pelo coletivo. A Revista Raça, Wesley disse:
“Não foi uma coisa que deveria ter acontecido num espaço dedicado à literatura, num evento literário, em que as pessoas vão para celebrar os livros, a escrita, a criatividade e a cultura brasileira… infelizmente fui alvo de uma fala que me fez sentir associado ao crime, quando na verdade talvez meu único crime tenha sido abrir um livro, e por consequência me tornado escritor e editor.”
Wesley Barbosa se manifestou por meio de postagens em tom de crítica à situação. Em uma delas, afirmou: “Ser neomarginal é não ser racista”, demonstrando indignação com o ocorrido. À Raça, o escritor afirmou:
“Infelizmente fui alvo de uma fala que me associava ao crime […] Não sou da cultura da violência. Gosto de poesia, gosto de falar com as pessoas sobre isso.”
“Eu acho que de fato o livro para mim é um colete a prova de balas, porque essas palavras violentas são como balas que atravessam o corpo do homem negro.”
Wesley ainda assegurou que, ao expor a situação, não teve a intenção de atacar a escritora que proferiu a fala. “A única coisa positiva que eu vejo nisso, além de pessoas estarem querendo conhecer meu trabalho, é levantar o assunto sobre o racismo, tão importante de ser falado e combatido, na imprensa, nas redes sociais, etc.”
“Não expus aquilo para atacar a moça em questão, eu prefiro não falar o nome dela. Expus porque estava participando de uma mesa onde eu queria divulgar o meu trabalho e o trabalho dos meus companheiros que estavam no estande Neomarginais na Flipoços. O que eu posso dizer é que todas as pessoas que tem um espaço grande e que sejam escutadas, que falem sobre isso, debatam sobre isso, porque é um assunto pertinente, importante para discutir. A única coisa positiva que vejo nisso, além das pessoas conhecerem meu trabalho, é levantar o assunto sobre o racismo, importantíssimo de ser falado, combatido, na imprensa, nas redes sociais, etc.”
Em nota oficial, o Festival Literário Internacional de Poços de Caldas repudiou veementemente o ocorrido, classificando a atitude de Camila Panizzi Luz como “inaceitável”. Como resposta, anunciou o rompimento imediato de todos os vínculos com a autora, a retirada de seus livros da feira e o cancelamento de qualquer participação futura na programação do festival. A direção também enfatizou seu compromisso com a diversidade e o respeito às múltiplas vozes que compõem o cenário literário contemporâneo.