Yoga como autocuidado
Por muito tempo, mulheres negras foram colocadas em papéis de cuidadoras e assim costumam ser vistas pela sociedade.
Assumir o papel de quem cuida de tudo e de todos é algo cansativo, que pode adoecer as nossas a ponto de que esqueçam de que também são dignas das práticas de autocuidado e que podem e devem parar por alguns minutos para olhar a si mesmas, zelando pela própria saúde. Claro que esse olhar também deve vir de toda a sociedade, que precisa dar às mulheres negras o que lhes é direito: carinho, afeto, acolhimento e oportunidades, deixando de lhes incumbir apenas deveres.
Hoje, um grande número de pessoas com acesso às redes sociais pode acompanhar influenciadoras e profissionais negras que estão voltadas para o autocuidado de homens e mulheres negras.
Nascida na Bahia e radicada em São Paulo, Tati Cassiano idealizou o projeto Ubuntu Yoga, que presta suporte gratuito para 40 mulheres. Trata-se de um espaço de acolhimento que utiliza a Yoga como uma rede para apoiar as participantes em sua transformação pessoal e coletiva através da prática ancestral. A ideia de aproximar mulheres pretas da Yoga nasceu em 2019 a partir das experiências pessoais compartilhadas por Tati com amigas próximas.
“Até então, as minhas práticas de Yoga tinham sido em locais públicos de Salvador, em aulas abertas e gratuitas, promovidas por alguns grupos de que fiz parte. Quando cheguei em São Paulo, não existiam esses grupos abertos e fiquei sem praticar por muito tempo. Tive a oportunidade de praticar com minhas amigas e percebi o quanto me fazia falta essa prática”, explica a instrutora.
Desde 2017, a prática de Yoga foi incorporada pelo Sistema Unico de Saúde (SUS) à lista de Práticas Integrativas e Complementares definida pelo Ministério da Saúde como “tratamentos que utilizam recursos terapêuticos, baseados em conhecimentos tradicionais, voltados para prevenir diversas doenças”.
Além das aulas orientadas por Tati Cassiano, fazem parte do projeto Aline Inocêncio, instrutora de Hatha Yoga, Myriam Goem, instrutora de Kundalini Yoga e Tayla Cândido, instrutora de Vinyasa Flow. Antes da pandemia as aulas eram presenciais, mas com a necessidade de distanciamento social a equipe teve que fazer adaptações para dar continuidade ao projeto.
“Em 2020, no início da pandemia, devido às orientações da Organização Mundial de Saúde (OMS), na contenção do avanço da contaminação pelo novo coronavírus, a necessidade se transformou em urgência. A falta de trabalho e o afogamento por tantas notícias negativas, em um cenário sem perspectiva, fizeram com que eu fosse impulsionada, diante vários relatos de ansiedade, insônia, síndrome do pânico, os quais chegavam até a mim, criei um grupo no WhatsApp para acolher essas mulheres. Convidei Tayla Cândido, Aline Inocêncio e Myrian Gomes”, explica Tati.
Para o futuro, a instrutora tem a intenção de promover aulas abertas gratuitas em comunidades, praças ou parques em São Paulo e em Salvador, disponibilizando aulas com valores acessíveis ou até realizando atividades gratuitas.
Nosso desejo é de que todas as mulheres deem prioridades para seu autocuidado, que se coloquem em primeiro lugar em suas vidas, reconheçam sua potência e possam assumir a narrativa de suas próprias vidas. Que tenham consciência de que são suficientes e merecedoras de afeto. Nosso foco é em criar uma rede de apoio e desmantelar esse sistema machista e racista”, finaliza.