No Dia do Humorista, 12/04, o comediante fala sobre os desafios de ser preto no humor brasileiro, a relação com o público e os caminhos futuros no teatro e na comédia stand-up
No Dia do Humorista, conversamos com um dos nomes mais potentes e provocativos da nova geração da comédia brasileira: Yuri Marçal. Com um estilo direto, inteligente e carregado de identidade, o humorista tem se destacado ao trazer para o palco temas como racismo, política, religiosidade e cotidiano, sem abrir mão da leveza e da gargalhada.
Yuri, o Dia do Humorista é uma data para celebrar quem leva alegria ao público. O que esse dia representa para você, especialmente sendo um humorista preto em um cenário ainda desigual?
O que esse dia representa para mim? Acho que, para todos nós comediantes que sonharam ou ainda sonham em viver da arte, viver da comédia e viver fazendo as pessoas rirem, é muito representativo. Até porque a gente obviamente também gosta de sorrir, a gente ama se divertir com comédia, assistir comédia ao vivo, seja pela televisão ou por onde for. Então é muito importante ter esse dia e ser lembrado neste dia. Mesmo num cenário ainda desigual, a gente está nessa correria, a gente está sorrindo e tentando fazer sorrir sempre.
A comédia sempre teve um papel importante na crítica social. Como você enxerga o humor como uma ferramenta para discutir temas como racismo, desigualdade e religiosidade?
Sim, sim! Eu sempre falo sobre isso e reconheço, obviamente, que a comédia, assim como todo tipo de arte, também teve e tem seu papel importante na crítica social, em trazer alguns temas que, em tese, são mais sensíveis, para poder fazer rir a partir daquele tema e, consequentemente, a pessoa pensar sobre ele. Mas eu sempre falo que a função principal da comédia é fazer rir, fazer com que a pessoa gargalhe. A função principal dela nunca vai ser trazer ou discutir temas da sociedade. Como isso acontece? Acho que de uma forma positiva, obviamente, maravilhoso também! Olha como o mártir é importante. Mas na comédia eu sempre defendo que a função dela é que a pessoa ria.
Você faz parte de uma geração que está transformando o humor brasileiro. Quais foram os principais desafios que enfrentou para conquistar seu espaço nesse meio?
Essa é forte demais, cara! Eu nunca nem paro pra pensar nisso assim. Mas, sobre os principais desafios que eu enfrentei — e enfrento, né — até esse espaço, acho que hoje em dia eu sou muito devoto com meu público mesmo, devoto no melhor sentido da palavra. Do público que consome meu trabalho, do público que curte e se diverte com os shows, se diverte com os vídeos. Então, os desafios eu acho que qualquer pessoa da minha geração — e dizendo minha geração como a que coloca mais a cara a tapa pra falar da galera preta — enfrenta. Os desafios são muito parecidos.
Já estive em lugares com homens que disseram: “Não quero o show do Yuri aqui”, mesmo eu tendo levado uma quantidade legal, uma quantidade interessante de pessoas para assistir ao show. Eles falam: “Ah, não quero o show do Yuri aqui porque o Yuri fala muito de política, porque ele fala muito de racismo”. A frase não foi “porque eu falo muito de política”, mas “porque eu falo muito do Bolsonaro”, porque eu falo muito de racismo. Então isso é uma das coisas.
As mais tensas sempre são aquelas mais… assim como é a vida, as situações que são veladas, que a gente sabe o motivo mas não é dito diretamente, como essa do Comedy, por exemplo, travar. Então são esses desafios mesmo: de trabalho, de portas abertas, das pessoas verem de uma outra forma, julgarem seus erros com uma mão mais pesada, com um olhar mais pesado. Enfim, acho que é o que passa todo mundo aí na nossa sociedade, eu não sou diferente disso. Mas também, como eu falei, sou muito devoto do público que consome o trabalho, que curte. A gente está batalhando para, obviamente, esse público crescer e mais pessoas estarem consumindo e se divertindo com o trabalho.
Ainda vemos uma predominância de nomes brancos no humor mainstream. O que você acha que ainda precisa mudar para que a representatividade negra seja de fato ampliada nesse campo?
Sobre o que eu acho que precisa mudar para que a representatividade seja ampliada: acho que é oportunidade. É bem óbvio. Tem tanta gente boa trabalhando — nos bastidores também, que é importante. Tem uma galera preta dirigindo, uma galera preta escrevendo, porque tem uma galera preta consumindo.
Você se vê inspirando uma nova geração de jovens humoristas pretos. Que conselhos daria para quem está começando e quer usar o humor como forma de expressão e resistência?
Sobre inspirar jovens — se isso acontece, pra mim é uma honra. A gente está na mesma batalha. Mas o conselho que eu daria para quem está começando a usar o humor: vai! Estuda, trabalha as suas ideias, trabalha as suas notas, tudo o que você pensar. E não para, se é o que você ama, se você se sente bem, seja no palco, seja fazendo vídeos. Não para! Não para! É importante atingir mais gente, mais pontos de vista, mais pessoas com ideias diferentes para fazer a gente rir.
O que podemos esperar de projetos futuros?
Sobre projetos futuros, tem uma peça para ser lançada, além do meu stand-up. Tem o meu solo novo, que está bem legal. Estou rodando o Brasil com ele. Os dois anteriores estão no meu canal no YouTube. Acho que é isso. Que eu me lembre agora de projetos futuros, acho que é isso.