Zé Celso, a coragem para criar e transgredir.

Zulu Araújo

E lá se foi José Celso Martinez o grande revolucionário do teatro brasileiro. Deixou o palco da vida de maneira trágica como se fosse o ato final de um dos seus memoráveis trabalhos. Zé Celso era um ser humano cuja coragem e ousadia não tinham limites e por isso mesmo foi tão odiado e venerado ao mesmo tempo. Odiado pelos fascistas a ponto de ter uma das suas peças interrompidas, (Roda Viva, escrita por Chico Buarque), pelo CCC – Comando de Caça aos Comunistas que não só impediram sua encenação no Teatro destruindo o seu cenário como espancaram violentamente os atores. Isso em 1968, no Teatro Ruth Escobar, na cidade de São Paulo. E amado, por todos/as aqueles/as que fazem da arte, da cultura e da sabedoria, elementos fundamentais para o desenvolvimento humano.

As agressões das quais foi vítima ao longo de sua vida, não lhe intimidaram, muito pelo contrário, Zé Celso continuou sua provocação ao fascismo e conservadorismo brasileiro em muitos outros trabalhos que realizou tais como, o Rei da Vela, Pequenos Burgueses, As Bacantes, etc., Mas, sua grande contribuição para o teatro brasileiro, foi a criação do  Teatro Oficina, que funciona em São Paulo, e se transformou numa das mais importantes companhias de teatro do Brasil, ao longo dos seus sessenta e cinco anos de existência. Além de ter sido um verdadeiro celeiro de grandes artistas da arte dramática brasileira. Por lá passaram Renato Borghi, Fauzi Arap, José Wilker, Esther Góes, Othon Bastos, Marília Pera, Antônio Pedro, Paulo César Pereio, Marieta Severo e tantos outros/as que disseminam as ideias de Zé Celso mundo afora.  

Zé Celso não apenas inovou na forma de fazer teatro no Brasil, como proporcionou a gerações ávidas por conhecimento e desafios, tanto no palco quanto na plateia, formas plurais e diversas de pensarem o Brasil criticamente. Inclusão para ele não era um discurso ou figura de retórica, mas uma prática integrante do seu fazer artístico. Certa vez, ao fazer a seleção para uma de suas peças no Rio de Janeiro ele afirmou: “quando abrimos os testes para atores cariocas, veio uma multidão e tomou o espaço, sem saber o que era o palco ou o que era plateia, se o ator poderia tocar outra pessoa ou não. Era uma geração que trazia em si todas as revoluções. Tinha gente feia, bonita, veado, sapata, hétero, negro, branco, tudo, e traziam no corpo todas as revoluções”.

Uma de suas grandes façanhas fora do palco foi o enfrentamento ainda em andamento que com o grupo Silvio Santos, o todo poderoso da televisão brasileira que desejava implantar ao redor do local onde funciona o Teatro Oficina, primeiro um shopping Center e depois um conjunto de arranha céus. Zé Celso se insurgiu não apenas com gestos teatrais e críticas duras ao mega empresário, mas com o poder mobilizador que a arte possui e propôs que no local fosse instalado um parque público. E não se fez de rogado para fazer valer sua ideia. Convocou os artistas e moradores do entorno e há quarenta anos briga obstinadamente por ela.

Obrigado Zé Celso pelo legado que você nos deixa de criatividade, determinação e ousadia na defesa da arte brasileira.

Toca a zabumba que a terra é nossa!

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