Revista Raça Brasil

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Zezé Motta celebra legado negro em especial que transcende gerações

No palco do Museu Afro Brasil, Zezé Motta encarna mais uma vez seu papel de ponte entre tempos e lutas. A quinta edição do Especial Mulher Negra, que estreia em 25 de julho – data que homenageia Tereza de Benguela e as mulheres afro-latino-americanas -, transforma-se em ritual de resistência. Entre canções e memórias, a artista de 78 anos tece diálogos com vozes como Daiane dos Santos, Luedji Luna e sua própria família, mostrando como a ancestralidade não é passado, mas combustível para o presente.

O programa, dirigido por Clara Anastácia, evita o lugar comum das homenagens vazias. Em cenas que misturam crise, maternidade e beleza negra, revela a complexidade de ser mulher e preta no Brasil. Depoimentos de Ludmilla, Leci Brandão e a promotora Lívia Sant’Anna Vaz expõem as mesmas dores que unem gerações: o racismo que insiste em invisibilizar, o machismo que tenta silenciar. Mas o tom não é de lamento – é de reexistência, como define a música de Cíntia Ébano, neta de Zezé, presente no especial.

A escolha do Museu Afro Brasil como cenário é simbólica. Entre obras de Emanoel Araújo, o especial reconhece: arte negra nunca foi periférica. Zezé, que nos anos 1970 enfrentou censura para interpretar Dona Ivone Lara no teatro, hoje colhe frutos de uma carreira que desafiou estereótipos. Seu canto em Xica da Silva (1976) ecoa agora nas batidas de Luedji Luna, provando que a cultura afro-brasileira não cabe em caixas.

Por trás dos holofotes, números revelam a urgência dessa celebração: apenas 34% dos personagens na TV brasileira são negros, segundo a ANCINE. O especial, que será exibido no E! Entertainment e Universal+, desafia essa estatística ao colocar mulheres negras como narradoras de suas próprias histórias – sem mediações brancas.

Ao mesclar a ginasta olímpica, a cantora de MPB, a promotora e a modelo, o programa mostra que o feminino negro é plural. Zezé, com sua voz rouca e sorriso largo, personifica essa multiplicidade. Seu abraço em Safyra, a neta, simboliza o que o especial propõe: um amanhã onde netas de ícones não precisem provar seu lugar – apenas ocupá-lo.

Mais que entretenimento, o especial é documento político. Lançado num Brasil onde uma mulher negra é assassinada a cada duas horas, ele recusa a ideia de que representatividade é concessão. Zezé Motta, que há 55 anos rompe barreiras, sabe que cada cena ali é trincheira. E o palco, território libertado.

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