Abbé Tossa
é um estilista que quer ser uma ponte entre os brasileiros e a ancestralidade Nascido no Benin e vivendo no Brasil há 11 anos descobriu na moda uma forma de resgatar o orgulho do povo preto brasileiro por Nonono Nono • foto Nonono Nono kuavi é o nome da marca criada por Abbé Tossa, 35, beninense que afirma ter como missão colaborar com o resgate da ancestralidade do povo brasileiro e ele tem usado a moda e o ensino de idiomas para inspirar e “criar pontes com o passado do povo promovendo um resgate ancestral”, explica.
No Brasil desde 2012, Abbé Tossa conta que o nome da marca já é um resgate ancestral. “No Benin as mulheres quando se casam recebem um novo nome da família do marido, minha mãe se chama Chiavi, mas em uma conversa, descobri que o nome de nascença dela é Kuavi, então resolvi fazer essa homenagem”, conclui.
A loja localizada na Zona Sul de São Paulo, no bairro Vila Mariana, abre para atendimento às 12h, 20 minutos antes, nossa entrevista foi interrompida pela chegada de clientes que sem cerimônia experimentam os modelos e ficam animadas com as estampas e as criações de Abbé. A marca ficou famosa depois que algumas personalidades negras brasileiras como Seu Jorge, Thiaguinho, Alessandra Lessa, Léo Santana, Manoel Soares entre outros, passaram a buscar os tecidos e criações de Abbé, mas o estilista autodidata conta que sua real inspiração são os brasileiros que ele cruza no metrô ou pelas ruas de São Paulo. “Eu vejo uma pessoa usando uma saia na rua e eu imagino como aquela roupa ficaria diferente, com as estampas que trago da África, com elásticos, enfim de uma forma que combine com os corpos brasileiros”.
Abbé Tossa é uma dessas pessoas criativas e cativantes. Principalmente, quando começa a falar de sua infância no Benin e da importância de sua mãe em sua vida. Abbé nasceu em uma aldeia mais ao Sul de Benin, chamada Besibe, no Estado de Aplahoué e é da etnia Adja.
Ele cresceu em meio a muitos irmãos em uma família poligâmica, “foi uma infância bem divertida. Com valores tradicionais do conceito Ubuntu, que veio de lá (África). Tenho muitos irmãos, sou de uma família poligâmica. Meu pai tem quatro esposas e me sinto privilegiado pois pude estudar em boas escolas particulares com a ajuda do meu irmão”, conta Abbé.
Com dois cursos universitários fora da área de moda (contabilidade que ele cursou ainda na África e Ciências Biológicas pela Unifesp) foi atuando como professor de idiomas que Abbé percebeu que os brasileiros estavam buscando mais conhecimento e identificação com a África. A imagem de um professor com as estampas ancestrais começou a causar uma identificação com os alunos e foi assim que o trabalho de ensinar o Iorubá se uniu as roupas, tornando-se parte da vida de Abbé.
A moda, que sempre esteve presente na vida da família e que “é de nascença”, conforme diz Abbé, floresceu ainda mais com sua experiência vivendo no Brasil. “Percebi que os brasileiros recebem as informações sobre a África sempre com notícias negativas, entregues pela imprensa e que tratam mais de guerras e conflitos. Se esquecendo do verdadeiro valor das pessoas e de nossos ancestrais. Por isso, o objetivo da Kuavi é resgatar a importância das mensagens contidas nos tecidos e promover, para além do uso das roupas, uma imersão na riqueza contida em nossa cultura e no uso de vestimentas” , termina.