1° de maio e o desemprego

Diversas manifestações de homenagens, felicitações comemoram o dia do trabalhador. Entendemos a importância e legitimidade desse dia marcado por lutas, greves, reivindicações, mobilizações em todo o país e, sobretudo, a valorização dos trabalhadores e trabalhadoras que com sua força do trabalho contribui para o desenvolvimento do nosso país.

A história do trabalho no Brasil nasce com a perversidade da escravidão dos povos originários no século 16 e posteriormente com a escravização de mais de 5 milhões de africanos sequestrados e trazidos para o trabalho forçado no Brasil.

O trabalho livre no Brasil, segundo o professor Lucio Kowarick, da Universidade de São Paulo, beneficiou centenas de imigrantes europeus a despeito dos milhões de homens e mulheres africanas recém “libertos” no processo da abolição da escravatura.

A precariedade no mundo do trabalho é uma realidade estrutural na sociedade brasileira, pois a exploração do homem sobre o homem, segundo Karl Marx, é o elemento central que estrutura as engrenagens do capitalismo.

Nesse dia 01 de maio não podemos deixar de pensar nos desmontes que ocorreram nos últimos anos nos governos neoliberais que se alinharam com o mercado financeiro e passaram a atender os interesses do capital estrangeiro gerando uma enorme instabilidade na economia brasileira. Os ataques aos sindicatos com a extinção da contribuição sindical que os trabalhadores e trabalhadoras cediam aos sindicatos de categorias vulnerabilizou a classe trabalhadora deixando patrões em vantagem para negociar contratos com precarização do trabalho e salários abaixo do mercado.

A reforma trabalhista foi outro golpe implacável para a classe trabalhadora. A flexibilização do trabalho com contratos que não dão garantias de FGTS, ferias, 13° salário e aposentadorias aos trabalhadores e trabalhadoras está gerando desempregos e queda na arrecadação de impostos que contribui com a estabilidade econômica do país.

A desaceleração da indústria e o investimento em exportação de matéria prima para o exterior, as altas taxas de juros impostas por países da Europa e nos EUA sobre a carne brasileira e os 1,1% do PIB nacional fez com que o Brasil entrasse numa recessão que atingiu em cheio a classe trabalhadora.

Nesse dia 1° de maio, não poderíamos deixar de falar dos trabalhadores e trabalhadoras que estão em suas casas vitimadas pela política econômica do governo federal que resultou em um batalhão de desempregados e desempregadas em todo o país.

A taxa de desemprego no Brasil subiu para 11,6% no trimestre encerrado em fevereiro, atingindo 12,3 milhões de pessoas, influenciada pelo aumento da procura por emprego e pelo corte de postos de trabalho nos setores de construção, administração pública e serviços domésticos, segundo divulgou o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

O presidente do senado David Alcolumbre apresentou um projeto que propõe o congelamento nos salários dos servidores públicos federais, estaduais e municipais. É fundamental observarmos esse processo  no contexto da pandemia do coronavírus, que está vitimado milhares de pessoas em todo o mundo, e como essa crise sanitária está impactando na quantidade de pessoas demitidas em vários setores da economia. Não há como desconsiderar o fato de que mulheres de pessoas vão ficar sem receber os 40% do FGTS das empresas que vão falir. Outro ponto a ser discutido é a terceirização em massa do serviço público que pode ampliar em escalas colossais o índice de desemprego alterando tragicamente as estatísticas, que já não são das melhores!

Charles Alcântara, presidente da Fenafisco (Federação Nacional do Fisco Estadual e Distrital) deu uma declaração dizendo:

“O Brasil possui 206 bilionários que, juntos, acumulam uma fortuna de mais de R$ 1,2 trilhão. Esses 206 bilionários pagam proporcionalmente menos impostos que a classe média e os pobres.

Se o país criasse um imposto de apenas 3% por ano sobre a fortuna de R$ 1,2 trilhão, seria possível arrecadar R$ 36 bilhões anuais, valor superior ao orçamento de 1 ano de todo o programa Bolsa-Família. A soma de toda a riqueza das famílias brasileiras é de cerca de R$ 16 trilhões de reais, estando a quase metade de toda essa riqueza – ou seja, R$ 8 trilhões – nas mãos de apenas 1 % das famílias. Se o país taxasse o patrimônio trilionário dessas famílias em apenas 1%, seria possível arrecadar R$ 80 bilhões, o que equivale ao valor de toda a receita estimada em 2020 para o Estado de Minas Gerais, o segundo mais populoso do Brasil, com mais de 20 milhões de habitantes.”

Façam as contas: R$ 36 bilhões cobrados sobre a renda dos 206 bilionários (+) R$ 80 bilhões cobrados sobre o patrimônio do 1% das famílias mais ricas (=) R$ 116 bilhões. Esses R$ 116 bilhões a mais nos cofres públicos sequer representam sacrifício para esse punhado de bilionários, mas equivale a praticamente todo o orçamento federal da saúde.

Nesse dia 1° de maio saudamos os trabalhadores e trabalhadoras de todo o Brasil, mas não podemos deixar de lembrar que nossas lutas contra o sistema que opera sobre a força do trabalho de milhares de homens e mulheres nesse país devem seguir firme com a convicção de que mudaremos a estrutura política, social e econômica desse país.

É preciso criar aquilombamentos nas estruturas de poder e acrescentar as digitais pretas para tirarmos o Brasil da subcategoria de pais com alto potencial econômico e social para eleva-lo ao patamar de potência econômica da América Latina.

 

*Tadeu Augusto Matheus (Tadeu Kaçula). Sociólogo formado pela Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo (FESPSP), Mestrando em Mudança Social e Participação Política pela Universidade de São Paulo (USP), coordenador nacional da Nova Frente Negra Brasileira (NFNB), fundador do Instituto Cultural Samba Autêntico e autor do livro Casa Verde, uma pequena África paulistana.

 

**Os artigos assinados não refletem necessariamente a opinião da RAÇA, sendo de responsabilidade exclusiva dos respectivos autores.

 

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