50 anos do ator Eduardo Silva, o Bongô

Veja a entrevista com o ator Eduardo Silva, famoso por interpretar o personagem Bongô no Castelo Rá Tim Bum

 

TEXTO: Maurício Pestana | FOTOS: Fabrízio Pepe e Arquivo Pessoal | Adaptação web: David Pereira

O ator Eduardo Silva na pele do entregador de pizza, Bongô, na série televisiva Castelo Rá Tim Bum | FOTO: Arquivo Pessoal

O ator Eduardo Silva na pele do entregador de pizza, Bongô, na série televisiva Castelo Rá Tim Bum | FOTO: Arquivo Pessoal

Por que a carreira de ator?

Acho que já nasci ator, quando eu era pequeno fui adotado, né. Como grande parte das mulheres negras na década de 60, minha mãe foi trabalhar de doméstica na casa de uma senhora, e essa senhora acabou se tornando a minha madrinha. Ela me vestia todo de branco. Imagine só, uma senhora de cabelo grisalhos com um neguinho todo de branco, parecia uma mosca no leite. Eu era simpático e todo mundo falava comigo. Até que o pessoal do Moacir Franco me convidou para fazer algo na TV, eu tinha 6 anos. Não lembro muito bem, mas sei que adorei fazer esse negócio, atuar. Em 1970, z o Pelé, ainda com seis anos, no programa Roquete Pinto. Mais uma vez, ainda não tinha noção do que estava fazendo. Por isso falo que nasci artista.

Embora você seja um excelente ator, também cou muito conhecido em São Paulo por dar aulas em cursinho pré-vestibular. Como dividia essas atividades?

O ano de 1986 foi muito legal, pois eu estava fazendo faculdade de biologia na USP e já dava aulas no cursinho. Dei aulas de biologia por quase 20 anos, porque viver do teatro é bem difícil. Em 1986 eu atuava em “A Dama e o Vagabundo”, que cou em cartaz por um ano, enquanto era professor no Colégio Objetivo. Ganhei três prêmios com a peça. Eu tinha 22 anos…

Você gosta mais de teatro ou faz porque a televisão é mais difícil para o ator negro?

Não. Adoro televisão. Comecei em 1976, fazendo comerciais, depois z a novela “Suave Paraíso”, em 1978, que só passava no nordeste. Eu até brincava que negro só fazia papel de escravo ou de bandido, e como eu era criança, fazia papel de filho de bandido, lho de empregado. Participei do “Drácula”, na Tupi, z “Meu Pé de Laranja Lima”. Em 1982, a Cultura fazia teleteatro e telenovela, z o escravo protagonista em “Tronco de Ypê” . Entre 1975 e 1985 quei em São Paulo fazendo televisão direto, tinha muito trabalho.

Eduardo Silva completou 50 anos em 2014 | FOTO: Fabrízio Pepe

Eduardo Silva completou 50 anos em 2014 | FOTO: Fabrízio Pepe

Embora tenha o aspecto negativo de não estar recebendo pelas reprises, seu personagem Bongo, do “Castelo Rá-Tim-Bum”, é quase tão famoso entre a criançada quanto o Saci, do “Sitio do Pica-Pau Amarelo” da Globo, não acha?

Sim, e tem um fato engraçado nisso: todo mundo me confundia com Romeu Evaristo, que fez o Saci. Quando o conheci, ele me disse que as pessoas também o confundiam comigo (risos).

Como você vê a lei de cotas para artistas negros? E como vê esse movimento dos artistas negros em vários grupos espalhados pelo Brasil?

Eu acho que é necessário, porque se não existir a lei que faça com que chame o negro, as pessoas não chamam. Nos Estados Unidos tem lei que exige uma porcentagem de negros nos filmes, nos teatros, peças, na TV, nas novelas… Se não tivessemcriado essa lei há décadas atrás, talvez o negro não teria a representatividade que hoje ele tem lá. Eu era contra as cotas nas universidades, mas a minha ex-esposa me ajudou a abrir a cabeça para a ideia. Só acho que, se somos 50% da populaçãono Brasil, deveria haver pelo menos 50% de negros nas novelas, e não dois ou três atores como acontece hoje. Acho curioso que judeu sempre faz filme falando do holocausto e não tem problema, mulheres têm os seus grupos e não tem problema, o seudia especial. Já o dia da Consciência Negra o povo diz que não precisa ter. As datas comemorativas são simbólicas, todos os dias são das mães, dos namorados e dos negros também.

E com relação aos grupos de teatro formado por negros?

Se não tivessem editais para bancar esses movimentos, a gente não teria uma produção, uma linguagem especica. No nordeste tem vários grupos, por exemplo, o Olodum, que é muito conhecido pela música, mas tem um grupo de teatro superfamoso, de onde veio o Lázaro Ramos. Aqui (São Paulo) tem o grupo Crespo, que vai fazer 10 anos no ano que vem. Na USP tem o Coletivo Negro e As Capulanas, e deve ter outros por aí que não conhecemos. Eles têm linguagem, têm público, mas fazem um teatro de negro para todos. Não é um teatro de negros só para negros. Quem tiver a possibilidade de ver os trabalhos deles, verá que é maravilhoso.

 

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