8 de Março também é das mulheres negras
Neste sábado, 08 de março, em que se celebra o Dia Internacional da Mulher, a Revista Raça compartilhar mini-biografias de mulheres negras notáveis que contribuíram e ainda contribuem para um mundo mais justo e diverso.
Benedita da Silva (1942-)
Benedita da Silva, natural da cidade do Rio de Janeiro, é a primeira senadora negra do Brasil. Faxineira, enfermeira, assistente social e trabalhadora desde cedo, aos poucos foi se destacando nos movimentos sociais. Primeiro nos movimento de base, no Chapéu da Mangueira, no movimento social negro e feminista e posteriormente na política partidária.
Ente os momentos de maior destaque na política está a participação fundamental nos processos de redemocratização do país e na Assembleia Nacional Constituinte, onde atuou como titular da Subcomissão dos Negros, das Populações Indígenas e Minorias.
Foi vice-governadora do Estado do Rio de Janeiro, senadora, deputada federal e atuou muitas vezes no Poder executivo, como Ministra de Assistência e Promoção social (2003-2007)
Carolina Maria de Jesus (1914-1977)
Carolina Maria de Jesus é possivelmente a escritora negra brasileira mais conhecida. O livro de maior destaque, Quarto de despejo foi traduzido amplamente e segue disponível ao redor do mundo.
Natural de Sacramento, município do Estado de Minas Gerais, passou a maior parte de sua vida em São Paulo, na Favela do Canindé, onde atuou como catadora de material reciclável e começou a escrever o seu diário, que depois se tornou seu livro mais célebre.
Sua escrita abriu caminho para muitas outras mulheres negras e não-negras que tomaram coragem para compartilhar suas histórias. Hoje, o gênero, mais conhecido como autoficção, é premiadíssimo.
Lélia Gonzalez (1935–1994)
Lélia Gonzalez foi intelectual, professora, filósofa e antropóloga brasileira, reconhecida como uma das principais vozes do feminismo negro no país, sendo inclusive reconehcida pela ativista norte-americana Angela Davis.
Nascida em Belo Horizonte, mudou-se para o Rio de Janeiro na década de 1940 e lá construí usa carreira academica e no ativismo social negro.
Lélia foi cofundadora de importantes organizações, como o Instituto de Pesquisas das Culturas Negras (IPCN) e o Movimento Negro Unificado (MNU). Seus trabalhos abordaram perspectivas interseccionais antes mesmo do termo ser cunhado, contribuindo significativamente para os debates sobre gênero, raça e classe no Brasil e na América Latina.
Entre suas contribuições teóricas, destacam-se os conceitos de “amefricanidade” e “pretuguês”. O primeiro refere-se à constituição de uma identidade afro-latino-americana, resgatando as bases identitárias de etnias dispersas e apagadas pela diáspora africana. Já o “pretuguês” diz respeito à africanização da língua portuguesa, evidenciando a influência africana na formação cultural brasileira.
Lucia Xavier (1959-)
Lúcia Xavier é assistente social e possui uma trajetória marcada pela atuação política, social e ativista. Participou de grupos de estudo marxistas e foi ativa no centro acadêmico, contribuindo para a fundação do Partido dos Trabalhadores no Rio de Janeiro.
Foi assessora parlamentar na Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro na década de 1990 e lá ajudou a criar o Disque Defesa Homossexual (DDH), um serviço pioneiro de atendimento a pessoas LGBT.
Lúcia se destaca também pela atuação no movimento de mulheres negras e na defesa dos direitos humanos. Participou do grupo AcordaCriola, ligado à comunidade da Cidade de Deus, e integrou o Instituto de Pesquisa de Cultura Negra. Em 1992, fundou a ONG Criola, dedicada ao enfrentamento do racismo, sexismo e homofobia, consolidando sua atuação em prol das populações vulnerabilizadas.
A ativista teve também participação relevante em eventos internacionais, como a III Conferência Mundial de Combate ao Racismo, em Durban, onde atuou como revisora da Declaração e do Plano de Ação.
Luiza Mahin (?)
Luiza Mahin foi uma revolucionária brasileira do período colonial, reconhecida como símbolo de resistência negra no país. Embora não existam registros documentais precisos sobre sua vida, acredita-se que ela tenha nascido na primeira metade do século XIX, possivelmente em 1812.
Luiza foi descrita poeticamente por seu filho, Luís Gama, como uma mulher bela e formosa, destacando sua origem africana e sua força simbólica na luta contra a escravidão.
Nas últimas décadas, especialmente no início do século XXI, a historiografia brasileira tem avançado na compreensão do papel de mulheres negras como Luiza Mahin na construção da história do Brasil. Esses esforços têm contribuído para valorizar sua atuação política e simbólica, destacando sua importância na luta pela liberdade e pelos direitos do povo negro.
Sueli Carneiro (1950-)
Sueli Carneiro é filósofa, escritora e ativista brasileira reconhecida por sua luta contra o racismo e o sexismo.
Sua atuação política ganhou destaque em 1988, quando fundou o Geledés — Instituto da Mulher Negra, a primeira organização negra e feminista independente de São Paulo. Essa iniciativa visava denunciar as discriminações enfrentadas pelas mulheres negras, resultantes da intersecção entre racismo e sexismo na sociedade brasileira. Além disso, Sueli coordenou o Programa Mulher Negra do Conselho Nacional dos Direitos da Mulher (CNDM), onde organizou eventos significativos, como o Tribunal Winnie Mandela, que trouxe à tona questões cruciais sobre a opressão racial e de gênero.
No campo acadêmico, Sueli Carneiro defendeu, em 2005, sua tese de doutorado intitulada “A construção do outro como não ser como fundamento do ser” na Faculdade de Educação da USP. Essa pesquisa, publicada em 2022 pela Editora Zahar sob o título “Dispositivo de racialidade: a construção do outro como não ser como fundamento do ser”, analisa as estruturas de poder que perpetuam a marginalização racial. Apesar de sua sólida formação acadêmica, Sueli frequentemente destaca que sua verdadeira educação veio do movimento negro, evidenciando a importância das vivências e lutas coletivas na construção de seu pensamento crítico e ativista.
Tereza de Benguela (?)
Tereza de Benguela foi uma importante líder quilombola que viveu durante o período colonial brasileiro. Nascida no Reino de Benguela, por volta de 1700, Tereza foi escravizada e posteriormente fugiu do cativeiro imposto pelo capitão Timóteo Pereira Gomes.
Após a fuga, tornou-se esposa de José Piolho, que liderava o Quilombo do Piolho, localizado às margens do rio Guaporé, na atual cidade de Vila Bela da Santíssima Trindade, Mato Grosso. Com a morte de José Piolho, Tereza assumiu a liderança do quilombo, destacando-se como uma figura central na resistência negra e indígena contra a escravidão.
Sob a liderança de Tereza, o Quilombo do Piolho prosperou durante quase duas décadas, reunindo uma comunidade formada por pessoas negras e indígenas que se organizaram para resistir ao sistema escravista.
Sua trajetória é reconhecida por força da Lei n. 12987/2014 , que instituiu o Dia Nacional de Tereza de Benguela e da Mulher Negra, a ser comemorado, anualmente, em 25 de julho
Zezé Motta (1944-)
Zezé Motta, natural de Campos de Goytacazes, no Estado do Rio de Janeiro, é atriz e cantora brasileira, reconhecida como uma das maiores artistas do país e importante expoente da cultura afro-brasileira. Sua trajetória profissional teve início no teatro, destacando-se na peça Roda Viva, de Chico Buarque, no final da década de 1960. No mesmo período, iniciou sua carreira na televisão com um papel na novela Beto Rockfeller, na TV Tupi. No cinema, conquistou grande destaque ao interpretar a personagem-título no filme Xica da Silva (1976), que lhe rendeu prêmios como o Air France, Coruja de Ouro e o Prêmio Governador do Estado.
Como ativista, Zezé Motta sempre esteve engajada na luta contra o racismo e na valorização da cultura negra. Sua trajetória como artista e defensora dos direitos humanos fez dela uma figura essencial na promoção da igualdade racial no Brasil. Ao longo de sua carreira, Zezé foi homenageada com diversos prêmios honorários, como o Troféu Oscarito e o Grande Otelo Honorário, consolidando seu legado como uma das grandes referências culturais e sociais do país.
Fontes: Dicionário Mulheres do Brasil: de 1500 até a atualidade, de Schuma Schumaher e Érico Vital Brasil; Acervo Casa Sueli Carneiro; Wikipédia. Parte do conteúdo foi produzido com apoio de inteligência artificial.