90 anos do soul man brasileiro

Nascido em 26 de maio de 1930, Tony Tornado chega aos 90 anos nesta terça-feira com o orgulho de ser uma das vozes pioneiras da black music feita no Brasil no alvorecer da década de 1970.

Cantor, compositor e ator, o paulista Antônio Viana Gomes se autodefiniu como um “cantor que atua”.

Quem viveu em 1970 sabe que, há 50 anos, não foi o ator, mas, sim, o cantor Toni Tornado – então com o i no lugar do y que ele poria posteriormente no nome artístico – que conquistou o Brasil.

Ao se transformar em discípulo nacional de James Brown (1933 – 2006), cantor norte-americano que propagou o funk para todo o universo pop nos anos 1960, Tornado balançou e seduziu o Brasil ao vencer a sexta edição do Festival Internacional da Canção (FIC), realizada em 1970.

A vitória veio com a interpretação da música BR-3 (Antonio Adolfo e Tibério Gaspar), composição influenciada pelo funk e pelo soul de James Brown, cantada com vigor por Tornado com a adesão vocal do Trio Ternura.

Lembranças de uma época 

O ano era 1970. Eu era muito criança ainda, mas lembro do clima pesado de autoritarismo que regia aquela época. .

Na escola primaria, éramos obrigados a cantar o Hino Nacional com as mãos no peito, todos os dias. A “normalidade” daquele epoca só era quebrada quando, a caminho da escola, nos deparávamos com algum defunto ou “presunto” no meio do caminho. São Matheus, bairro da periferia de São Paulo onde cresci, era uma região de desova de corpos, assassinados pela policia política do regime militar, denominada pela pouca imprensa livre como “esquadrão da morte”. .

Além do clima cinzento em meio ao medo, temor e terror, a
a pouca informação local e mais a importada era a forma de se formar e informar.

A terrível e idiota censura que havia no Brasil limitava as informações sobre o país, porém as informações e luta dos negros nos Estados Unidos, que explodiam com os movimentos anti-apartheid, refletiam forte por aqui. E dois homens negros eram vistos  como ameaças por reproduzirem um pouco hits que lembravam os protestos negros que também embalavam as ações nos Estados Unidos: Wilson Simonal, com o Tributo a Martin Luther  King (Sim, eu sou um negro de cor/ Meu irmão de minha cor/ O que te peço é luta sim. Luta mais que a luta está no fim), e Tony Tornado com o Trio Ternura, composto por três cantoras negras que, por si só, visualmente, eram um afronte ao regime que vendia mundo afora uma falsa democracia racial cujo  modelo de garoto propaganda era o Pelé casando-se com uma loira. A gente se encontra na BR-3… .

 

 

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