A carreira da cantora Karin Hils

Veja a trajetória de Karin Hils, cantora ex-Rouge

 

TEXTO: Mabell Reipert | FOTOS: Divulgação | Adaptação web: David Pereira

A cantora Karin Hils | FOTO: Divulgação

A cantora Karin Hils | FOTO: Divulgação

A mãe cantava na igreja e seu pai era puxador de samba nas noites cariocas. “Diante disso, minha casa sempre teve muita música. Nós ouvíamos de tudo, absolutamente tudo. Acredito que cultura é isso também. Não tínhamos uma vida muito fácil, mas um bom ‘três em um’ não podia faltar de forma alguma. O som tinha que ser o melhor e o mais alto da rua, e todas as músicas de sucesso tinham que chegar primeiro na minha casa”, comenta, aos risos. E ela imitava todo mundo, no canto e na dança. “Era trilha sonora de todas as novelas, Roberto Carlos, The Fevers, Michael Jackson, enfim, todos os sucessos populares”, completa Karin, cuja timidez a levou para o mundo da música. Toda a semana, a então menina passava por consultas com uma psicóloga que, certo dia, comentou que o canto seria uma maneira fácil e gostosa para que se comunicasse e se expressasse melhor diante das pessoas. E, observando os pais que adoravam cantar, ela passou a dar mais atenção ao comentário da psicóloga. “Não tenho lembranças claras disso, mas acredito que o dom está no sangue.”

Na adolescência e mais consciente, ela começou a selecionar suas opções e passou a ouvir o que realmente tocava o seu coração. Seus estilos preferidos eram R&B, Soul, Funk e baladas na voz de Whitney Houston, Mariah Carey, Deborah Cox, ou seja, as divas. Ela soltava a voz quando estava sozinha em casa, principalmente enquanto fazia a limpeza da casa. Na escola, aproveitava o intervalo e os pedidos dos amigos para cantar. Era um sucesso entre a turma, tanto que, no dia de sua formatura, Karin teve de deixar a timidez de lado e cantar em público. E fez bem bonito! Com 17 anos, após dar uma palhinha em uma churrascaria, recebeu convite do proprietário para cantar samba – o estilo que ela mais lhe agradava – nos finais de semana. Sempre em companhia da mãe, ela também passou a fazer shows em cidades vizinhas. Com a morte da mãe, Karin resolveu tomar um rumo em sua vida, acreditando que a carreira de cantora pudesse realmente  decolar. Não pensou duas vezes e se mudou para São Paulo, onde as oportunidades, segundo ela, apareceriam com maior facilidade. Dito e feito.

Na capital paulista, após alguns testes, Karin deu o primeiro passo para se tornar uma cantora de sucesso. Tornou-se backing vocal da banda do cantor Netinho de Paula, hoje vereador. Para garantir o sustento, conciliava os shows com outras atividades, como promotora de karaokês e cantora de lojas e supermercados para atrair clientes. Em uma bela noite, quando deixou o trabalho e chegou em casa, viu na televisão a chamada do programa PopStar, do SBT. Mesmo com receio, resolver se inscrever (a inscrição foi feita no último dia, a pedido de algumas amigas). “Não botei muita fé, logo imaginei que isso já tivesse cartas marcadas. Na noite anterior havia feito um show que me rendeu R$ 30, e foi com este dinheiro que fiz a inscrição. Na verdade foi onde tudo começou”, relembra. E começou uma bateria de testes eliminatórios. Todas foram avaliadas nos quesitos canto, afinação, desenvoltura diante das câmeras, ritmo, carisma, dança… No final, Karin e mais quatro garotas (Aline Wirley, Fantine Thó, Luciana Andrade e Patrícia Lissa), foram selecionadas entre 30 mil candidatas e formaram o grupo de música pop Rouge, que fez um grande sucesso por todo o Brasil com mais de 1,5 milhão de cópias vendidas com o primeiro álbum, o que rendeu a elas um disco de diamante. Karin lembra dessa fase com muito carinho: “Foram quatro ou cinco anos de trabalho intenso, e a gente não teve tempo de pensar no que estava acontecendo. A fase no Rouge foi, sem dúvida, um momento incrível em minha vida e, às vezes, paro e penso se isso tudo aconteceu mesmo. Eu saí de casa um dia para participar de uma seleção e nunca mais voltei. Entrei num processo por quase seis meses, sem falar com a minha família direito e não tendo nenhum tipo de comunicação externa, a não ser monitorada. Até que num belo dia acordo muito famosa, um monte de pessoas que você nunca viu falando tudo a seu respeito. Foi tudo muito louco”, comenta, entre risos e emoção.

Além de cantora, Karin Hils também é atriz | FOTO: Divulgação

Além de cantora, Karin Hils também é atriz | FOTO: Divulgação

Com o fim do grupo, em 2005, Karin Hils começou a participar de grandes musicais. Fez Hairspray, Emoções Baratas e, atualmente, segue no elenco de Xanadu. No primeiro espetáculo, ela foi dirigida por Miguel Falabella e caiu nas graças do famoso diretor, o que lhe rendeu um convite para estrear na televisão na novela Aquele Beijo.“Meu personagem em Hairspray tinha uma grande importância no musical, era uma mãe negra que lutava pela igualdade social, tema muito discutido. Foi por causa desse trabalho que ele me chamou para a novela.” No folhetim, Karin interpretou a personagem Bernadete – cabeleireira de personalidade forte, que sofreu preconceito por namorar o médico Ricardo (Frederico Reuter). “Fiquei encantada com este presente do Miguel. A Bernadete é uma personagem com o perfil da mulher brasileira, aquela que corre atrás mesmo, que luta pelos seus direitos”, diz a cantora e atriz, garantindo que nunca pensou que, um dia estaria fazendo novela, mas que trabalhando no meio artístico foi inevitável e até necessário. “Aprendi e aprendo até hoje muita coisa observando meus companheiros de trabalho e, principalmente, acreditando no meu feeling. Fazer televisão foi um dos desafios mais deliciosos que eu tive em toda a minha carreira e penso todos os dias em como agradecer o Miguel – umas das pessoas mais generosas que já conheci –, pela aposta”, afirma.

E quando o assunto é preconceito racial, Karin Hils não deixa de fazer um paralelo entre a cabeleireira Bernadete (sua personagem na novela) e sua vida pessoal. Karin diz que já sofreu preconceito no passado, mas que hoje não se lembra da maioria deles. Ela confessa que nunca foi educada para enfrentar essas situações, nem mesmo se defender. Achava normal quando alguém dizia que seu cabelo era ruim, que não tinha jeito. “Eu acho que até dava razão, nunca me foi dito algo diferente, o contrário. A gente cresce com isso, com essa ideia e a vida segue. Creio que a maioria das pessoas negras da minha geração e do meu nível social na época deve entender o que estou querendo dizer”, explica Karin, que veio de uma família humilde. E a moça continua: “Não tinha a mínima ideia de quem eu era, de como a minha pele e as minhas tranças eram lindas, de que o meu cabelo era duro mesmo. Não tinha noção da minha cultura, da minha origem. Tudo isso não passa de falta de informação, educação e cultura, mas de maneira nenhuma culpo os meus pais por isso, eles também foram vítimas, os meus avós, também. Graças a Deus, isso mudou na minha vida e, sem dúvida nenhuma, esse processo de autoconhecimento e valorização se deu após a minha mudança para São Paulo.” Foi na capital paulista que Karin teve acesso a essa consciência negra e, aos poucos, foi se desenvolvendo como cidadã. Hoje, não sofre mais preconceito, sabe se defender e se manifestar, tomando uma postura absolutamente diferente de anos atrás. “Muita coisa mudou, mas a gente ainda tem uma longa estrada pela frente”, completa. E por falar em estrada, Karin Hils pretende seguir carreira solo como cantora, com ênfase na black music e na MPB, em um projeto bem original e brasileiro ao lado do músico Torquato Mariano. E quando a folga no trabalho é maior, ela não deixa de seguir rumo à pequena Paracambi, para desfrutar do sossego do local e do aconchego da família.

 

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