Pele negra, máscaras brancas
Saiba mais sobre Frantz Fanon, autor do livro Pele negra, máscaras brancas
Texto: Oswaldo Faustino | Foto: Divulgação | Adaptação wb Sara Loup
Cinco ou seis velhos militantes negros numa mesinha de café, num shopping central de uma metrópole brasileira. O debate é acirrado. Cada um está envolvido com um partido político, mas, curiosamente, todos concordam com uma fala: “As questões raciais em nosso país são suprapartidárias. Nenhum dos partidos tem, realmente, um programa sério voltado ao nosso povo”. E é nesse momento que esses jovens dos anos 70 começam a relembrar os intelectuais que fizeram suas cabeças naquela época: Aimé Césaire, Stockley Carmichael, Malcom X, Eldridge Cleaver, Amílcar Cabral, Agostinho Neto, Kwame N’Krumah, Leopold Sédar Senghor, Langston Hughes, Jomo Keniata, Sekou Touré, Nicolás Guillén, Peter Abraham, Alioune Diop, Lumumba, James Baldwin, Marcus Garvey…
Até que alguém lembrou Frantz Fanon. Pausa geral.
O psiquiatra nascido em 1925, na Martinica, nas Antilhas, foi uma voz diferencial na história da consciência negra, na diáspora. Guerrilheiro voluntário na Frente de Libertação Nacional (FLN), nas lutas de libertação da Argélia do julgo colonial francês, não chegou a ver aquele país livre, o que só ocorreu em 1962, um ano após a sua morte, em Washington DC.
Importante lembrar que Fanon rejeitou o conceito de Negritude, de Césaire. Defendia a luta armada: “É uma força que liberta o oprimido de seu complexo de inferioridade, de seu desespero e inação. E, sem medo, restaura sua autoestima”, dizia. Marxista por formação, foi profético ao afirmar que as nações pós-coloniais do Continente Africano não poderiam simplesmente substituir os burgueses brancos que estavam no poder, por negros de mentalidade burguesa educados na Europa, pois seria apenas uma substituição de um opressor capitalista por outro.
O incendiário Malcoln X poderia ser considerado um bombeiro diante de Frantz Fanon, autor de Pele negra, máscaras brancas (1952), L’An V de la révolution algérienne (1959) não traduzido para o português, Os Condenados da Terra (1961) e Pela Revolução Africana, publicado postumamente, em 1964.
É importante valorizar a paz e até a força da não violência. Mas, cá entre nós, não está na hora de recarregarmos as nossas baterias? Vamos ler Fanon!
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