Conheça Edvaldo Vieira 1º CEO Negro da Amil

A Amil – UnitedHealth Group, multinacional em serviços de saúde, anunciou agora pouco seu novo presidente, Edvaldo Vieira. A posição de CEO da empresa, é um marco extremamente importante para os afro brasileiros e para os negócios no Brasil.
A premiada corporação brasileira é referência na área de Saúde e atua em diversos países, sendo reconhecida como uma das 20 empresas mais inovadoras do Brasil, de acordo com o ranking da Época.

Para Maurício Pestana, CEO da Revista Raça, este é um dos maiores ganhos que os brasileiros podem comemorar por este ano. “Não é só porque eu já conheço a sua excelente trajetória e trabalho, mas realmente é um momento de muita importância para todos nós. Meses atrás, inclusive Edvaldo foi capa da Raça, onde publicamos uma matéria completa sobre ele, contando a sua trajetória pessoal e profissional até atingir uma posição de liderança, que já era bastante inspiradora”, finaliza Pestana.

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Administrador de Empresas, com MBA pelo Insper, possui curso de especialização em Liderança pelo Insead e FGV-CEO.

Edvaldo Vieira destaca que as oportunidades, por menores que sejam, precisam ser agarradas com afinco.

“Comecei a trabalhar com 15 anos, como office boy do Banco Real. Já vislumbrava a possibilidade de evoluir e ficava atento às oportunidades que surgiam. A empresa tinha um programa de trainee interno e tive a oportunidade de me desenvolver lá dentro, aprender como funciona o sistema bancário. Quando comecei a trabalhar na agência, estava prestando vestibular e passei para uma faculdade privada, mas a mensalidade era maior que o meu salário.  Ali aprendi que quando você tem uma oportunidade e um problema que tem solução, na verdade você não tem um problema, tem um desafio. E a solução era ganhar mais”, conta.

Investir no conhecimento, ele observa, era uma necessidade.

“Sempre tive em mente que precisava me destacar. Primeiro por ser um homem preto que naturalmente já tem menos oportunidades. Segundo, pelo meu dever como filho mais velho de uma mãe viúva de quatro filhos. Meu plano era simples e objetivo: trabalhar, me esforçar, estudar e me diferenciar para conseguir aumentos e promoções para poder melhorar meu poder aquisitivo e ajudar a minha família”, diz Edvaldo.

“Um dia, voltando para casa, vi um anúncio no metrô sobre vagas no Citibank, com uma série de pré-requisitos que eu não tinha, inclusive o tempo mínimo de experiência. Mas como o ‘não’ eu já tinha, resolvi apostar. Fiz o processo e passei! Lá, descobri o quanto a língua inglesa é valorizada no mercado de trabalho. Que bom que aprendi cedo!”, destaca.

Diante de um país com 56% da população declarada negra ou parda, uma pesquisa do Instituto Ethos destaca que 5% dos executivos são afrodescendentes. Destes, apenas 0,4% mulheres negras. E isso, graças às políticas públicas nos últimos anos que elevaram o número de negros formados nas universidades.

Billy destaca outro ponto de vista e volta a citar a falta de oportunidades. Ele enfatiza que poucos negros chegam à posição de liderança máxima nas corporações globais, no Brasil, pelo fato de as empresas não refletirem a nossa própria sociedade.

“Carregam consigo o viés inconsciente do racismo estrutural. Isso posto, você adiciona a baixa oportunidade que vem na entrada e, principalmente, a falta de oportunidades nas posições de liderança. Com isso, o funil fica muito restrito e o mercado acaba não tento candidatos tão próximos a essas posições”, diz.

Devemos vencer os estereótipos

Diante da diversidade latente do cenário global, as multinacionais têm, obrigatoriamente, que lidar com essas questões e deixar de focar em pré-conceitos e estereótipos. Um dos mais predominantes é o do homem branco com mais de 50 anos, como modelo convencional de CEO. Edvaldo Vieira aponta para o pioneirismo das multinacionais.

“De alguma forma, elas têm olhado para esse tema bem antes das empresas brasileiras. Tive a oportunidade de trabalhar em várias empresas e via, desde o início, o tema em questão. Mas não com a importância e intensidade de agora. Principalmente pelo momento de questionamento e cobrança no mundo. Mas também por vários estudos que têm sido apresentados, demonstrando que a diversidade melhora a rentabilidade das empresas. Esse estereótipo, sem dúvida é o predominante, mas começamos a ver empresas se questionando. E ao dar oportunidades às pessoas pela sua competência começa a surgir mais diversidade no topo de empresas bem-sucedidas.”

“A grande e esmagadora maioria que se formava e se preparava para ocupar estes cargos a 60 anos atrás, eram homens brancos ou seja, ainda colhemos o que nós mesmos plantamos. Por isso a necessidade eminente de ações afirmativas que benefício o povo negro. As empresas estão tendo que se reinventar, se o consumidor notar ou perceber que este padrão nas empresas que querem dominar o seguimento não pode mais ser aceitável.

As empresas estão tentando mudar a roda com o veículo em movimento para mitigar as perdas por falta da tal inclusão, que muitos nem sabem do que se trata, mas sabe que tem que participar.”

Além dos cargos máximos de liderança, a predominância branca ocorre, também, nos conselhos. Billy afirma que é preciso focar na inclusão e na diversidade em todos os setores. Ele enfatiza que se trata de um assunto é árduo e difícil, mas, ao mesmo tempo, ressalta que o silêncio não é mais adequado.

“Entendo que devem haver ações intencionais e claras de promover a diversidade nos conselhos. Assim como quando provocamos a diversidade nas empresas, temos que ser intencionais na formação de conselhos com mais diversidade. Entendo que a diversidade melhora a rentabilidade das empresas e as permite cumprir uma importante função social. O tema Inclusão e Diversidade deve estar na agenda do Conselho também, já passou a hora de todos assumirem sua responsabilidade nesse processo. A luta é dos racistas contra os não racistas. Não é caridade e sim as empresas exercendo seu papel na sociedade. “

“A grande pergunta e o grande desafio será de como quem pode incluir e mudar estará disposto a entender seu lugar de privilegiado e concordar em dividir com outros, entender que ele não está reduzindo sua fatia do bolo e sim aumentando o tamanho do bolo. Entendo que isso não é uma derrota, mas sim uma grande evolução e vitória”, completa Billy.

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