CULTURA AFRO-BRASILEIRA NA MÚSICA

O colunista Moisés da Rocha escreve sobre a cultura afro-brasileira na música. Confira

 

TEXTO: Moisés da Rocha | FOTO: Divulgação | Adaptação web: David Pereira

Moisés da Rocha fala sobre a cultura afro-brasileira na música | FOTO: Divulgação

Moisés da Rocha fala sobre a cultura afro-brasileira na música | FOTO: Divulgação

Apesar de uma série de circunstâncias que fragmentam e distorcem a essência da cultura Afro-brasileira, o povo negro se levanta e toma o espaço cultural do país criando, inovando e dialogando. Lembrar essas histórias nos faz vivos e ativos. Uma revolução foi causada na MPB pelo surgimento do samba “fundo de quintal”, saído da quadra do Bloco Carioca Cacique de Ramos e consagrado por seus mais autênticos representantes. Ali estavam Zeca Pagodinho, Jovelina Perola Negra, Leci Brandão, Grupo Fundo de Quintal, Mauro Diniz, entre outros popularizados pela rádio USP FM, através do Programa “O Samba Pede Passagem” e sua Caravana do Samba. Já em São Paulo, o destaque foi as manifestações que tiveram como “sede” a quadra da Camisa Verde e Branco, que, como em anos anteriores, como no caso do Grupo Os Originais do Samba (Mussum e Cia), abrigou os representantes do novo Samba carioca, no então Salão São Chic, na Rua Brigadeiro Galvão, Barra Funda. – Através da Rua do Samba, Botequim do Camisa” e do Clube do Pagode surgiram nomes que fazem até hoje a historia do samba paulistano, como Boca Nervosa, Reinaldo o Príncipe do Pagode, Eliana de Lima, Royce do Cavaco e muitos Grupos de Pagode. Também alcançaram a notoriedade, os compositores Mestre Talismã, Murilão da Boca do Mato, Zeca da Casa Verde, B. Lobo, Geraldo Filme e muitos Grupos.

Foi o grande momento do Samba. Depois disso, muitos Grupos influenciados pela indústria fonográfica e pela mídia que comercialmente enxergou o grande filão, seguiram um outro caminho, o do sucesso mais fácil e mais rentável, financeiramente. Diversos grupos e cantores que permaneceram fiéis do estilo tradicional, de repente se viram ignorados pela mídia, com pouquíssimos espaços em Programas de Rádio e Tv e, na maioria das vezes, contaminados pelo famigerado e insaciável “jabá” (giria que se refere ao pagamento de propina para que seja feita a divulgação de um produto artístico nos meios de comunicação). Mas, nem tudo estava perdido! A grande e heróica resistência já estava se organizando, sem alarde. Fora dos meios badalados, as rodasde samba que sempre existiram, quer nas batucadas nas beiras dos campos de várzea, quer nos saraus familiares de fim de semana em torno de uma churrasqueira, criaram os alicérceres, a partir dos quais, as comunidades em São Paulo foram se organizando. O pioneiro que se tem registro na historia surgiu em Osasco (zona oeste) da grande São Paulo, denominado “Samba Nosso”, que inspirou a Comunidade Samba da Vela. Esta agremiação foi fundada em Santo Amaro, pelos sambistas Chapinha e Paquera. Outros foram surgindo, como a Comunidade do Samba de São Mateus (Zona Leste paulistana), que acabou provocando o surgimento do hoje internacional Quinteto em Branco e Preto (tendo os irmãos Maurílio e Magnu também como integrantes do Samba da Vela).

Cada uma dessas Comunidades se tornou um verdadeiro ponto de referência para os moradores de todas essas localidades, em todas as faixas etárias pois, além de promover o resgate do Samba como Cultura Popular afrodescendente, ainda desenvolve os mais variados projetos de cunho social, até agora sem o apoio e/ou interferência do Poder Público, recebendo sempre Sambistas do Rio de Janeiro e de outras partes do Brasil, o que já provocou o surgimento de inúmeras parcerias musicais. Continuamos torcendo para que a Mídia-mercado, principalmente a televisiva, não tome conta também desse segmento, descaracterizando-o e tirando-lhe a espontaneidade, como já aconteceu com o Carnaval e outros movimentos culturais. Atualmente, as centenas de Comunidades do Samba, são os Quilombos de Resistência de Nossa Cultura Popular.

 

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