Por que ainda há tão poucos negros em posição de destaque?
Por: Rachel Maia
Ser um empresário ou um executivo negro bem-sucedido no país é, ainda, estar em uma posição solitária. Claro, muita coisa tem acontecido nas empresas e no mercado para tentar sanar – ou, ao menos, minimizar – esse problema. Os programas exclusivos para contratação de negros abertos por gigantes como Magazine Luiza, Bayer, P&G e tantas outras são um exemplo de que as coisas estão começando a mudar.Mas o fato é: profissionais negros ocupam apenas 6,3% dos cargos de gerência em 23 grandes empresas nacionais e multinacionais, como Bradesco, Ambev, Petrobras e Unilever. O dado apareceu em um estudo da Iniciativa Empresarial pela Igualdade Racial. A quantidade é menor ainda em cargos executivos: 4,7%.
Essa realidade reflete alguns problemas. Um deles é o viés inconsciente nas contratações. Mesmo quem não se considera racista acaba tomando decisões baseadas em preconceitos de raça. Quatro séculos de escravidão em nosso país, além de regimes que institucionalizaram a segregação de negros num passado não distante, como o apartheid na África do Sul, têm reflexo no inconsciente coletivo.
Isso faz com que nós, pretos, sejamos vistos como ótimos trabalhadores braçais, mas menos hábeis quando o assunto são atividades intelectuais. Isso acaba sendo tomado como verdade mesmo que a pessoa não perceba. Por outro lado, quanto mais brancos são contratados, mais brancos eles contratam, porque temos essa tendência de nos cercar de iguais.
“Profissionais negros ocupam apenas 6,3% dos cargos de gerência em 23 grandes empresas nacionais e multinacionais…”
Outro problema é a falta de programas de fato dentro das empresas para desenvolver e capacitar os talentos negros. Ser uma empresa diversa dá trabalho. Isso não acontece da noite para o dia. É preciso que os chamados C-levels estejam envolvidos e comprometidos com esse objetivo – e não que apenas aproveitem para surfar a onda da inclusão para aparecerem em matérias de jornais e revistas.
Reconhecer o racismo como um problema estrutural é o primeiro passo para começar a mudar de verdade esse cenário. As notícias são boas nesse sentido. Dentre essas mesmas 23 empresas que foram analisadas no estudo Iniciativa Empresarial pela Igualdade Racial, 19 já contam com comitês para debater a diversidade racial entre suas paredes; 16 delas contam com eventos regulares para tratar do tema e nove, com projetos de treinamento e formação permanentes. O caminho é longo, mas saber que estamos na rota certa já é um grande alívio.