A missão transformadora da literatura negra
Ler o que pessoas negras escrevem tem me trazido grande aprendizado, reflexão e até mesmo cura. Sempre encontro um ponto de conexão entre a obra, o/a escritor/a e eu. Esse sentimento vem me perseguindo há algum tempo e me incomodando, especialmente nesses dias, enquanto estou lendo o livro “Em busca de mim”, de Viola Davis.
Contudo, depois de ouvir o professor, escritor, poeta e ativista negro, Cuti, em um evento on-line, denominado “Rodas Literárias”, promovido há poucos dias pela Casa Sueli Carneiro, tive a certeza de que o meu sentimento era assertivo e legítimo.
Cuti diz que “a literatura tem a função de restabelecer a humanidade que o racismo tentou tirar de nós” e acrescentou que “o racismo não nos atravessa, ele nos habita e, por isso, precisa ser trabalhado em nós e a literatura faz exatamente isso”.
Com essa reflexão, o professor defende que a linguagem artística, ao se direcionar também para as emoções, permite transformações orientadas àquilo que nos move enquanto pessoas: as emoções.
Por isso, ainda que eu esteja lendo algo completamente ficcional, em que, muitas vezes, não são explícitas as características das personagens a ponto de eu não ter nitidez se são ou não “pessoas” negras, em os/as autores/as sendo negros, os dilemas, questões e sentimentos desse racismo que nos habita sempre transparecem na obra e, por óbvio, me conectam com o texto imediatamente. Daí a importância primeira de pessoas negras lerem o que pessoas negras escrevem, porque é também dessa narrativa que se constrói o que é ou não é ser pessoa negra em África e na diáspora.
Na minha opinião, a importância segunda está estreitamente conectada com o tipo de produção que Cuti faz e que, talvez, toda pessoa negra também produza, ainda que de forma não declarada, e até mesmo inconsciente.
O professor disse que a literatura negra, aquela que ele produz, é de transformação social e coletiva. Porque ela surge a partir de uma formação coletiva, com aprendizados com os mais velhos e com os mais novos, em que todos podem aprender e que exatamente essa perspectiva de algo que nasce no bojo de um movimento, no caso, o movimento social negro, propõe a transformação social.
Por essas duas razões, é impossível, enquanto pessoa negra, leitora, jornalista e colunista de imprensa negra, passar desapercebida ou não ser tocada pela literatura produzida por pessoas negras, também razão de existir desta coluna.
Lançamentos
“A suspensão de Tomie Ohtake”, de Letícia Miranda apresenta uma proposta de diálogo, a partir de poemas e imagens, com a obra da artista plástica Tomie Ohtake. Os poemas, que o compõem o livro, não são uma tentativa de tradução ou legenda das obras da artista, são resultado de um processo de pesquisa de quem foi, e o que e como produziu Tomie Ohtake.
“Empreendedorismo da mulher negra: a potência“, de Ana Minuto retrata os desafios do empreendedorismo negro e evidencia a importância da mulher negra nos negócios, na busca pelo conhecimento, por atingir seus objetivos e principalmente a força e o empoderamento feminino. Os relatos são de especialistas negras de destaques em áreas de atuação diversas.