Isabel Filards, Jandaraci Araújo, Viviana Santiago e Em depoimentos emocionantes, mulheres negras compartilham o que é ser mãe hoje, refletindo sobre desafios, ancestralidade e afeto
Para marcar o Dia das Mães, a Revista Raça convidou mulheres negras a refletirem sobre o significado da maternidade nos dias de hoje. A partir de duas perguntas simples, mas profundas, reunimos depoimentos que revelam a força, os desafios e os afetos que atravessam a experiência de ser mãe negra no Brasil. As respostas compõem um mosaico potente de vivências, que inspiram, acolhem e fortalecem outras mães, neste e em todos os meses do ano.
Isabel Fillardis. Atriz, cantora e modelo, mãe de Analuz, Jamal Anuar e Kalel.

“Que tenhamos a força de um Baobá para guiar, orientar, nutrir da melhor maneira nossos filhos para contribuírem por uma sociedade mais justa, ocupando espaços e serem felizes e vitoriosos. Asè”
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Viviana Santiago. Pedagoga, especialista em diversidade e direitos humanos e Diretora Executiva da Oxfam Brasil e mãe de João Marcos.

“Ser mãe negra é ter consciência de que nós somos o sonho dos nossos ancestrais. Eu descanso e também me nutro dessa certeza deles, de que o futuro para nós seria melhor, e isso me impulsiona na educação e cuidado do meu filho. Hoje, um jovem negro, nordestino, que ingressa em Engenharia na USP. Agora, mais do que nunca, conectá-lo com a ancestralidade e com a nossa negritude do presente é essencial. Para que essa subjetividade não seja capturada por uma branquitude que teima em fingir que quer nos tirar da cozinha, sem nunca nos deixar chegar até a sala. Ser mãe negra hoje é ensinar ao meu filho que nossa negritude é muito mais do que a experiência do racismo. Por isso mesmo, sendo de pele mais clara, ele é negro”.
Jandaraci Araújo é Professora, palestrante, mestre em Administração de Empresas, colunista da Revista Raça; uma das principais vozes em governança, ESG e inovação no Brasil e mãe de Diumara e Luana.

“Ser mãe negra, neste momento, é olhar para minhas duas filhas — mulheres fortes, donas de suas histórias, que estão construindo um futuro brilhante — e sentir um orgulho profundo por tudo o que elas representam. É saber que, mesmo diante dos desafios impostos pelo racismo e pelas desigualdades de gênero, elas seguem firmes, quebrando ciclos, abrindo caminhos e afirmando sua existência com dignidade e potência.
É plantar sementes em um solo que, sim, pode ser árido, mas também é profundamente fértil de ancestralidade, potência e reinvenção. É criar nossos filhos para um mundo que não controlamos, e por isso, nosso maior ato de amor é prepará-los para não se perderem de si mesmos — e para que, mesmo em meio às tempestades, sigam com dignidade e orgulho de quem são.”
Bruna Cristina da Silva. Professora, escritora e mãe de Heitor.

“É cuidar com muito amor, mas também com coragem. É ensinar meu filho a se amar, a se orgulhar de quem ele é, da sua origem , dos cabelos, da história da nossa família. É mostrar que ele pode sonhar alto, ser o que quiser, ocupar qualquer lugar. É estar presente, ensinar com o coração e também aprender com ele todos os dias. É uma mistura de amor, luta e muita esperança.
Mãe preta, você é força e amor. Não tenha medo de contar sua história pro seu filho, de mostrar pra ele o quanto é especial. Ensine com carinho, com paciência, com afeto. A gente não está sozinha. Quando a gente compartilha, a gente se fortalece. Que nossos filhos cresçam sabendo que são amados, potentes e que têm uma história linda para contar.”
Márcia Silveira. Escritora e mãe de Bruno e Daniela.

“É sempre um desafio, porque sabemos o que o racismo estrutural pode causar e queremos proteger ao máximo nossos filhos das pequenas ou grandes agressões diárias. Ser mãe negra é ter sempre medo de que meu filho e minha filha não voltem para casa ou que aconteça algum tipo de violência simplesmente pela cor da pele deles. Apesar de ser um desafio, a maternidade também vem acompanhada de muitas alegrias.
É sempre um sentimento agridoce, amor e culpa, alegria e medo. Uma mãe de filhos negros tem sempre mais lições a ensinar sobre a vida do que mães de filhos não negros e essa é a nossa luta diária: lidar com nosso medo, ensinando nossos filhos a viver neste mundo que nem sempre é acolhedor com eles. Que a gente consiga fazer isso da forma mais leve e amorosa possível”.