Entrevista com a atriz Cacau Protásio

Veja o que Cacau disse em entrevista à Raça

 

TEXTO: Renato Bazan | FOTOS: Janderson Pires | Adaptação web: David Pereira

A atriz Cacau Protásio | FOTO: Janderson Pires

A atriz Cacau Protásio | FOTO: Janderson Pires

Anna Claudia Protásio Monteiro – ou Cacau Protásio, na frente das câmeras – é um caso de sucesso tardio nas telinhas do país. Pensou em ser bailarina, bombeira, professora… apenas quando cursava a faculdade encontrou a vontade (ou a coragem, como diz) para ir buscar na atuação a alegria que não encontrava na pedagogia, e aos 25 estreou como profissional dos palcos.

Demorou mais 12 anos ainda, entre trabalhos de televisão e de teatro, para que conseguisse um papel que a desse a projeção que merecia, mas finalmente chegou “Avenida Brasil”. Como Zezé, a futriqueira empregada doméstica de Carminha (Adriana Esteves), Protásio conquistou gradualmente o carinho nacional ao interpretar um personagem que uniu humor a desenvolvimento de enredo, que deu graça infantil a uma trama pra lá de tensa.

Passada a paixão inicial com o público, Cacau participou da “Dança dos Famosos”, no Faustão, e do programa de cómedia de palco “Vai Que Cola”, do canal por assinatura Multishow, antes de retornar à grade diária na novela de época “Jóia Rara”, de Duca Rachid e Thelma Guedes. Nesse entrevista exclusiva à revista Raça Brasil, dada enquanto a atriz se preparava para o ensaio fotográfico que ilustra nossa capa do mês, Cacau conta não apenas sobre suas origens e sentimentos atuais, mas dos desafios que enfrenta como nova celebridade nacional. Além da passagem da comédia, que fez durante toda a carreira, para a atuação dramática em “Jóia Rara”, Cacau tem que dividir seu tempo entre os cuidados com a saúde, a agenda social ocupada e seu mais novo hobby: a dança, descoberta durante sua participação na “Dança dos Famosos”. Ela comenta ainda sobre a importância do ator no imaginário infantil, que muito se encantou com Zezé, e sobre os desafios de ser negra e gordinha num mundo no qual, como ela mesma coloca, quem manda são “as lindas, magérrimas, de cabelos louros e de olhos azuis”. Isso não significa que ela não reconheça o talento e o carinho que recebeu de veteranas como Adriana Esteves e Eliane Giardini, mas confessa: “No começo, chegava a sentir tremedeira perto delas”.

Você sempre quis ser atriz? Como você se descobriu nesse papel?

Quando eu era pequena, queria ser bailarina, mas não tinha bailarina gorda. Aí eu queria ser bombeiro, mas na época não tinha bombeiro mulher. Eu não sei em que momento da minha vida cheguei fazer faculdade de pedagogia, mas aí procurei o curso da CAL (Casa das Artes de Laranjeiras), que era para formação em teatro, e fui para esse lado. O primeiro dia foi frustrante, porque acabei chorando durante a primeira cena, e achei que não tivesse jeito, que não fosse conseguir, mas a cada dia eu ia gostando mais e mais e mais. Depois que eu me formei, percebi que era isso que eu queria fazer, e percebi que não me via fazendo mais nada além de teatro-televisão. Eu acho que eu sempre quis isso, desde pequena, mas eu não acreditava, e no momento da minha vida em que eu desisti foi que aconteceu.

Primeiro personagem da atriz na televisão, Zezé, em “Avenida Brasil” | FOTO: Divulgação

Primeiro personagem da atriz na televisão, Zezé, em “Avenida Brasil” | FOTO: Divulgação

Você acabou decolando com a Zezé, de “Avenida Brasil”. Como foi desenvolver aquele personagem?

Eu sou uma pessoa muito observadora, e tem pessoas que eu conheço que moram perto de pessoas de famílias [ricas] que observam muito. Quando fui fazer a Zezé, sabia que ela era muito fofoqueira, intrigueira e gostava de confusão. Ela não tinha marido, não tinha filho, não tinha namorado, então comecei a criar coisas em cima disso: que ela era invejosa, que era fofoqueira, e fui recriando conforme a Adriana [Esteves, que fazia a personagem Carminha] e as outras pessoas que estavam ali comigo iam mudando. Eu lia a cena, imaginava o que ela podia estar sentindo naquele momento e trabalhava em cima do sentimento. A Zezé sentia inveja, se sentia inferiorizada, e isso definiu como eu a fiz – para que ficasse engraçada.

O “Vai Que Cola” te deu uma projeção dentro da comédia que foi nova na sua carreira. Como você chegou ao humor? Qual a diferença entre fazer humor e fazer novela? 

Fazer novela… com o texto, às vezes a gente consegue fazer coisas engraçadas. Com o humor, é muito diferente, muito distante de mim. As pessoas perguntam se eu faço stand-up, eu falo que não, mas na Terezinha, do “Vai Que Cola”, tinha um pouco de stand-up. Eu não sei como é isso, mas quando eu entro em cena, quando eu vejo a reação do público e os meus colegas, eu encontro o que eu preciso para conseguir fazer [a cena]. Há uma diferença, porque na novela você decora um texto e em cima da fala você cria uma ação, tem um diretor te dizendo se dá certo ou não, e ali era uma coisa que era mais espontânea, a gente era livre para fazer o que quiser.

Como você enxerga o papel social do ator, principalmente junto aos jovens que fogem do padrão?

Acho que o ator é uma referência. Quando o jovem te vê fazendo algo na televisão, ele quer ser aquilo ali, ele quer ir por ali, fazer aquilo. Quando eles me vêem na televisão, interpretando meus papéis, imagino que eles queiram crescer, estudar e ter sucesso na vida profissional. O meu comportamento de vida não é de confusão, de estar em festas, em situações conflituosas. Não há notícias ruins sobre mim. A criança passa a querer seguir por esse caminho também: crescer, se formar, ter sucesso, independente de ser ator ou médico. O importante é ter uma vida boa, e eu posso dizer que tenho uma vida boa. Não estou rica, não estou milionária, mas profissionalmente estou bem, consegui me realizar, e é isso que o adolescente quer. Ver que eu fujo do padrão, que não faço parte das “bonitas”, é um incentivo. Hoje, graças a Deus, o mundo evoluiu e abriu espaço para todos, então não tem só a magérrima loura de olho azul, tem caminho para todo mundo. Por eu ter conseguido, as pessoas que se sentem excluídas sabem que podem chegar, podem conseguir, que o mundo é para todos.

Ser negra dificultou muito o início da sua carreira? Você passou por alguma forma de preconceito pesada?

Se eu passei, eu não percebi. Eu sempre fui chegando devagar, fazia o meu trabalho, sempre fui muito querida. Em todo lugar que vou, sempre deixo a porta aberta, eu nunca sofri preconceito diretamente, de ser maltratada, sempre tive muita sorte. Tem muita gente que reclama de quando chegou na Globo, mas comigo, desde minha primeira participação, sempre fui tratada muito bem por toda a equipe. Até hoje, eles são meus amigos e trabalham comigo direto, estão sempre comigo. Eu não posso reclamar.

 

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