A carreira de Adriana Couto, do programa Metrópolis
Veja a trajetória da jornalista Adriana Couto, apresentadora do programa Metrópolis da TV Cultura
TEXTO: Amilton Pinheiro | FOTOS: Rafael Cusato | Adaptação web: David Pereira
Adriana Couto lembra com nitidez da voz de sua mãe, dona Conceição, quando dizia a ela e a suas irmãs: “Minhas filhas, o lugar de vocês não é apenas aqui, é onde vocês quiserem, onde vocês se enxergarem.” Nascida em Itaquera, bairro da periferia de São Paulo e com poucas possibilidades de ascensão social (estamos falando de três décadas atrás), Adriana não tinha a compreensão exata daquelas palavras. “Meu mundo era Itaquera, meus pais, o colégio público onde estudava e meus amigos de lá.” Na verdade, dona Conceição se referia ao desenvolvimento educacional que as filhas recebiam. Apesar de estudarem em escola pública (na época, bem melhor que hoje), os pais de Adriana ajudavam na medida do possível na educação das quatro filhas. “Hoje entendo que eles ampliaram nossas possibilidades ao nos incentivar nos estudos e no melhor nível cultural. Muitos jovens na periferia não têm essa possibilidade de se enxergarem em outros lugares por falta de uma educação de qualidade nas escolas, de um melhor nível cultural e, às vezes, de um incentivo dos próprios pais”, explica.
Apesar da pouca educação formal (ambos tinham apenas a terceira série do ensino fundamental), os pais de Adriana não se descuidavam um minuto da educação de suas meninas. Ela conta, com orgulho, que apenas numa geração a família deu o “salto” na ascensão educacional e, principalmente, cultural, o que repercutiu em um melhor nível socioeconômico de sua família. Muito dessa mudança, Adriana atribui a luta do pai (migrante baiano que foi para São Paulo com o pai e mais nove irmãos). Pouco tempo depois, com a morte do avô, o pai de Adriana precisou trabalhar para garantir o sustento dos irmãos. “Ele começou como servente. Com o tempo passou a pedreiro e depois para mestre de obras. Com muita perseverança e espírito empreendedor, meu pai abriu uma pequena construtora e, com ela, ajudou a educar todas nós. Com a situação melhorando, ele chegava para minha mãe, bem pé no chão, e perguntava se não estava na hora de colocar todas nós para estudar em escola particular. Ela dizia que não, porque a situação poderia se reverter e aí teríamos que voltar a estudar em escola pública, o que poderia nos desestimular a querer continuar estudando. Minha mãe, dona Conceição sempre foi muito sábia”, conta a jornalista.
Todos esses esforços foram largamente compensados: todas as filhas do casal se formaram. Adriana fez jornalismo na Pontifícia Universidade Católica (PUC), uma das faculdades mais caras de São Paulo. Quem pagava era o pai! “Ficava com dó do esforço dele para pagar as mensalidades e comecei a vender planos de saúde para ajudá-lo.” Adriana queria fazer Rádio e TV, chegou a prestar o vestibular para a Universidade de São Paulo (USP), mas não passou. Aprovada na PUC/SP, foi cursar jornalismo. “Minha paixão era mesmo rádio e televisão. Eu gostava até mais da parte técnica. Achava que podia ser diretora de programa, trabalhar nos bastidores. Não achava que iria para a frente das câmeras, não me via com esse perfil”, relembra. Antes de terminar o curso, Adriana foi estagiar no SESC Itaquera, próximo de onde morava. Lá, ajudava na programação, nos shows e nas palestras da casa. O contato com o universo artístico e cultural a ajudou na decisão futura de trabalhar na televisão. Já formada, foi para a rádio CBN, primeiro como estagiária, depois como assistente de produção. Por essas coincidências da vida, Adriana trabalhou com Heródoto Barbeiro, seu grande mestre, com quem ela dividiria a bancada do Jornal da Cultura quando ingressou na emissora. “Heródoto Barbeiro é até hoje chamado na TV Cultura de professor. Ele foi para muita gente um professor e um belo exemplo dentro do jornalismo, pela sua postura ética, profissional, sua competência e sua paciência.”