A carreira de Cacau do Pandeiro
Saiba mais sobre o músico, mestre de nomes como Carlinhos Brown e companheiro de palco de Elza Soares, Cacau do Pandeiro
TEXTO: Sandra Almada | FOTOS: Peterson Azevedo/Divulgação | Adaptação web: David Pereira
“Um músico especial. A tradição que ele representa é o choro, a improvisação. Com ele, vamos ver como um ramo da música europeia encontra outros ramos da música africana e vai, a partir de uma série de negociações culturais, virar o chorinho”, diz o músico e escritor Paulo Costa Lima, professor da Faculdade de Música da Universidade Federal da Bahia (UFBa). Ele se refere ao instrumentista que, assim como o carioca Pixinguinha, emprestou seu talento para divulgar o chorinho nos quatro cantos do país e fora de nossas fronteiras. Nascido Carlos Lázaro da Cruz, em 1929, no bairro boêmio do Rio Vermelho, em Salvador, ficou conhecido pelo apelido de infância, associado ao nome de seu instrumento preferido. Cacau do Pandeiro não deixa dúvidas: o que lhe deu fama, “régua e compasso”, de fato, foram o talento notável e, principalmente, o rigoroso profissionalismo.
Do circuito do show bizz, por sua vez, são várias as vozes expressivas prontas a também reconhecer e valorizar o mestre popular como “símbolo da percussão no Brasil”. Dono de uma personalidade singular, entre os traços que distinguem o músico baiano, estão a sensibilidade e a vocação para compartilhar, generosamente, seus conhecimentos com quem o procura.
Nestes longos anos de atividade, Cacau do Pandeiro fez, entre jovens e talentosos artistas, alunos eternamente reconhecidos pelas lições ensinadas. Carlinhos Brown, por exemplo, o conheceu na Bahia, quando o criador da timbalada ainda era apenas um talento promissor. Segundo Brown, foi Cacau quem o ajudou a distinguir as sutilezas que um percursionista precisa conhecer sobre seu instrumento de trabalho. “Uma vez Cacau me disse: ‘Vou te dar um toque. A mão é a nossa baqueta, tem que saber usá-la. Aqui não é a rua. Aqui, no estúdio, você precisa ser mais suave (ao tocar o pandeiro). Se você bate com mais leveza, a música soa bem melhor, com doçura. Na rua, você até dá tapa no pandeiro, aqui você dá carinho.’ Nunca esqueci isto e apliquei para todos os instrumentos”, conta Carlinhos Brown, com um largo sorriso.