A carreira de Jair Rodrigues
Saiba mais sobre os 53 anos de carreira do músico Jair Rodrigues
TEXTO: Eli Antonelli | Adaptação web: David Pereira
Cidade de Curitiba. Último show de uma série de seis. Auditório lotado. Percebe-se muita gente que esteve no primeiro, no segundo, no terceiro show… Ninguém queria perder a explosão de energia que Jair Rodrigues promete e garante sobre o palco. Um Jair apaixonado pela vida, intenso que circula pelo Auditório saindo do lugar comum.
Canta suas canções com o público, senta no colo de várias pessoas, brinca, ri e provoca admiração e um amor que só os grandes artistas têm a capacidade de despertar. E lá se vão 50 anos do lançamento de seu primeiro disco, O samba como ele é, de 1963. Com ele, Jair Rodrigues foi considerado o sambista revelação em São Paulo. As canções que o consagraram nesse início de trabalho foram as regravações Brigamos, de Jorge Costa e Laercio Menezes; Tem bobo paratudo e Feio não é bonito, de Gianfrancesco Guarnieri, e O morro não tem vez, de Tom Jobim e Vinicius de Moraes. Jair lembra que o disco foi produzido por Antonio Borba, que o conheceu numa apresentação na noite e o convidou para o trabalho. E o samba continua conquistando todos os públicos e as novas gerações.
Jair acredita que o motivo seja esta mistura tão bem afinada que o ritmo permite, a entrada de vários instrumentos, até mesmo a inclusão da guitarra. “O samba é uma mistura de vários instrumentos: cabem violão, surdo, pandeiro, agogô, flauta, trombone, cavaco, pistão e até teclado, baixo”, diz Jair que, encantado com o estilo que o consagrou, relembra grandes mestres do samba como Donga (Ernesto dos Santos), que compôs e gravou o primeiro samba, Pelo Telefone, em 1917, no Rio de Janeiro, além de inesquecíveis intérpretes, entre eles, Francisco Alves, Ataulfo Alves e Chiquinha Gonzaga com o seu Ô abre alas, de 1889.
Falando nisso, o carnaval sempre foi uma grande paixão para Jair. Ele e Elza Soares foram os primeiros cantores a gravarem sambas-enredos e fortalecerem o estilo nas rádios. “Normalmente, apenas curtíamos essa maravilha que são os sambas-enredos. Aí nós passamos a gravar essas composições”, conta, relembrando o primeiro deles, Bahia de todos os deuses, do Salgueiro. E lá se vão muitos outros sambas-enredos e outras tantas escolas de samba, como Rosas de Ouro, Camisa Verde, Portela, Império Serrano…
O SEGREDO DE TANTA ALEGRIA
Em um mundo onde a correria e a competição imperam e que todos desejam a felicidade, mas se perdem na hora de buscá-la, supondo que felicidade são dinheiro, bens materiais ou uma coleção de relacionamentos, Jair Rodrigues dá a sua dica ao contar como consegue manter o sorriso constante e um brilho no olhar que só possui quem realmente é apaixonado pela vida
Seu segredo é a família! “A minha família é bem unida e isso me fortalece. Minha mulher agora tem um restaurante e eu tenho que dividi-la com o ‘Cantinho da Clô’ e com minhas netas também. Ela é apaixonada pelas netas. É muito dedicada! Tenho o Jair Oliveira e a minha filha Luciana. Eu gosto de dizer que se eu não for o homem mais feliz do planeta, sou um deles. Tenho um amor imenso pela minha família. Queria falar do meu pai, Rodrigo Severiano de Oliveira, que morreu quando eu tinha um ano e meio de idade. Minha mãe era jovem e casou novamente. Fui criado pelo meu padrasto, Alexandre José Soares, e me espelhei na união dos dois, no respeito com os filhos. Tenho um irmão mais velho, Jairo Rodrigues de Oliveira, e a minha irmã, Maria Aparecida Rodrigues de Oliveira. Minha família tem este respeito um pelo outro graças ao exemplo da minha mãe”, explica.
Papo vai, papo vem, e Jair volta a falar das netas, Isabela – filha de Jairzinho e Tânia Kalil – que “tem um talento fora do comum em tudo o que faz”, Isa, de cinco anos, e Laura, de apenas um aninho, ‘presentes’ da filha Luciana. “Meus filhos são meu orgulho. Fui assistir a um show do João Gilberto e ele perguntou sobre a minha filha, disse que ela será uma das principais vozes do Brasil. E isso dito por João Gilberto equivale muito, né? Senti o maior orgulho”, conta o pai coruja.
*Matéria publicada originalmente em 2013 na Revista Raça
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