A história do negro bimedalhista olímpico

Oswaldo Faustino conta em sua coluna a história de Adhemar Ferreira da Silva, o primeiro atleta a conquistar duas medalhas de ouro consecutivas em olimpíadas. Saiba mais sobre a história do negro bimedalhista olímpico

 

TEXTO: Oswaldo Faustino | FOTOS: Arquivo Histórico do São Paulo FC/Images searche pictures | Adaptação web: David Pereira

A história do negro bimedalhista olímpico | FOTO: Arquivo Histórico do São Paulo FC

A história do negro bimedalhista olímpico | FOTO: Arquivo Histórico do São Paulo FC

 

Caminhando por ruas das cidades brasileiras, a maioria de nós não se dá conta de que seus nomes homenageiam pessoas que, de uma forma ou de outra, deixaram alguma contribuição para engrandecimento de nosso País, de nosso povo. Daí, a minha mania de, sempre que possível, pesquisar quem foi a pessoa que denomina determinados logradouros públicos, em São Paulo, que não é minha cidade Natal, mas onde vivo desde o primeiro ano de minha vida.

E foi cruzando o Rio Tietê que me dei conta de que, há algum tempo, não falavado maior expoente da história do atletismo brasileiro e um dos grandes personagens paulistanos do século XX. Falecido em 2001, o bicampeão olímpico no salto triplo Adhemar Ferreira da Silva empresta seu nome à antiga pontedo Limão. Curiosamente a própria imprensa esportiva que só se lembra dele, a cada quatro anos, em Olimpíadas, no ano passado, anunciou que finalmente uma equipe brasileira alcançou seu feito (bicampeonato olímpico), mas ademar ainda é um marco: ouro olímpico em Helsinque, na Finlândia, em 1952; e em Melbourne, na Austrália, em 1956. Foi ganhador, ainda, de três pan-americanos, cinco sul-americanos, seis brasileiros e mais de 40 títulos internacionais.

Como desejava o grande compositor Nelson Cavaquinho, Adhemar, felizmente, recebeu muitas “flores em vida” e, entre tantas outras justas homenagens, ter seu nome na ponte que leva ao bairro onde nasceu, em 29 de setembro de 1927, a nigérrima Casa Verde, na Zona Norte da capital paulista. Como eu, era ele também filho de ferroviário com uma cozinheira.

Sua filha, a maravilhosa cantora Adyel Silva, lembra que a avó, pouco antes de se aposentar, ainda trabalhava numa função humilde na galeria Prestes Maia que ligava o Vale do Anhangabaú com a Praça do Patriarca, hoje tão fechada quanto a memória dos paulistanos.

Mas, não me lembrei de Adhemar Ferreira da Silva apenas para falar de esporte e de memória, mas para apresentá-lo com mais um excelente espelho para que nos miremos e encontremos força e referência para conquistas maiores. Por não acreditar no ditado: “Faça fama e deite na cama”, mesmo famoso, ele jamais parou.

Adhemar Ferreira da Silva com suas duas medalhas olímpicas | FOTO: Images searche pictures

Adhemar Ferreira da Silva com suas duas medalhas olímpicas | FOTO: Images searche pictures

Afastado das competições, em consequência de uma tuberculose, voltou-se para os estudos acadêmicos. Estudou na Escola Técnica de Belas Artes de São Paulo, onde se formou em escultura, formou-se em Educação Física, na Escola do Exército, em Direito, na Universidade do Brasil, e Relações Públicas, na Faculdade de Comunicação Social Cásper Libero. Poliglota dominava com maestria o inglês, o alemão, o italiano e o espanhol. Especializou-se em Relações Exteriores. Razão pela qual o Itamaraty reconheceu o seu valor e o convidou a exercer o cargo de adido cultural na Embaixada Brasileira, em Lagos, na Nigéria, cargo que ocupou de 1964 a 1967.

Seu conhecimento cultural passou inclusive pelo palco, quando integrou o elenco do espetáculo Orfeu da Conceição, de Vinícius de Moraes, com músicas de Tom Jobim e Luiz Bonfá, e também as telas com a adaptação cinematográfica intitulada Orfeu Negro, dirigida por Marcel Camus, o único filme brasileiro a conquistar o Oscar de filme estrangeiro.

Difícil relembrar esse nosso adido cultural na Nigéria e não se emocionar, principalmente por termos gozado de sua amizade e podido saborear de seu excelente humor e de seu limitado conhecimento da cultura nacional e internacional, particularmente das coisas de nossa gente. Adhemar sabia que para ser aceito no “mundo dos brancos”, tínhamos, sim, que “matar um leão por dia”, mas não era necessário se afastar de seu povo nem rejeitar as manifestações artístico-culturais negras, como muitos acreditam. Saudades!

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