A dor das Balas Perdidas na Cidade de Salvador.

Zulu Araújo

Não conhecia o Instituto Fogo Cruzado. Recentemente, fui surpreendido, não só pela qualidade do seu trabalho, bem como com os dados apresentados sobre a violência na cidade de Salvador, da qual sou morador e apaixonado. Para quem não sabe, o referido instituto vem realizando um excelente trabalho de coletas de dados sobre a violência em cidades como o Rio de Janeiro, Recife e agora Salvador. A missão da organização é fazer com que as cidades se tornem mais seguras por meio do uso de tecnologias abertas e colaborativas, visto que dados sobre a violência urbana são escassos no país. 

Antes de abordar o assunto propriamente dito, quero deixar claro que a gravidade da questão apresentada pelo Fogo Cruzado, não nos permite trata-la com leviandade, nem muito menos fazer politicagem, como alguns setores da extrema direita em Salvador estão querendo fazer, aumentando a sensação de insegurança para a obtenção de dividendos políticos. Essa atitude revela não só irresponsabilidade com a população, assim como não contribui em nada para a solução do problema.

Dito isto, vamos aos fatos: Os números apresentados pelo Instituto merecem a atenção de todos/as que se preocupam com a preservação da vida em nosso país. Afinal, Salvador não é uma cidade qualquer, além de ter sido sua primeira capital, produz e compartilha para todo o Brasil manifestações culturais, particularmente de origem negra, que orgulhariam qualquer cidadão em qualquer parte do mundo. Exemplo disso é o trabalho produzido pelo Olodum, em pleno Centro Histórico da cidade, que por meio da cultura ressignificou aquele espaço, assim como mudou a vida de muitos dos seus moradores.

Segundo o Instituo, no primeiro semestre desse ano, foram registrados “792 tiroteios com 759 vítimas no primeiro semestre de 2023 em toda Salvador e região metropolitana.” “Uma média de 132 tiroteios por mês e aproximadamente quatro por dia”. Convenhamos, é muito tiroteio para qualquer cidade desse país. Esses números expressam de maneira clara que está se repetindo em Salvador o mesmo erro que foi cometido no Rio de Janeiro. A adoção do confronto como método de enfrentamento da violência. Esse método leva inevitavelmente ao aumento da violência. Não deu certo lá nem está dando certo aqui.

Outra evidência forte do equívoco dessa política é o número de vítimas de “balas perdidas”. O Instituto indica que “30 pessoas foram atingidas por bala perdida entre janeiro e junho de 2023”, sendo que nove delas morreram. Esses números representam um aumento de 43% de pessoas baleadas, comparando com o ano passado. Repito, é muito inocente pagando a conta desse confronto. E se o número de inocentes vitimados é tão elevado, algo precisa ser feito. Até porque mesmo as nações em guerra formal, quando o número de inocentes mortos é muito alto, são adotadas providências e protocolos para que tais fatos sejam evitados.

O assunto é grave e deve ser do interesse de todos/as. São estudantes, trabalhadores, idosos e crianças que tem sido mortos nessa guerra insana. É preciso portanto, que os órgãos de segurança do Estado, da Prefeitura, a sociedade civil e principalmente a justiça que em última instância é quem legitima e dá guarida as versões apresentadas para tão alto grau de letalidade, encontrem uma solução urgente. Salvador precisa de uma política de segurança que tenha como objetivo principal a preservação da vida, além da redução dos confrontos letais, do fim das balas perdidas e claro a punição dos criminosos que estimulam ou produzem a violência, sejam eles de que origem forem.

Toca a zabumba eu a terra é nossa!

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