A força feminina e a consciência negra
Saiu na Raça 204
por FERNANDO COSTA | fotos MAÍSA BITTENCOURT
SÃO 5H30 DE UMA MANHA ABAFADA DE PRIMAVERA. AINDA ESTÁ ESCURO NO BAIRRO DE PERDIZES, NA ZONA OESTE DE SAO PAULO, QUANDO KEITH THAMMY, 27 ANOS, ACORDA COM TODA ENERGIA PARA MAIS UM DIA INTENSO.
ELA TOMA BANHO, SE TROCA E PEGA O ÔNIBUS EM DIREÇÃO AO CENTRO DA CIDADE. JÁ ESTÁ CLARO QUANDO CHEGA AO TRABALHO. PERSONAL TRAINER, KEITH DÁ AULAS DE PILATES. A PRIMEIRA ACONTECE ÀS 7H30 E, SÓ DEPOIS DA SEGUNDA AULA, ÀS 9H, QUE ACONTECE EM UM SINDICATO, ELA DA UMA PAUSA PARA COMER UM PAO DE QUEIJO. AO MEIO DIA A AULA ACONTECE EM UMA ESCOLA DE DANÇA E, ÀS 14H, ELA CHEGA EM UM AMBIENTE TOTALMENTE DIFERENTE PARA TRABALHAR EM SUA OUTRA PROFISSÃO: MODELO.
“Minha carreira como modelo começou da forma mais inesperada. Sempre fui chamada, mas nunca tive interesse. Eu tinha vários bloqueios, só usava roupa larga e nem sabia que existia maquiagem.
Saia? Nem pensar.Mas tudo mudou quando resolvi cortar o meu cabelo alisado e passei pela transição capilar. Parece que a Keith Thammy que não se reconhecia e não se aceitava, morreu. Comecei a pensar diferente, fui chamada por agências e hoje faço inúmeros trabalhos pela agência Tess Models. Pela primeira vez, em 27 anos de vida, estou realmente amando que sou e o que faço”.
Keith não sabe, mas é ali, no estúdio da agência, que sua história vai se cruzar com outras histórias de mulheres fortes. Histórias de mulheres negras que decidiram transformar o seu destino e, ajudar a elevar a autoestima de muitas outras, com trabalho e dedicação, como conta a empresária e criadora do Salão de Beleza Preta Brasileira, Léia Abadia.
“Minha mudança aconteceu quando estava fazendo curso de idioma na cidade de Auckland, na Nova Zelândia.
Por lá, trabalhei em um salão de beleza que me deu muitas oportunidades e, quando terminei o curso, voltei ao Brasil decidida a batalhar pelo meu projeto, que era criar um salão de beleza com foco na beleza da mulher negra”, relata, Léia, que hoje possui três unidades do salão e vinte e dois colaboradores.
“O meu objetivo era abrir um salão no qual a mulher negra se sentisse livre para falar sobre seus cabelos e ter profissionais com condições técnicas e formação adequada para oferecer serviços apropriados para esse público. Propomos beleza negra e estudamos beleza negra. Isso tornou-se nossa missão. Hoje temos clientes crespas, cacheadas e lisas, com químicas e com tranças. O Preta Brasileira é hoje a diversidade”.
Segundo dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD) do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), na comparação entre 2003 e 2013, que são os dados mais recentes, houve crescimento de 10% no número de donos de negócios no País, passando de 21,4 milhões para 23,5 milhões de pessoas. Neste mesmo intervalo de tempo, a quantidade dos que declaravam pretos e pardos cresceu 24%, mudando de 9,5 milhões para 11,8 milhões de pessoas. Com relação ao gênero, 31% dos fonos de negócios no Brasil são mulheres e 69% são homens. Entre as mulheres, 29% do total são pretas ou pardas.
Nesse cenário aparece a empresária e designer de turbantes, Michelle Fernandes, da Boutique de Krioula, marca que nasceu em 2012.
“Eu estava insatisfeita há algum tempo no trabalho e queria muito empreender em algo que fortalecesse minha autoestima e valorizasse a cultura Afro-brasileira. Eu já usava turbantes e via o interesse das pessoas ao meu redor, comprei os meus primeiros tecidos e criei a página no Facebook. A inspiração da marca é, com certeza, a mulher negra afro-brasileira, fora dos padrões. Seja ela alta, baixa, gorda ou magra. Cada produto é criado para que essa mulher se sinta valorizada e se veja em cada peça que adquirir”.
Outra negra que engrossa a estatística da PNAD é a empresária
Ignez Bacelar, da Makida Moda Afro, que percebeu a ascensão da população negra como um todo e decidiu criar a sua marca.
“A Makida busca dar autoestima, identidade e representatividade às mulheres negras. Iniciamos com foco no ambiente corporativo, com roupas que têm tecidos importados da Africa. Temos linhas style, moda praia e fitness. Mais do que uma mudança estética, a marca propõe orgulho através do conhecimento sobre a nossa história. Os modelos têm nome de rainhas africanas e, quando a cliente entra no site e clica na imagem da peça, ela conhece a história dessas rainhas”
Ignez, enfatiza a importância de ser uma empreendedora negra.
“Acredito que empreender esteja nas veias das pessoas negras, sobretudo, de mulheres negras que em meio às dificuldades encontram um meio de sobrevivência. Empreender foi a melhor escolha que fiz em todos os sentidos e, fazer um trabalho especialmente voltado para a mulher negra, enche meu coração de alegria”.
E foi pensando em mostrar a força dessas mulheres que no mês da Consciência Negra nós fizemos esse editorial em parceria com a agência de modelos Tess Models. E para te instigar, te provocar, mostrar que você, mulher, negra, é capaz. Você pode tudo que quiser. Elas conseguiram. Você também consegue.
TURBANTE: BOUTIQUE DE KRIOULA,
BLAZER E CAMISETA: MAKIDA MODA AFRO,
SAIA: YAYÁ TERESA
BOLSA: CATARINA MINA,
TÊNIS: CONVERSE,
BRINCO: ELEONORA HSIUNG,
ANEL: OJIRE MODA AFRO,
PULSEIRA E COLAR: LEILA GARCIA ACESSÓRIOS.
CRÉDITOS:
STYLIST: ANA PAULA FERNANDES (@ANAPAULADKS )
PRODUÇÃO DE MODA: IRAÊ CUETO (@IRAECUETO), BEATRIZ MATOS (@BIAMORGAADO), CAROLINA LIMA (@CAROL.LIMAH_), ANA GABRIELA BARROS ( @GABIGABYRIBEIRO), ALINE SANTANA (@ALINELORENA_SANTANA) MAQUIAGEM: ISABELLE FREITAS (@_BELLEFREITAS) FOTO: MAISA BITTENCOURT (@MAI.PHT) TRATAMENTO DE IMAGEM: THAMIRIS STANO (@THAMIRISCSTANO )
MODELOS: AGÊNCIA DE MODELOS TESS MODELS (WWW.TESSMODELS.COM.BR) PRODUÇÃO EXECUTIVA: PAULO HENRIQUE ALBUQUERQUE (@PAULOYBRASIL) E CLÁUDIA ZANONI (@CLAU_ZANONI1 )/YBRASIL
COORDENAÇÃO GERAL: FELIPE MONTEIRO (@LIPPE_MONTEIRO)