A história do Ilê Aiyê
Saiba mais sobre a história do bloco afro mais antigo do mundo
TEXTO: Redação | FOTOS: Secretaria de Turismo/Setur | Adaptação web: David Pereira
É impossível não se deixar levar pelos batuques e alegrias de um dos mais belos blocos de carnaval deste país. O Ilê Aiyê, ou simplesmente Ilê, é conhecido no Brasil e no mundo como o mais antigo bloco afro do carnaval da cidade de Salvador (BA) e, com três mil associados, já foi tombado como patrimônio da cultura baiana, um marco no processo de reafricanização do carnaval do estado.
Veja a história do Ilê Aiyê
Criado em novembro de 1974, o Ilê Ayê – em tradução livre, Mundo Negro – foi fundado por jovens do bairro da Liberdade, formado majoritariamente por negros. Imersos no mundo da cultura negra tradicional baiana dos candomblés e sambas, os fundadores se inspiraram na “onda soul” que atravessou o país empolgando a juventude negra no final dos anos 70 e nas lutas globais de emancipação racial. Esse movimento musical foi responsável pela revolução no carnaval baiano com ritmos essencialmente africanos, favorecendo o reconhecimento de uma identidade peculiar baiana, marcadamente negra.
A proposta era ousada: formar um bloco só com negros. Obviamente a ideia desagradou a muitos de uma Bahia essencialmente racista, principalmente a imprensa e a elite branca. De acordo com o atual presidente do Ilê, o bloco surgiu dentro do Ilê Axé Jitolu, “com as bênçãos da Yalorixá Hilda Jitolu, com a intenção de mudar o paradigma do carnaval de Salvador”. Ao longo dos seus 40 anos, abordou vários assuntos ligados à temática negra, muitas vezes ausente currículos dos escolares do Brasil. Assim, de 1976 a 1988 todos os temas do Ilê contaram parte da história do continente negro, como o Watusi, em 1976; Zimbábue, em 1981; Angola, na comemoração dos seus 10 anos, em 1984 e Senegal, em 1988.
De 40 anos para cá, a luta do Ilê nas ruas de Salvador foi além da folia e se tornou a preservação, valorização e expansão da cultura afro-brasileira. É um dos espetáculos que mais emocionam quem vai ao Carnaval de Salvador, com apresentações quase sempre impecáveis em sua riqueza plástica e sonora. As formas expressadas na evolução dos movimentos de renascimento negro-africano, negro-americano ou afro-americano são traduzidas para um contexto específico da realidade baiana, sem perder de vista a relação de identificação entre todos “os negros que se querem negros” em qualquer parte do mundo, ressaltando sempre o caráter da origem ancestral, de um passado comum que os irmana.Curiosidade: Na sua primeira apresentação, no carnaval de 1975, o Ilê Aiyê apresentou a música “Que Bloco é Esse”, de Paulinho Camafeu.
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