A imprensa é branca e masculina no Brasil
Os dados do “Perfil Racial da imprensa brasileira”, divulgados na semana passada, revelam que a imprensa, conhecida como o quarto poder, é branca e masculina no Brasil
Jornalistas&Cia, Portal dos Jornalistas, Instituto CORDA e I’MAX, lançaram no final do mês de novembro estudo sobre o perfil racial da imprensa brasileira, que atesta que ela é branca e masculina no Brasil. O documento inédito, “Perfil Racial da Imprensa Brasileira”, buscou com os resultados, “contribuir para que o jornalismo possa caminhar de forma mais ágil em direção à diversidade e à inclusão”.
Os pesquisadores queriam saber qual é o perfil racial da imprensa brasileira, se a imprensa é majoritariamente branca e dirigida por pessoas brancas e em que proporção e principalmente, qual o impacto desse perfil para a produção jornalística nacional.
Como era de se esperar, os dados confirmaram aquilo que as comissões de jornalistas pela equidade racial, conhecidas como Cojira, espalhadas por muitos sindicatos dos jornalistas em todo o país já denunciavam: a imprensa é branca e masculina e que os profissionais negros, convivem, infelizmente, de forma persistente com o racismo.
Dados revelam que a imprensa é branca e masculina no Brasil
Mais da metade dos entrevistados, 57% identificaram a presença do racismo durante suas trajetórias profissionais e 98% observaram maior dificuldade para o desenvolvimento da carreira em relação aos profissionais negros, segundo o documento.
O Perfil mostra que a discriminação agravada é presente e observada por 85% das entrevistadas, jornalistas negras. “[…] misoginia e racismo, assédio, identificar a mulher como incapaz ou inapta e discriminação no tratamento profissional são alguns dos problemas enfrentados”.
A combinação raça/cor, gênero, região e cargo, expõe ainda mais as iniquidades. A maioria dos profissionais está na região Sudeste (56,50%), depois Sul (18,70%), Nordeste (12,60%), Centro-Oeste (9,40%) e Norte com 2,80%). Pessoas do gênero masculino representam 63% da amostra, feminino 36,60% e outro (0,40%).
Na região com maior número de jornalistas, Sudeste, 77,35% são pessoas brancas e 20,35% são pessoas negras (pretas e pardas). O último Censo indicava que as regiões Norte e Nordeste tinham proporção maior de pessoas negras, contudo, parece que isso não se reflete nas redações e em nenhuma outra região do país.
A proporção de pessoas negras nas regiões não se concretiza nas redações e quando se discute cargos e progressão na carreira, o estudo demonstra o quanto o racismo estrutural atua como um impeditivo para a presença de pessoas negras na imprensa e, sobretudo, em um ideal de narrativas e visões que elas poderiam trazer, se estivesse presentes e com poder de decisão.
As pessoas negras, representam 8,9,8% dos cargos de diretor de redação ou conteúdo, enquanto as pessoas brancas são 17,2%. Já nos cargos operacionais, como o de repórter, as pessoas negras são 39,5%, enquanto as brancas são 26,5%.
O mais alarmante, na minha opinião, é a influência da questão étnico-racial para a escolha de pautas e fontes. O estudo indica que a questão étnico-racial tem peso nesse processo de seleção de pautas (61%) e de fontes (57%).
A velha falácia de que somos todos humanos, ou de que não existe racismo, parece que ‘cai por terra’, com esse estudo e demonstra ainda mais a importância da imprensa negra, presente no Brasil desde 1833, como registra o livro, “Imprensa negra no Brasil do século XIX”.
Link para pesquisa na íntegra: https://static.poder360.com.br/2021/11/pesquisa-perfil-racial-da-imprensa-17-nov-2021.pdf
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