A palavra como arma

Conheça a história de Thereza Santos, uma guerreira que tinha a palavra como arma

 

Texto: Oswaldo Faustino| Foto: Arquivo Pessoal | Adaptação Web Sara Loup

 

Thereza Santos | Foto: Arquivo pessoal

Thereza Santos | Foto: Arquivo pessoal

A grande arma de Thereza sempre foi a mais eficaz de todas. Aquela que tanto serve para destruir, como para construir: a palavra. E ela a dominava muitíssimo bem. Muitas vezes aos berros com aquela voz que o tempo e os cigarros foram deixando cada vez mais rouca a metralhar de palavrões e impondo suas ideias.

Carioca, seu primeiro berro foi ouvido na então capital federal, em 1930, no mesmo ano em que um golpe de estado levou o gaúcho Getúlio Vargas ao poder para, em seguida, implantar sua ditadura. Quinze anos depois, Thereza estreava no cinema, no filme O Cortiço, de Luiz de Barros. Depois de quatro anos, lá estava ela, também, em Orfeu Negro, de Marcel Camus, o único filme brasileiro a conquistar o Oscar de melhor filme estrangeiro.

Thereza escreveu e dirigiu, em 1973, com o intelectual Eduardo Oliveira, a peça E agora… falamos nós, que estreou no teatro do Masp, com um elenco exclusivamente de atores e atrizes negros. Quando o personagem era caucasiano, surgia no palco com a face pintada de branco, numa referência ao Black face norte-americano. Aqueles anos de chumbo levaram muitos de nossos intelectuais ao exílio. Alguns foram para a União Soviética e para a Europa; outros para o Chile de Allende ou paraa Cuba de Fidel.

Libertada, após uma detenção por questões ideológicas, em 1977, preferiu partir para a África, nos conturbados períodos de guerrilhas no pós-libertação de Guiné-Bissau e Cabo Verde. Depois, mudou-se para Angola e atuou nas áreas de educação e cultura, ao lado de seu amigo José Eduardo dos Santos, que, desde 1979,é presidente daquele país. Na volta ao Brasil, dirigiu vários espetáculos, entre eles, o musical Ongira, Grito Africano, de Estevão Maya Maya e Antônio de Pádua.

O grande palco para Thereza Santos, porém, era a passarela dos cordões e escolas de samba. Mangueirense, em sua mudança para São Paulo, criou e desenvolveu enredos, sempre baseados na história e na cultura afro-brasileiras para várias agremiações, principalmente a Camisa Verde e Branco e a Unidos do Peruche. Nos tempos em que o carnaval não era exclusividade de Rede Globo, seus comentários contundentes tornaram-se a marca registrada das transmissões dos desfiles, pela Rede Bandeirantes e pelas TVs Gazeta e Cultura.

Era brigadora por natureza. Organizou o Coletivo de Mulheres Negras e, inconformada com a ausência de negras no Conselho Estadual da Condição Feminina, infernizou tanto o governo que foi nomeada conselheira. Por suas atividades nas escolas de samba e em seu grupo Negro, Arte e Cultura, o ator e dramaturgo Gian francesco Guarnieri, então secretário da Cultura da cidade de São Paulo, a convidou para assessorá-lo no desenvolvimento de políticas culturais paran ossa gente. Dali, ela seguiu para a esfera estadual.

Thereza não sabia fingir. É o que se percebe em sua autobiografia Malunga Thereza Santos,  A Históriada Vida de uma Guerreira, publicada em 2008, pela Editora da UFSCar. Não faltaram homenagens, ao longo de sua vida, como o Prêmio Espelho D’água, do Projeto Oxum Rio Ijexá de Mãe Iva d’Oxum, que recebeu em 30 de novembro de 2012, menos de 20 dias antes de seguir para o Orum.

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