A solidão da mulher indesejada na casa mais desejada do Brasil

Em noite de festa no Big Brother Brasil, Natália chorou depois que Lucas beijou Eslovênia e ameaçou sair do programa

Por Carla Akotirene

Carla Akotirene é assistente social, mestra e doutoranda em estudos feministas pela Universidade Federal da Bahia. Autora do livro “O que é interseccionalidade?”, pela Coleção Feminismos Plurais, coordenada por Djamila Ribeiro,  e “Ó Paí Prezada! Racismo e sexismo tomando bonde nas penitenciárias femininas de Salvador”, ambos publicados pela Editora Jandaíra. É colunista da Revista Vogue e idealizadora da Opará Saberes, primeiro curso de extensão voltado a capacitacão de candidaturas negras ao mestrado e doutorado em universidades públicas.

Logo cedo, vejo circular nas redes sociais um vídeo da participante Natália acompanhado do tema “Solidão da Mulher Negra”, no qual Ela chora em virtude de não ser escolhida como par desse alguém desejado…

A verdade é que, para nós, a solidão se tornou um posicionamento político. Parcelas significativas estão fora do mercado afetivo devido a cor, a bagagem acadêmica, a corporeidade, o vitiligo ou porque recusam relações aonde estejam escondidas, produzindo sofrimento psíquico para outras mulheres que veem o salário do companheiro servir só para pagar hotel clandestino, ao invés de quitar a escola do menino, e isto, sim, favorece a feminizacão da pobreza, bem como a pauperizacão das mulheres negras.

Falar de preterimento não se resume ao fato de ter alguém ou não para transar. O prazer é um espírito ereto, aprendemos com a filósofa Sobofun Somé.

Amor é construirmos um projeto juntos, juntas, juntes.

Estar sozinha é não receber visita na prisão, é ter que sabotar a vida intelectual para corresponder ao calor de um relacionamento, é apanhar hoje e receber flores amanhã.

Ser sozinha é não ser escolhida para o amor!!! E ter de encher a sua própria quartinha.

De boas, não precisamos fortalecer o debate sobre solidão e preterimento de mulheres negras a partir das festas do BBB.

Respeitemos a pauta política e a produção intelectual sobre o assunto.

A pensadora bell hooks quem alerta sobre mulheres que dão sexo na expectativa de receber afeto.
Eu já confiei tanto na minha bunda na hora de segurar alguém, mas não deu certo.

Então, gente, se algumas de nós achamos que ter uma genitália para tocar responde ao tema, por outro lado, há uma parcela de nós que também crê que a solidão não tem nada a ver com fodas, sexo três vezes por semana, um olá no ‘zap’.

Tem buraco em nós que pau nenhum pode preencher. Cada qual tem sua história, cada qual conhece as necessidades do corpo individual/coletivo e de como as expectativas sexo-amorosas podem ser supridas.

Um beijo afetuoso.

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