A vida como ela é…

Por: Zulu Araújo

Em seu último artigo, intitulado “Ditaduras Moleculares”, publicado na Folha de São Paulo, (31/07), o Professor e Jornalista Muniz Sodré, tratou de forma magistral sobre as novas formas de violência e exclusão a que estão submetidas às comunidades que habitam as zonas periféricas das grandes cidades brasileiras. O texto transita e reflete acerca do modelo de governança “tráfico/miliciano” que está em plena vigência nessas áreas, sob os olhares complacentes, quando não coniventes, tanto da sociedade quanto do aparelho de Estado e que atinge em cheio a comunidade negra e em particular a juventude negra.

Como diria Gil em sua também magistral composição “Gilberto’s”, artigos como este – “Aparece a cada cem anos um e a cada vinte e cinco um aprendiz”. Neste artigo, Muniz Sodré discorre sobre a gravidade da situação e chama a atenção, em particular da esquerda sobre o tema: “É sintoma grave da falência do Estado moderno, entendido como o complexo institucional que faz funcionar o governo de uma sociedade territorialmente definida.” afirma Sodré. A existência de modelos paralelos de governança com tal grau de exclusão, violência e letalidade, sem que haja enfrentamento político claro, visto que, as grandes vítimas desse sistema, são aqueles que já estão excluídos pelo sistema formal no qual o Estado brasileiro está assentado (pretos e pobres), tem provocado danos irreversíveis a eles e a sociedade como um todo.

Diante do quadro de acirramento que estamos vivendo no campo da política, onde o estímulo a violência tem sido abertamente defendido, o alerta é mais do que pertinente e deve preocupar a todos e todas que estão no front da luta democrática e cidadã em nosso país, mais ainda, quando altas autoridades afirmam publicamente de que “clube de tiro” é mais importante que uma biblioteca. Não nos enganemos, pois a tradução dessa afirmação, no popular, é que a força bruta vale mais do que o argumento e de que a ignorância vale mais do que o conhecimento. É a barbárie sendo institucionalizada no nosso fazer diário e tomando conta da sociedade, além de produzir bestas feras que desejam reproduzir esse modelo de governança do tráfico e da milícia como se normais o fossem.

Portanto, não se trata mais de defender e conquistar a política de cotas negros/as, a inclusão no mercado de trabalho ou combater a intolerância religiosa e o racismo por meio de políticas públicas inclusivas e reparatórias. Isso continua valendo. Mas,  é fundamental que agreguemos a nossa luta e à luta da sociedade como um todo, a necessidade urgente dos democratas e progressistas,  recuperarem o papel do estado na formulação e execução da política de segurança no país, além de deixar de fingir que essa realidade existe ou que não temos nada a ver com isso.

Tráfico e milícia não são obras de ficção, e o seu fortalecimento no âmbito das comunidades pretas e pobres do país, é resultado da inépcia com que os governos democráticos têm tratado essa grave questão.

Nesse sentido, emerge como nosso principal desafio no campo social, de um lado desmantelar essa rede criminosa que está gerindo as nossas periferias (favelas, mocambos e comunidades) e de outro assegurar a cidadania plena para quem mais precisa, no caso a juventude negra.

Toca a zabumba que a terra é nossa!

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