Afrika Bambaataa e a origem do hip-hop
Confira trechos da entrevista com o DJ Afrika Bambaataa sobre a origem do hip-hop
TEXTO: Daniel Keny | FOTO: Divulgação | Adaptação web: David Pereira
O americano Afrika Bambaataa está para o hip hop como James Brown está para o soul. Considerado uma lenda, o DJ viaja o mundo para difundir não só a música, mas a cultura por trás do estilo.
Veja trechos da entrevista com Afrika Bambaataa sobre a origem do hip-hop:
Quando você era um garoto no Bronx, o hip hop sequer existia. O que te motivou a unir um conjunto de atividades relacionadas às artes, que mais tarde resultaria na cultura hip hop?
Naquele tempo, na metade da década de 1970, as pessoas estavam cansadas da disco music. A indústria fonográfica estava tentando vender a discoteca de qualquer forma, mas as pessoas já não se interessavam mais pelo estilo como nos início dos anos 70. Foi nesse momento que o hip hop veio forte. O funk pesado de James Brown, Sly & The Family Stone e Parliament perdeu espaço nas rádios, que cada vez tocavam mais discoteca e músicas dançantes ao invés do verdadeiro soul. O hip hop foi uma resposta rebelde a disco music.
O hip hop nasceu como uma nova onda de tendências e comportamento ou evoluiu para movimento cultural depois?
Inicialmente, o hip hop surgiu como resultado de outros acontecimentos musicais como o Reggae Dance Hall e o Calypso, que estavam sendo feitos na Jamaica. A poesia de Last Poets, Watts Prophets, Gil Scott Heroin, Gary Byrd, Sly Stone, James Brown, Jocko, Murray The K, Cousin Brucie, Eddie O Jay, Muhammad Ali, Malcolm X, Mother Goose, entre outros, já tinha algum tipo de rap em suas canções, mas foi comigo, com o DJ Kool Herc e o Grandmaster Flash que o hip hop começou a se tornar o que ele é hoje. Ele começou nas comunidades negras, que envolve toda a família dos latinos também.
Como você define o hip hop?
O hip hop é uma extensão do funk e da soul music, e cada pessoa que nomeei ajudou a formá-lo. Existem quatro entidades que defino como a essência do hip hop: os b-boys e as b-girls,os DJs, os MCs e o grafite. Ao unir meu conhecimento com a Zulu Nation, conseguimos nomear o hip hop como cultura. Ninguém disse que o movimento que iniciamos se chamava hip hop, ninguém o reconheceu como um movimento mundial. Mas ele nasceu no Bronx, em Nova Iorque, embora o rap seja tão antigo quanto o ser humano.
Você acredita que o hip hop tem o poder de inspirar as pessoas? E qual é o papel social do hip hop?
Eu gostaria de ver as pessoas prestarem atenção à ciência do hip hop. A parte de conhecimento, o lado político. Eu sempre digo que o hip hop vai se tornar universal, assim como nós nos tornamos uma união galáctica. Mas as pessoas adoram pegar certos rappers como exemplo para demonizar o hip hop, dizendo: “Olhem o que eles fazem em suas próprias vidas”. Hip hop é conhecimento, cultura, entendimento, autoconhecimento, conhecimento sobre os outros.
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