Afroempreendedorismo em foco no mercado financeiro Americano
Executivo negro de maior prestígio no JP Morgan Chase, Sekou Kaalund é diretor administrativo da organização que figura entre os cinco maiores instituições financeiras do planeta. O jovem de origem de classe média, trabalhou com grandes clientes de bancos de investimento, incluindo gestores de ativos, investimentos, hedge e fundos de pensão. Kaalund ingressou no JP Morgan como Diretor Gerente e Chefe Global de Vendas de Serviços de Private Equity e Real Estate Fund Services. Ele, que já ocupou cargos de liderança no Citibank, atua em vários conselhos, incluindo a Fundação de Parques da Cidade de Nova York, a Escola de Políticas Públicas da Duke University, o Programa de Políticas Públicas e Assuntos Internacionais e o Conselho de Profissionais Urbanos, também é membro do Círculo de Líderes Jovens de Milken e da Sociedade de Bolsistas do Instituto Aspen. Kaalund obteve o título de Mestre em Políticas Públicas pela Duke University, onde foi bolsista do Woodrow Wilson e bacharel pelo Hampden-Sydney College. Em sua primeira visita ao Brasil, o executivo falou com exclusividade para a revista RAÇA sobre os planos estratégicos do banco com foco no afroempreendedorismo.
Qual a sua avaliação desta primeira visita ao Brasil?
Embora tenha viajado muito para outros países, ainda não havia conhecido o Brasil e a experiência tem sido ótima. Sinto uma energia muito forte aqui. Posso ter demorado, mas acho que conheci na hora certa.
Quais suas impressões sobre a questão racial?
Ouvi algumas pessoas e já tinha muitas informações sobre o país, uma vez que o banco já atua aqui há muitos anos. Acho que nossa grande diferença está no quesito educação. Se você pensar que no século 19 já havia universidades negras com foco em preparar negros para o mercado de trabalho, e vocês aqui, só recentemente, criaram uma única universidade, há pouco mais de 10 anos, verá que as diferenças são grandes.
Sobretudo na renda… mas devemos levar em consideração o fato de vocês estarem no centro do capitalismo mundial.
Concordo com você, porém, a segregação nos Estados Unidos nos impôs grandes limites. Só quebramos barreiras significativas após Marthin Luther King e a luta pelos direitos civis. Depois daquele período houve uma movimentação grande em muitas áreas e em um curto espaço de tempo tivemos um desenvolvimento econômico muito grande. Atualmente o PIB dos negros nos Estados Unidos é maior que o PIB da Rússia, ou seja, o dinheiro que gira somente entre os afro-americanos é maior que uma das maiores potências do mundo. E isso tem que ser olhado com muita atenção por quem queira entender como gira a economia.
Por aqui não tivemos a segregação formal. O não fechamento em torno de uma agenda comum em áreas como segurança, desenvolvimento econômico e educação, no qual vocês tiveram que fechar por conta da segregação, tornou-nos muito mais frágeis e enfraquecidos nessas agendas, você não acha?
Nunca havia pensado nisso, mas você tem certa razão, o que me remete à primeira resposta quando falei das centenárias universidades negras. Tivemos um problema que talvez se assemelha ao que você está dizendo, quando na metade do século passado eliminamos as escolas separadas e negros começaram a frequentar as mesmas escolas dos brancos. Muitos professores negros ficaram desempregados, pois não eram admitidos nas escolas dos brancos e muitos negros também tiveram sua educação comprometida nessas escolas, uma vez que muitos brancos não gostavam de ensinar aos negros.
Como o JP Morgan tem trabalhado com o empreendedorismo afro nos Estados Unidos?
Ter um maior número de pessoas negras consumindo e produzindo, incluídos na economia, é o foco principal do JP Morgan Chase. Com essa missão que é inerente ao banco, lançamos o Advancing Black Pathways – uma iniciativa que se baseia em nossos esforços existentes para ajudar os negros e negras a traçarem caminhos mais fortes em direção ao sucesso econômico e ao empoderamento.
Explique melhor.
Temos uma oportunidade única de reunir nossos recursos para ajudar a enfrentar alguns dos desafios persistentes, que negros e negras sofrem em nossa sociedade por razões históricas de desigualdades. Todos merecemos oportunidades de participar do crescimento econômico. É por isso que estamos fornecendo mais apoio aos negros na busca pelo sucesso educacional, profissional, comercial e financeiro pessoal.
Qual ação específica o banco tem realizado nessa direção?
No início deste ano anunciamos Advancing Black Pathways (ABP) para aproveitar os esforços existentes da empresa, ajudando os negros americanos a alcançarem o sucesso econômico. Como parte disso, a empresa está expandindo seu modelo Entrepreneurs of Color Fund para Greater Washington, DC, fornecendo treinamento em capital e negócios para empresários negros e de outras minorias na região.
“Fazer a economia funcionar para mais pessoas não é apenas uma obrigação moral – é um imperativo comercial”, tem dito com muita frequência nosso presidente e CEO Jamie Dimon.
No Brasil, empreender não é tarefa fácil. Juros altos, falta de crédito e, se for negro, ainda terá que lidar com o preconceito. Como é essa realidade em seu país?
As oportunidades econômicas estão fora de alcance para muitos americanos negros também nos Estados Unidos, e isso é um impeditivo no sentido de ajudá-los nas carreiras, construir riqueza, desenvolver negócios e participar dos benefícios de uma economia em crescimento.
Sabemos que, quando trouxermos todo o poder da nossa empresa para nossas filiais, clientes e comunidades, poderemos ter um impacto positivo.
Ainda considero um pouco genérica esta ação. Destaque algo específico de grande impacto na comunidade negra.
Vou falar da educação, algo que foi fundamental e libertador para mim. Melhorar a educação e a disponibilidade para os estudantes negros é fundamental para mover a economia. Nós no banco temos o compromisso de contratar mais de 4.000 estudantes negros nos próximos cinco anos em cargos, incluindo estágios e aprendizados em faculdades e escolas secundárias. Além disso, a empresa expandirá parcerias com faculdades e universidades historicamente negras e outras organizações sem fins lucrativos para recrutar talentos e apoiar o desenvolvimento profissional e a saúde financeira dos estudantes negros e isso está muito lincado com outro projeto que é o de fortalecer o bem-estar financeiro das famílias negras. Com insights exclusivos sobre as necessidades financeiras dos americanos, o JP Morgan Chase e a ABP desenvolverão parcerias estratégicas para melhorar a saúde financeira dos negros americanos, inclusive em suas filiais, ajudando a gerar economias, melhorando o crédito, fornecendo aconselhamento aos compradores e ajudando pequenos proprietários e empresas a acessarem capital. Para começar, a empresa expandirá o Entrepreneurs of Color Fund para a região da Grande Washington.
O senhor tem realizado muitas coisas em prol dos afro-americanos no banco. O que mais lhe enche de orgulho dessas ações?
O que mais me enche de orgulho é quando visito lugares pobres por onde passei e encontro jovens que estão trabalhando, estudando e dizendo: “Quando crescer quero ser como você”. Servir de inspiração para mudanças de paradigmas, não tem preço.