Afropunk bahia celebra a cultura negra com Alcione, Djonga, Iza e Victória Monet

Dois dias de celebração da negritude e da diversidade. Pelo terceiro ano seguido o Afropunk Bahia marcou o Mês da Consciência Negra em Salvador. Em 2023, nomes como Iza, Alcione, Djonga, Carlinhos Brown, Gaby Amarantos e a americana Victoria Monét foram ao Parque de Exposições nos dias 18 e 19 de novembro.

Foram  mais de 20 horas de música na capital baiana, com diversos ritmos —samba, pop, rap, funk, axé— e mensagens de inclusão, como se via em pôsteres espalhados pelo recinto com os dizeres: “Sem sexismo, sem racismo, sem capacitismo, sem etarismo, sem homofobia, sem lesbofobia, sem transfobia, sem gordofobia, sem ódio”.

Cores do look, estilo e beleza do público ajudaram a compor o cenário para receber os artistas em dois palcos instalados no festival.  Agô e Gira, nomeados a partir do iorubá e o quimbundo, que pedem licença para abrir novos caminhos e servem como um espaço para o encontro de gerações, explica a organização.

Além da alegria, momentos de muita emoção e de desabafos de artistas podem ser destacados.

“Quando eu lancei meu primeiro disco, lá em 2017, eles falaram que o bagulho era mais ou menos, que era ruim, que era fraco. ‘Heresia’ o nome do disco. Já estou no sétimo [disco]”, afirmou o rapper mineiro Djonga no sábado (18). “Saí de palco para cantar para 10 pessoas, para estar aqui, para cantar para essa rapazeada maravilhosa, um dos maiores festivais de música preta, se não o maior.”

Ele evocou a tradicional roda com o público para gritar o verso “Fogo nos racistas”, da música “Olho de Tigre”, e ainda chamou sua avó, Dona Maria, ao palco. Ela, muito terna e simpática, acenou para o público, fez gestos de bênção para a plateia e abençoou seu neto de joelhos. Tudo isso durante a faixa “Bença”.

Vencedora do Grammy Latino, Gaby Amarantos esteve na programação no início do sábado e celebrou sua conquista de prêmio e protestou. A paraense levou o troféu na categoria melhor álbum de música de raízes em língua portuguesa com o disco “TecnoShow”.

“Aqui eu posso falar, porque aqui eu sei que tem pessoas que entendem. É uma indústria racista pra caralho. É uma indústria que não gosta de mulheres no poder. Principalmente mulheres pretas. Tem muita dificuldade. Mas a gente fura a bolha, a gente hackeia o sistema. A gente faz música da Amazônia. Vem lá de Belém do Pará. Ganha a porra do Grammy. Com a própria empresa”, disse.

No camarim, em entrevista exclusiva à RAÇA, Iza falou sobre a emoção de estar no Afropunk pela primeira vez. “Eu nunca tinha ido a um Afropunk, sempre foi meu sonho, é um festival muito importante, muito icônico”, disse. “E eu sempre tive vontade de ir nem só pra cantar, mas como plateia mesmo”.

No primeiro dia, foi como espectadora. “Eu sou muito fã de Victoria Monét, mas muito mesmo. Eu consegui assistir [ao show], esse show é muito perfeitinho”. Já no domingo, apresentou o show de seu novo disco, o “Afrodhit”, sem deixar hits como “Pesadão” e “Ginga”.

“Olhem pro lado. Se cair uma bomba aqui hoje, [o Brasil] acabou”, disse Iza sobre o palco em referência à plateia majoritariamente negra e a importância desta população para o país.

Iza ainda recebeu a britânica Leigh-Anne e interrompeu seu show para avisar o público sobre um ponto de incêndio em um trailer de alimentação, que teve início por volta das 22h30. A área foi isolada rapidamente pela organização, o fogo foi controlado e ninguém se feriu.

No mesmo dia, Alcione exaltou o samba sentada em seu trono, com beleza e simpatia, ao lado da bateria da Mangueira. Marrom celebra 50 anos de carreira em 2023 e falou sobre essa festa na Bahia. “Você fazer alguma em Salvador tem sempre um tom especial”.

“Do Brooklyn à Bahia, celebraremos nossa comunidade em suas diferentes configurações com o mesmo sentimento: resgatar as trocas e a afetividade que nos foram roubadas” foi o lema desta edição.

Trocas essas que puderam ser vistas ainda em shows de Olodum, Tasha & Tracie com Tati Quebra Barraco, Majur que ainda recebeu Gaby Amarantos, BaianaSystem ao lado de Patche Di Rima & Noite Dia, os rappers KayBlack e Caverinha.

O Afropunk escolheu a capital baiana como seu ponto focal no Brasil devido à sua reputação como a cidade mais negra fora da África e debutou em solo nacional em 2021, após adiamento em 2020 por causa da pandemia de Covid.

A primeira edição reuniu artistas como Mano Brown, Margareth Menezes e Urias. Já em 2022, Emicida e Ludmilla foram alguns dos destaques.

Desde 2005, quando surgiu nos EUA, o festival tem ocorrido em várias cidades, incluindo Atlanta (Estados Unidos), Paris (França), Londres (Inglaterra) e Joanesburgo (África do Sul).

A revista Raça, que completou 27 anos em setembro, firmou acordo com o Afropunk Bahia e foi parceiro de mídia oficial do evento em 2023. “É um festival gigante e reconhecido mundialmente como o principal evento de música e cultura negra do mundo”, afirma Mauricio Pestana, CEO da publicação.

“Muito importante e simbólico esse anúncio de parceria, já que somos o mais tradicional veículo negro do Brasil. Esperamos que a parceria possa se manter e até crescer no futuro”, diz.

Texto: Amon Borges

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