AfroSaúde: conexão de pacientes a profissionais negros
Valorizar e dar visibilidade aos profissionais negros da área de saúde e conectá-los a pacientes que buscam representatividade e atendimento mais qualificado, são alguns dos objetivos da startup AfroSaúde, que já conta com 1.060 profissionais pré-cadastrados.
Idealizada pelo dentista Arthur Lima e pelo jornalista Igor Leonardo, a plataforma tem como um dos pilares o combate ao racismo e à desigualdade no mercado de trabalho. Isso porque, embora a população negra seja a maioria no Brasil, ela ainda ocupa uma pequena parte dos cargos de gestão nas grandes empresas. Na área de saúde, os números são ainda mais preocupantes. De acordo com os dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), pretos e pardos chegam a cerca de 55% da população. Porém, quando se comparam os dados de brasileiros brancos à população negra, o cenário que emerge é de dois países completamente distintos.
Além da questão da representatividade na área da Saúde, a plataforma visa combater a desigualdade no mercado de trabalho. Ainda conforme dados do IBGE, os negros recebem R$ 1.200 a menos que um profissional branco com a mesma qualificação. Além disso, a população branca ganha, em média, 72,5% mais do que pretos e pardos. Dados mostram também que os negros são menos de 18% dos médicos no Brasil. Segundo o Conselho Regional de Medicina de São Paulo (Cremesp) apenas 0,9% dos novos médicos do estado é negro.
Cofundador da AfroSaúde, o jornalista Igor Leonardo reforça a importância da plataforma como ação afirmativa que ajudará a eliminar desigualdades historicamente acumuladas tanto em relação aos profissionais da saúde, quanto com pacientes, que buscam atendimento mais qualificado e menos racista. Ele acrescenta que a plataforma pretende promover feiras de saúde com atendimentos, formação de profissionais e rodas de diálogo para discutir temas relacionados à Política Nacional de Saúde Integral da População Negra, instituída em 2009, pelo Governo Federal.
Combate ao Coronavírus
Durante o cenário de pandemia do novo coronavírus que atingiu o Brasil e o mundo, a equipe da AfroSaúde está se mobilizou para criar uma rede de apoio para atender moradores que vivem nas periferias de Salvador.
A ideia foi de que profissionais de saúde pudesse atender, por telefone e internet, a população que mora nesses locais, promovendo um atendimento gratuito e multidisciplinar, com médicos, psicólogos, farmacêuticos, nutricionistas, enfermeiros e assistentes sociais.
A AfroSaúde foi selecionada em um edital de financiamento coletivo. A cada doação feita, o valor é triplicado. Teoricamente, sabe-se que o vírus não elege raça, gênero e classe social. A propagação ocorre pelo ar, entre as superfícies ou de um corpo para outro. Mas a maneira com que as pessoas interagem direciona a disseminação da doença – e é aí que os marcadores sociais de desigualdade aparecem.