Baianas criam capacete de ciclismo para cabelo afro
Depois de três anos de desenvolvimento, um grupo de baianas liderado pela empreendedora Lívia Suarez está prestes a lançar um capacete de ciclismo desenvolvido para cabelos afro.
Ao longo da produção, o ‘Fortheblacks’ venceu o prêmio ‘Promovendo a Mobilidade por Bicicleta’, do banco Itaú, e Lívia apresentou o capacete em um evento de ciclismo Dublin, na Irlanda.
Segundo ela, o ‘Fortheblacks’ é o primeiro produto do ramo pensado para pessoas com cabelos crespos, blacks, trançados e cacheados. A lista de pré-cadastro do capacete já conta com mais de duas mil pessoas interessadas em adquirir após o início da comercialização.
A empreendedora conta que a ideia de criar o produto surgiu da sua própria experiência como ciclista. Ao se aventurar por grupos do esporte em Salvador, Lívia percebeu que os itens de ciclismo não atendiam as pessoas parecidas com ela, as mulheres negras.
“Os produtos relacionados ao ciclismo são criados para pessoas brancas, principalmente homens brancos. Percebemos que mulheres negras não usavam o capacete porque não cabia nelas”, conta a empreendedora.
Para desenvolver o item de segurança para ciclistas com cabelo afro, o grupo contou com o patrocínio do banco Itaú e as parcerias com o Instituto Federal da Bahia (IFBA), o Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae) e a Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp).
Além disso, a equipe que desenvolve o projeto é composta, exclusivamente, por pessoas negras.
O ‘Fortheblacks’
Segundo Lívia, uma das principais preocupações no desenvolvimento do projeto era encontrar o diâmetro ideal do capacete. O produto deveria proteger a ciclista, sem machucar ou amassar o cabelo.
As medidas ideais de 28,3 x 21 x 17,8 cm foram encontradas depois de muita pesquisa e testes de segurança. A engenheira Tamires Alves, que participou da parte de modelagem mecânica do produto, explica que os capacetes não têm dimensões regulares e o comprimento, largura e altura são as dimensões máximas, considerando as extremidades externas.
Para se ter noção da diferença, um capacete comum tem as medidas de 15 x 20 x 20 cm, segundo a descrição de um produto com o mesma finalidade, disponível em um site de venda online.
Mas essa não é a única inovação do produto. O Fortheblacks também possui uma pequena abertura na parte superior, para evidenciar os cabelos e auxiliar na ventilação. Além disso, ele tem uma viseira magnética, que pode ser acoplada ao capacete e proteger a ciclista do sol.
O produto conta ainda com esponjas internas confortáveis e um design afro futurista bem diferente do convencional.
Segundo a engenheira Lívia, todos os elementos do capacete são importantes para garantir a identidade da proposta.
“O volume interno, a suavidade na interseção entre os esboços, o formato e as dimensões das cavidades… Tudo tem um porquê. O nosso trabalho foi manter todos os elementos importantes para a identidade do modelo e realizar os ajustes de engenharia necessários”
Tamires ainda ressalta a importância da criação do produto e a alegria em ter uma parcela de participação no seu desenvolvimento.
“Enquanto mulher preta e de cabelo crespo, me encantei pela proposta. Apesar de não ser ciclista, entendo o quanto ainda é difícil encontrar uma grande variedade de acessórios adequados para o meu tipo de cabelo”, explica.
No momento, o capacete está em fase final de fabricação e deve começar a ser vendido em setembro deste ano. No futuro, Lívia deseja que os capacetes possam ter três tamanhos diferentes para se adequar ainda mais aos tamanhos e formas dos cabelos crespos.
Lívia também ressalta que os capacetes Fortheblacks só devem ser utilizados para o ciclismo, porque os testes de segurança foram feitos exclusivamente para a prática desta atividade física.
Ciclismo negro em Salvador
Lívia Suarez também é uma das idealizadoras do projeto La Frida, que desde 2015 fomenta o ciclismo negro em Salvador. A iniciativa ensina mulheres e crianças a andarem de bicicleta, além de promover cursos de mecânica, palestras e rodas de conversa.
O La Frida também realiza aluguel de bicicletas e tours pela cidade. A iniciativa venceu o Prêmio de Mobilidade do banco Itaú por três anos consecutivos, em 2016, 2017 e 2018.
“A ideia principal é que tenham mais mulheres pretas usando a bike como meio de transporte, lazer, esporte”, afirma Lívia.
No site do projeto é possível conferir os próximos eventos, como a oficina de bioconstrução, que está com vagas abertas.
FONTE: G1
Veja o vídeo da empreendedora: