BBB 21 – Tudo demais é sobra.

Estarrecimento, esse é o sentimento que está pairando na cabeça de milhões de brasileiros que estão acompanhando o BBB 21, da Rede Globo. O que está ocorrendo na famosa casa é realmente assustador. A manipulação aberta dos sentimentos mais sórdidos e repugnantes que um ser humano possui ficou escancarada e está incomodando a todos/as.

Embora não seja novidade o apelo a bizarrice e a degradação humana nas televisões brasileiras, onde suas mazelas são oferecidas nos horários nobres como banquete para o deleite dos expectadores sadomasoquistas, o que está acontecendo no Big Brother Brasil atual, parece estar fora de controle.  Personagens escolhidos a dedo e que estão conscientemente a serviço daquilo que há de mais torpe nas relações humanas estão fazendo os expectadores corarem de vergonha. Em verdade, está sobrando canalhice, intolerância, mau-caratismo e discriminação de tal modo que tem deixado a todos/as estupefatos.

Temos que estar atentos aos seus desdobramentos, pois está sendo usada uma pauta séria e sensível a todos os brasileiros que é a questão racial como gatilho promocional e os estragos podem ser gigantescos. Claro que estamos indignados em ver jovens negros/as tripudiarem seus iguais, esculacharem com as religiões de matriz africana, fazerem pouco da luta de Zumbi dos Palmares e desqualificarem ícones da luta antirracista brasileira. Sabemos que eles não são inocentes, até porque, todos ali estão fissurados mesmos é por ganharem o prêmio de um milhão e meio de reais. Mas, ainda assim a questão não se resume a isto.

Por isto mesmo, não basta “cancelar” ou fazer campanha para que Lumena, Karol, Projota e Negro Di sejam eliminados e depois ir dormir com a honra lavada e o sentimento de dever cumprido. Se nos contentarmos com isso, estaremos fazendo apenas parte do jogo. E o jogo além de ser bruto, é sujo e quem tem muito a perder é a comunidade negra.

Queiramos ou não, muitos de nós teremos que responder indagações desconcertantes sobre as falas dos participantes. E muitos dos textos que estão na boca desses jovens não são tão distintos daquilo que tem sido difundido por uma parcela do movimento negro brasileiro na busca de um atalho para a promoção da igualdade racial. Afinal, qual a diferença entre um Nego Di chamar o outro de “sujinho” e uma intelectual chamar a outra de “garota clarinha” senão o lugar de fala, para ficar apenas nessa perigosa discussão sobre o “colorismo” no Brasil.

A nossa decana Sueli Carneiro tem feito alertas importantes neste sentido. Segundo ela – “nossa geração teve que se esforçar muito pra conseguir esse capital político extraordinário, constituindo a categoria negro como resultado da somatória de pretos e pardos”, e por isto mesmo “o colorismo é um tiro no pé”. E segue com uma clareza cristalina – “A disputa de opor os mais claros aos mais escuros, nos faz retornar aquele ponto onde se estabeleceu nossa critica a esse modelo de partição de nossa identidade”. E para quem não sabe se formos radicalizar nesse quesito, transformaremos uma luta de 54% da população para uma minoria de apenas 6% (que é o percentual de pretos no Brasil), alerta Sueli.

Ainda segundo ela, “se insistirmos nesse diapasão, eu quero saber o que a gente faz com esses corpos que estão no IML, que são na sua maioria pardos”. Ou seja, para além da crítica às diatribes que esses jovens estão verbalizando no programa é necessário que entendamos que nós também temos responsabilidades com essa temática e que devemos estar atentos para contribuir para que a questão racial não seja entendida pela maioria da população como instrumento de recalque pessoal ou vindita.

Toca a zabumba que a terra é nossa!

 

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Mestre em Cultura e Sociedade pela Ufba. Ex-presidente da Fundação Palmares, atualmente é presidente da Fundação Pedro Calmon - Secretaria de Cultura do Estado da Bahia.

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