Black Soul, a Alma Preta real e contemporânea

Curadoria de Denise Camargo, mostra aberta ao público até 3 de junho em São Paulo; de Salvador pelas lentes de Glauber Bassi

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Glauber Bassi, fotógrafo de moda, está no Brasil para apresentar seu novo trabalho, Black Soul, na definição dele, realizar o ensaio foi um mergulho em intensidades: “não se trata apenas de fotografia de moda, mas sim de uma homenagem a alma preta de Salvador”.

A exposição foi concebida por Carlos Cruz, modelo internacional conhecido na cena underground da capital baiana como “rei da favela”, que também assina a direção artística do projeto idealizado com o objetivo de dar destaque e oportunidades aos seus pares, abrindo, com o fotógrafo, um espaço de debate e diálogo para as questões latentes do racismo estrutural e da diversidade na capital baiana. No texto curatorial do catálogo da exposição, Denise Camargo traça uma linha, um casamento entre o desejo de Carlos de dar um lugar a toda a sua gente pobre, gorda, homossexual, travesti, agênero, ancestral, preta, com a fotografia de Glauber Bassi.

Assim, Black Soul valoriza modelos sub-representados na cultura da moda brasileira e inclui alguns elementos afros potentes na cena, como a palha da costa e o grafismo étnico, ilustrados na foto que abre o release, onde as cores e a tradição de esconder a face dos reis africanos reinterpretam simbologias. As fotos foram produzidas no final de 2021, em pontos icônicos da cidade como o Pelourinho, Santo Antônio e Gamboa, com modelos vindos de projetos sociais, além do corpo de dança do Grupo Bahia Axé que traz a força e beleza da cultura do candomblé enraizada no povo soteropolitano

Glauber Bassi

Fotógrafo de moda, paulista nascido em Caçapava, SP, cresceu em um ambiente fotográfico. Filho de um fotógrafo de casamentos, descobriu ainda na infância a produção de imagens e suas técnicas analógicas e, fascinado com este universo, iniciou precocemente sua profissionalização aos 14 anos de idade, atuando junto de seu pai. Anos mais tarde, já com o olhar totalmente direcionado para a Fotografia, estudou Publicidade e Propaganda na UNITAU, Universidade de Taubaté, SP, caminho que o levou para o exterior em busca de aprimoramento onde concluiu sua formação em Fotografia de Moda no prestigiado Istituto Europeo di Design em Milão, cidade onde está radicado há 25 anos.
Após alguns estágios com fotógrafos locais conceituados, montou seu próprio estúdio iniciando uma sólida carreira internacional, assinando campanhas para empresas hype como a Geox, marca líder no mercado internacional de calçados lifestyle e o estúdio vienense de design contemporâneo Sheyn, entre outros. Trabalhando no circuito Milão, Paris, Londres e Nova York, atende as maiores publicações editoriais do fashion world, como a alemã Volant Magazine, a Vanity Teen NYC e as referenciais Vogue e Harper’s Bazaar. 

Sobre Almas Pretas

Antes de me contarem bem a que vieram, as pessoas destas imagens me encantaram pela existência e por certa cumplicidade: eu, mulher também preta, estava diante de iguais. Poderia reconhecer-me ali.

Nas minhas mãos elas disseram: olha, nós vamos viver nas páginas de um livro, nós vamos nos instalar nas paredes de uma exposição porque nós podemos. Faça o melhor que puder por nós.

Vinham atravessadas, é bem verdade, pelo preconceito, pela falta de recursos, pelas dores de seus antepassados e pelas suas próprias dores cotidianas, especialmente neste Brasil pós-golpe de 2016.

O projeto, idealizado pelo modelo soteropolitano Carlos Cruz, casou o desejo de dar um lugar à toda a sua gente pobre, gorda, homossexual, travesti, agênero, ancestral, preta, com a fotografia de Glauber Bassi.

Ao encontrar-se com ela, sua gente troca a sub-representação, à qual a desfaçatez do racismo estrutural a condena neste País, pela liberdade de ser tão somente gente na Salvador da Bahia, e viver a expressão de seus corpos dissidentes onde quer que estejam. Podem. Chegam até aqui reconhecidas por Carlos e iluminadas pelas lentes de Glauber.

É assim que o homem de terno colorido, sentado em seu trono, reconquista um espaço. Poderoso. Digno. Cabe lembrar que não convém fitar os olhos do rei: seu rosto está coberto por um artefato de palha. A palha da costa, que se usa como proteção nos rituais religiosos, serve a outro como coroa – uma cabeça precisa sempre de proteção.

Muitas frases simbólicas são ditas pelas pessoas destas imagens e na relação com os objetos que os e as acercam. São pessoas que não precisam esconder a felicidade arrebatadora brindando às águas de Iemanjá, a mãe de todos os homens; os rostos que revelam a Baía de Todos os Santos em sua face ancestral; os atabaques que fazem o chamado; o samba que roda a saia das baianas; o balaio, repositório de oferendas.

Há também um certo flerte com o que, desavisadamente, poderia ser interpretado como exótico. Afinal, Glauber é um homem branco adentrando a mítica negra. Nem sempre essa é uma travessia sem turbulências. De qualquer modo, seu olhar curioso se conecta, respeitoso, à visualidade das religiões de matriz africana, como o candomblé.

Este trabalho afirma a todo momento quantas oportunidades faltam a esses corpos. Eles, em contrapartida, nos devolvem a força dos pés fincados em seus territórios de resistência política e social e nos convocam a fazer o melhor que pudermos por eles. Esperamos ter feito. Há muito a fazer.

Denise Camargo

Artista visual, curadora, educadora. É doutora em Artes pelo Instituto de Artes/Unicamp e mestre em Ciências da Comunicação pela Escola de Comunicações e Artes/USP. Sua atuação artística abrange a poética das relações, as matrizes ancestrais das diásporas negras, os corpos em territórios de resistência social e política, tendo como linguagens a imagem fotográfica e a escrita e leitura performativas. Esta produção é o vetor para o ensino e para a pesquisa com ênfase em processos de criação artística no Programa de Pós-graduação em Artes Visuais da Universidade de Brasília; para os acompanhamentos artísticos que oferece, e para a gestão cultural no Ateliê Oju, onde gesta projetos socioculturais e curatoriais próprios e para outros artistas. Integrou os júris da World Press Photo Foundation (o Photo Contest 2019 e o júri regional América Latina do Photo Contest 2022). Desde 2021 faz parte da equipe curatorial da bienal BredaPhoto Festival que ocorre na cidade de Breda, Holanda.  

Serviço: Exposição fotográfica BLACK SOUL de Glauber Bassi
Quando:  de 4 de maio a 3 de junho, de segunda a sexta, das 9h30 às 18h30, sábados, das 10h30 às 14, fecha aos domingos.
Local: Galeria Roberto Camasmie
R. Bela Cintra, 1992 – Jardins, São Paulo, capital.
Telefone para informações: 11 3062.5288

Atendimento para a imprensa, assessorias:

·         Magali Martucci: 55 11 9.5982-9018 ·         Flavia e Cris Fusco: 55 11 98121-2114

LUMIÈRE EVENTOS – Produção Cultural

Realização:

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