CENTENÁRIO DE JACKSON DO PANDEIRO – O REI DO RITMO

“Só ponho be-bop no meu samba, quando o Tio Sam pegar no tamborim. Quando ele pegar no pandeiro e no zabumba. Quando ele entender que o samba não é rumba. Aí, eu vou misturar, Miami com Copacabana, Chiclete eu misturo com banana e o meu samba vai ficar assim…”Precisa dizer mais alguma coisa? É só ouvir, para entender porque esse músico, que era preto, pobre e paraibano, portanto, nordestino, continua sendo um dos maiores músicos brasileiros, apesar de lamentavelmente estar quase esquecido.

 

Sim, um músico brasileiro e dos melhores. Um nordestino na acepção da palavra. Daqueles que poderiam ocupar o “hall da fama” de qualquer país que respeitasse o seu povo e sua diversidade, seja ela racial, sexual ou cultural. Nasceu pobre, num estado pobre de uma região pobre – o Nordeste brasileiro. Mas era riquíssimo em talento, generosidade e sabedoria. Este era Jackson do Pandeiro, que celebrará 100 anos de nascimento no dia 31 de agosto de 2019.

 

Nascido e batizado como José Gomes Filho, na cidade de Alagoa Grande, na Paraíba, faleceu em Brasília no dia 10 de julho de 1982, em plena turnê musical por conta da diabetes que lhe acometia há mais de 20 anos. Jackson cantou e dançou tudo que significava ritmo e alegria neste país. Foi cantor e compositor de forró, samba, xote, coco, baião, marchinha de carnaval, quadrilha, arrasta-pé, enfim, tudo aquilo que significasse ritmo brasileiro.

 

Era tão versátil que os críticos musicais mais rigorosos ficavam abismados com a facilidade com que ele cantava essa variedade tão grande de ritmos com tanta graça e qualidade. Aliás, segundo estes críticos ele e Luiz Gonzaga são até hoje os grandes responsáveis pela nacionalização das músicas nordestinas em nosso país. Muitos inclusive, consideravam que Jackson do Pandeiro, era o maior ritmista da história da Música Popular Brasileira. “Na minha opinião existem duas escolas de canto no Brasil: a de João Gilberto e a de Jackson do Pandeiro”, afirmou Gilberto Gil em uma de suas entrevistas.

 

Ao longo de sua carreira tocou de forma magistral a zabumba, o bongô e bateria, antes de se consagrar com o pandeiro, na década de 50 e que lhe acompanhou para o resto da vida. Lançou dezenas de discos, do mesmo modo que compôs e cantou dezenas de sucessos, a exemplo de Sebastiana, Esse jogo não pode ser um a um, O Canto da Ema e a consagrada Chiclete com Banana, que hoje dá nome a uma das bandas mais famosas do Axé Music baiano.

Apesar de ter vendido milhões de discos ao longo de sua carreira e ter tido tanto sucesso quanto qualquer artista do show business mundial, morreu pobre e esquecido, aliás, como ocorre com a maioria dos nossos músicos populares. Não fosse a sensibilidade dos jovens artistas de então (década de setenta) Gilberto Gil, Caetano Veloso e Gal Costa, que regravaram seus grandes sucessos e o resgatou do ostracismo, provavelmente sequer estaria sendo parte dessa homenagem que tão merecidamente a Revista Raça o está prestando.

 

Neste sentido, a celebração do Centenário de Jackson do Pandeiro, é muito mais do que o resgate da obra de um músico talentoso e criativo. Simboliza em verdade, o reconhecimento da vitória da criatividade sobre a adversidade, do talento sobre o preconceito e da generosidade sobre a discriminação. Ou seja, é a vitória da cultura, em particular dos nordestinos sobre esse mundo tão hostil e preconceituoso para quem é originário desse Brasil profundo.

 

Viva Jackson do Pandeiro, Viva a Música Popular Brasileira e Viva o Nordeste!

 

Toca a zabumba que a terra é nossa!

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Mestre em Cultura e Sociedade pela Ufba. Ex-presidente da Fundação Palmares, atualmente é presidente da Fundação Pedro Calmon - Secretaria de Cultura do Estado da Bahia.

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