Centro de Cultura Negra se torna patrimônio da cidade de São Paulo

Jabaquara, bairro da Zona Sul de São Paulo, teve uma importante conquista no dia 08 de junho. O Centro Cultural Jabaquara passou a ser chamado, oficialmente, de “Centro Municipal de Cultura Negra do Jabaquara Mãe Sylvia de Oxalá CCNJ”, graças à lei de autoria do vereador Eduardo Suplicy, de nº 16928, sancionada pelo Prefeito de São Paulo, Bruno Covas.

O local reúne uma parte importante da história. O complexo composto pelo próprio Centro Cultural, pela Biblioteca Paulo Duarte que é referência em temática negra, pela “Casa do Sítio da Ressaca”, patrimônio histórico de 300 anos, pertencente ao Museu da Cidade de São Paulo. O Sítio da Ressaca foi usado como casa de passagem de muitos negros escravizados, que ao fugir dos seus donos, passavam pela capital paulistana, rumo ao litoral do estado de São Paulo, onde há registros de existência de alguns quilombos.

Graças aos esforços da Mãe Sylvia, o espaço ainda abrigou o Acervo da Memória e do Viver Afro-Brasileiro, onde se podia encontrar um dos maiores acervos de livros e artefatos voltados à comunidade negra no Brasil, com muitas raridades. Boa parte desse material foi transferido para o terreiro de Mãe Sylvia. E por um parque de 11.000 m² de área verde, é considerado o equipamento cultural mais importante da região por seu potencial cultural, histórico, turístico, educacional, econômico e de lazer, e por oferecer ampla variedade de atividades gratuitas que atendem a mais de 5 mil pessoas mensalmente.

Administrado pela Prefeitura Regional do Jabaquara, o espaço cultural é aberto ao público diariamente e oferece aulas de teatro, cursos e oficinas de artes e programação diversificada para todas as idades. Aos finais de semana é comum encontrar famílias fazendo piquenique nos gramados, que ficam bem ensolarados à tarde.

O espaço abrigou, no início da década de 1990, o Acervo da Memória e do Viver Afro-Brasileiro “Caio Egydio de Souza Aranha”, idealizado por Mãe Sylvia de Oxalá, que reuniu objetos referentes à presença dos negros na cidade de São Paulo. Tais objetos se encontram hoje, em grande parte, sob a guarda do Axé Ilê Obá, primeiro espaço de Candomblé tombado pelo Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico, Arqueológico, Artístico e Turístico (CONDEPHAAT) como patrimônio histórico, cultural e espaço de preservação das tradições ligadas à orixalidade.

Inaugurado em 12 de julho de 1980, com a proposta de ser um núcleo de atividades culturais integradas, que abrigava uma casa de cultura, um teatro e duas bibliotecas (unificadas em outubro de 2005), o projeto arquitetônico do prédio do CCN Jabaquara, arrojado e moderno para sua época, serviu como projeto piloto e modelo para o Centro Cultural São Paulo. Todo o complexo é rodeado por uma ampla área verde, com cerca de 4.000 m², que funciona como um parque para a população local.

Serviço:

Centro Cultural Jabaquara
Endereço: Rua Arsênio Tavolieri, 45, Vila Parque Jabaquara, 04321-030, São Paulo, SP – CEP: 04321-030
Horário de funcionamento: segunda e quinta-feira das 8h às 17h e terça, quarta e sexta-feira das 8h às 22h. Sábado e domingo das 09:00 às 18h.

Quem foi Mãe Sylvia

Uma das principais defensoras da cultura africana na cidade de São Paulo, Mãe Sylvia de Oxalá era paulistana, nascida no Largo da Liberdade em 15 de julho de 1938, em uma família que tinha uma situação diferenciada para negros na época. Ela e seus três irmãos tiveram a educação e a cultura como armas. Formou-se em Enfermagem, especializando-se em Pediatria e Saúde Pública. Até os 33 anos, trabalhou na área de saúde, mas seis meses após a morte de sua mãe, Sylvia sofreu um acidente vascular cerebral (AVC) que a estimulou a mudar de profissão e procurar o tio, o pai de santo Caio de Xangô. Foi aí que se aproximou do candomblé.

Passou a cursar Administração de Empresas, especializando-se em Economia e se doutorando em Comércio Exterior e Relações Internacionais. Paralelamente, cumpriu as obrigações para se tornar uma filha de santo. Bem-sucedida, abriu cinco escritórios de exportação e importação no Brasil, e três no continente africano.

Com a morte de Pai Caio de Xangô, em 1985, descobriu que tinha sido eleita e preparada por ele, sem saber, para assumir seu lugar no Instituto Axé Ilê Oba. Mãe Menininha do Gantois lhe disse: “você agora vai fazer suas obrigações para ser ialorixá, vai deixar a casa onde mora para viver na casa de candomblé, não vai mais trabalhar para fora e vai se dedicar plena e exclusivamente para a orixalidade. Se precisar de qualquer coisa nessa vida, não se preocupe: ela vai chegar até você”.

Deixou a casa no nobre bairro paulistano Alto de Pinheiros e todos os bens materiais pra trás, para viver na Vila Fachini, região humilde do distrito de Jabaquara. Em 1990, sua casa, Axé Ilê Obá, ”A Força da Casa do Rei”, tornou-se o primeiro terreiro a ser tombado como patrimônio histórico da cidade de São Paulo. Com o falecimento de Mãe Sylvia, em agosto de 2014, sua filha, Yá Paula de Yansã, passou a comandar o Axé Ilê Obá.

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