Cientista brasileiro é selecionado para estudar o coronavírus
Natural de Duque de Caxias, na Baixada Fluminense, Rômulo Neris, de 27 anos, está entre os sete pesquisadores brasileiros selecionados para estudar a Covid-19, com uma bolsa da Dimensions Sciences, uma organização fundada nos Estados Unidos pela brasileira Marcia Fournier, executiva na área de biotecnologia.
Em breve dará início as pesquisas sobre o coronavírus, ajudando a processar testes moleculares que estão sendo feitos no Centro de Triagem Diagnóstica para covid-19 criado pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Para ele, um dos obstáculos nesse trabalho é a grande defasagem de testes no Brasil.
“Os casos estão sendo subnotificados, já não conseguimos nem mais estimar muito o quão subnotificada é a situação no país”.
Graduado em ciências biológicas e mestre em microbiologia pela UFRJ, ele vai se debruçar, durante três meses, sobre o vírus em laboratório.
“Vou estudar a genética do vírus e suas mutações, mas também alterações observadas no indivíduo durante a infecção, como metabólicas e pulmonares. A ideia é entender como o vírus infecta células de diferentes tecidos e por que há quadros tão diversos e às vezes tão graves, em alguns, sem nenhum tipo de comorbidade”.
Doutorando em imunologia e inflamação na UFRJ, com várias experiências nos Estados Unidos, onde foi bolsista do programa Fullbright, financiado pelo governo americano, Neris tem a impressão que o pós-graduando brasileiro é encarado como um “eterno estudante”.
“O Brasil ainda lida, principalmente na ciência, de um jeito muito amador com os pesquisadores. Quem faz mestrado, doutorado, quem está produzindo em laboratório, é visto como um eterno estudante, e isso não é demérito aos estudantes, mas fazer ciência também é uma profissão”, disse ele à BBC News Brasil.
Uma outra percepção que mudou na experiência nos Estados Unidos foi na questão racial. Hoje se identificando como preto, Neris reconhece que este foi um reconhecimento seu recente, depois de muitos anos se identificando como pardo.
“Percebi lá que é um assunto tratado mais abertamente do que no Brasil. Aqui, usamos outros termos, ‘moreninho’, ‘pardo’, mas no meu caso. eu de fato me considero preto, depois de ter me inteirado de debates a respeito. Lá (nos EUA), vi muitas pessoas debatendo sobre representatividade negra em diversos espaços, inclusive muitas pessoas que possivelmente não seriam consideradas negras pelo senso comum no Brasil. Exatamente porque a gente tende a fazer mais essa separação, essa subseparação de cor.”