Clareamento de pele, a moda agora é ser branco?
Colunista: Zulu Araújo
O tão propalado “orgulho negro” que norteou boa parte do movimento negro da diáspora africana, pode estar em risco. É cada vez mais popular no continente africano, assim como nos Estados Unidos, o uso da técnica de clareamento de pele entre pessoas de pele negra.
Para a maioria dos consumidores que fazem uso desse procedimento, isso não passa de uma questão estética. Para estudiosos, essa é mais uma consequência do colonialismo e do racismo ocidental que tenta impor o padrão de beleza euro-descendente ao mundo.
No ocidente o caso mais famoso que conhecemos é o de Michael Jackson, o negro norte americano, mais famoso de todos os tempos, que segundo a lenda, usou essa técnica na busca de um novo padrão de beleza ou para a negação da sua condição de negro, fato que provoca intermináveis discussões até os dias atuais.
Esse tema veio à baila recentemente, após ser descoberto, pelos empresários do ramo de cosméticos, que tal procedimento tem movimentado bilhões de dólares, em particular no continente africano, especialmente em países como a África do Sul, Nigéria, Senegal, Togo), mas também nos Estados Unidos e no continente asiático.
Pretos e amarelos querem ficar brancos?
Por conta dessa onda em busca do branqueamento, tem havido um esforço gigantesco da Organização Mundial de Saúde, (OMS) para regular esse mercado e alertar os consumidores dos riscos à saúde que esse procedimento pode causar, até porque, eles são graves e muitas vezes irreversíveis. Segundo a OMS, há uma “elevada” presença de mercúrio nos produtos de branqueamento da pele.
Outro dado interessante, dessa “moda”, embora não seja uma novidade, é a discussão racial que o uso dessa técnica está provocando entre ativistas do movimento negro em várias partes do mundo, mas sobretudo nos países africanos.
“No universo da moda na África, quanto mais clara for a sua pele, mais te veem como alguém bonito. Com sorte, a indústria está mudando e começando a apreciar peles mais escuras”, denuncia Ajuma Nasenyana, modelo queniana.
Há dez anos atrás, a maior estrela do mundo da moda queniano Vera Sidika, anunciou que estava fazendo o branqueamento da pele, que lhe custou 125 mil euros (quase 400 mil reais) para se libertar das amarras da cor da pele.
Conforme ela explicou há uma hipocrisia no continente africano, quanto a preferência dos homens: “Fico surpresa com a hipocrisia com a qual os homens fingem que gostam das mulheres negras quando na verdade sempre vão atrás das brancas”, ou seja, a discussão sobre “palmitagem” também se faz presente entre as mulheres africanas.
Aprofundando um pouco mais o assunto, descobri que o clareamento de pele é um negócio que faz parte da indústria dos cosméticos e que é avaliado em trilhões de reais em nível global, portanto, enriquecendo muita gente. Além disso, está mexendo com a saúde de milhões de pessoas mundo afora, particularmente na África, onde não há qualquer regulação para essa indústria.
Segundo relatório da OMS na Nigéria, por exemplo, 77% das mulheres – mais de 60 milhões de pessoas – utilizam com frequência produtos de clareamento da pele.
Para a professora de Ciência Política da Universidade Central da Carolina do Norte (EUA), esse fenômeno é fruto da compreensão de que; “O branqueamento da pele é uma forma de acessar o poder e os privilégios associados aos brancos”.
Enfim, lição importante desse processo: racismo é muito mais profundo do que possamos imaginar, por isso mesmo, a cor da pele não pode ser a única referência.
Toca a zabumba que a terra é nossa!